O fadista tinha dado ontem entrada no hospital com um aneurisma.
A despedida dos palcos foi em 2019, com dois concertos nos Coliseus de Lisboa e do Porto. Na ocasião, Carlos do Carmo sublinhou que era um adeus aos palcos, deixando em aberto outras possibilidades artísticas, como novos álbuns, e anunciou a edição de um novo trabalho, que vaticinou como “aquele que poderá ser o último disco”.
O álbum “E Ainda?” foi lançado no passado dia 27 de novembro e nasceu “da intuição e da certeza de que Carlos do Carmo tinha ainda fados por cantar”, explica a discográfica Universal Music. “Fados que, nalguns casos, nem suspeitavam que pudessem ser fados”.
Neste novo CD, além de Vasco Graça Moura, Carlos do Carmo gravou poemas de Herberto Helder, José Saramago, Sophia de Mello Breyner, Hélia Correia, Júlio Pomar e Jorge Palma. Sophia e Herberto são dois autores estreantes na voz de Carlos do Carmo, que nunca os tinha cantado anteriormente.
Carlos do Carmo recebeu este ano o Prémio Vasco Graça Moura – Cidadania Cultural, que o considerou “individualidade exemplar numa área que Vasco Graça Moura muito prezava e para a qual contribuiu com numerosos poemas”, o fado.
O galardão distinguiu igualmente “o papel fundamental de Carlos do Carmo na divulgação dos maiores poetas portugueses”, o que este álbum comprova.
Filho da fadista Lucília do Carmo (1919-1998) e do livreiro Alfredo Almeida, proprietários da casa de fados O Faia, em Lisboa, onde começou a cantar, até iniciar a carreira artística, em 1964, Carlos do Carmo construiu um repertório que inclui, entre outros poetas, Frederico de Brito, Maria do Rosário Pedreira, José Carlos Ary dos Santos e Júlio Pomar, o artista.
A sua discografia inclui temas como “Por Morrer uma Andorinha”, “Bairro Alto”, “Canoas do Tejo”, “Os Putos”, “Lisboa Menina e Moça”, “Estrela da Tarde”, “Pontas soltas”, “O homem das castanhas” e “Um homem na cidade”, entre outras canções.
Com a canção “Flor de Verde Pinho”, sobre o poema homónimo de Manuel Alegre, representou Portugal no XXI Festival Eurovisão da Canção, em 1976.
Embaixador do fado, Carlos do Carmo atuou no Olympia, em Paris, nas Óperas de Frankfurt e de Wiesbaden, na Alemanha, além do Canecão, no Rio de Janeiro, ou do Savoy, em Helsínquia.
Em 2014 recebeu um Grammy Latino pelo conjunto da obra, e o Prémio Personalidade do Ano/Martha de la Cal, da Associação Imprensa Estrangeira em Portugal.
No ano seguinte recebeu a mais elevada distinção da capital francesa, a Grande Médaille de Vermeil, e, no ano seguinte, o Estado português condecorou-o como o grau de Grande-Oficial da Ordem do Mérito.
No concerto no Coliseu dos Recreios recebeu, em palco, a chave da cidade de Lisboa, uma honra dada habitualmente aos chefes de Estado que visitam Portugal.
com Lusa