Dois meses após se demitir da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) de Lisboa Ocidental, que liderava desde 2019, por ter sido constituído arguido num inquérito sobre a construção do Hospital CUF Tejo, em Alcântara, Manuel Salgado viu uma incursão da Polícia Judiciária (PJ) lançar um manto de suspeita sobre os seus 12 anos de gestão do urbanismo da capital. Com 28 mandados de busca, a Operação Olissipus incidiu nas obras mais emblemáticas, e polémicas, que tiveram luz verde do arquiteto e urbanista, que está à beira de completar 77 anos. O homem que ficou conhecido por Dono de Lisboa Toda – numa alusão não só à forma como concentrou o poder ao longo dos seus quase quatro mandatos mas também pela ligação ao banqueiro Ricardo Salgado, de quem é primo – não é o único visado na investigação. Porém, as dez buscas domiciliárias e 18 não domiciliárias acabaram por ser o culminar de muitas queixas e acusações de cidadãos e partidos que se foram acumulando contra alguém que os amigos classificam de obstinado e desbloqueador de processos.
Talvez à exceção da controvérsia que envolveu a construção do Centro Cultural de Belém (CCB), cuja autoria foi partilhada com Vittorio Gregotti, e não contando com a expulsão da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, durante alguns meses de 1964, por alegada ameaça ao regime, nunca Salgado se vira envolvido em polémicas, até ao dia em que entrou para a vereação de António Costa, com as eleições intercalares em Lisboa, de 2007. Meses antes, o executivo social-democrata de Carmona Rodrigues caíra, devido a investigações que levaram à constituição dos vereadores do Urbanismo e Finanças como arguidos e à nomeação de uma comissão administrativa de transição, liderada por Marina Ferreira.