“Talvez juntos custe menos.” Pelo menos 118 mil pessoas concordaram com esta quase assunção do humorista Bruno Nogueira, escrita nas redes sociais na 5ª feira, dia 12, para anunciar o regresso aos diretos do Instagram, batizados de Como É que o Bicho Mexe. Um regresso, justificou-se depois, amparado no recolher obrigatório decretado para dois fins de semana, ainda que parcial, em horário e na geografia.
Bruno não mexeu um milímetro no formato que alimentou as noites de confinamento de março a maio e que arregimentou centenas de seguidores: Às onze da noite, mais coisa menos coisa, ouve-se um áudio de um minuto e meio, composto e produzido por Dillaz, enquanto o humorista enche um copo de vinho branco e o saboreia com estalidos de boca. Quando a música assobiada acaba, solta-se a conversa que só terminará pela uma da manhã. Primeiro, é um solo do humorista, que tanto pode descambar para o non sense, com muitos palavrões à mistura, como transformar-se numa reflexão de pendor filosófico. Entretanto, as pessoas juntam-se ao palavreado e vão enchendo o ecrã de emojis e comentários jocosos.
Desde que percebeu a dimensão que estes diretos ganharam, Bruno Nogueira adiciona um pin com o nome de uma associação para a que se podem fazer donativos automáticos – os valores e o número de doações são atualizadas ao minutos (neste fim de semana, as oferendas dirigiram-se à Nariz Vermelho, à Cruz Vermelha e aos Animais de Rua, num total de mais de 20 mil euros recolhidos).
A nova namorada de Markl
O primeiro convidado, chamemos-lhe assim, é sempre Nunoo Markl, que pode terminar a sua intervenção com um desastroso karaoke capaz de afastar uma plateia inteira, coisa que nunca acontece. A notícia da sua nova namorada foi a grande novidade do take II do Bicho – aliás, disse o próprio, ela só existe exatamente por causa destes diretos. Mas isso só entende quem seguiu religiosamente a saga entre março e maio. E não foram poucos. A última emissão, especial, porque foi na rua e no Coliseu e festejou o Natal antes do tempo, teve 170 mil pessoas a seguirem-na. Houve uma equipa de filmagens que acompanhou essa noite e agora vai estrear o documentário O Natal de Maio sobre este fenómeno, a 24 de novembro, na plataforma de streaming da SIC, a Opto.
Desta vez, nas primeiras três emissões da segunda série, nada foi diferente, a não ser as ligações ao estrangeiro, ou melhor ainda, a destinos longínquos: o apresentador João Manzarra mergulhou nas águas quentes das Maldivas ao nascer do dia e a atriz Joana Duarte atendeu a chamada na Austrália. De resto, os suspeitos dos costume – e outros menos suspeitos como o futebolista Nuno Gomes ou ator Romeu Runa – estiveram em direto, de phones nos ouvidos, a partir de suas casas, dos seus sofás ou até de uma casa-de-banho no estrangeiro. Falamos, por exemplo, dos atores Inês Aires Pereira, Jessica Athayde, Albano Jerónimo ou Nuno Lopes, do chefe Ljubomir Stanisic, de Bumba na Fofinha, Beatriz Gosta, Salvador Martinha e da icónica Luísa, a mãe de Bruno Nogueira. Um fartote de galhofa entre amigos.
Muito sexo e alguma seriedade
A conversa descamba muitas vezes para o sexo, é verdade, com pormenores gráficos e palavras bem explícitas, pouco usuais em programas, chamemos-lhe assim, de grandes audiências. Audiências que Bruno Nogueira teima em esconder de si mesmo, ao colar um adesivo no canto superior direito, que é onde aparece a contabilidade de quem entra e sai no direto. Mas nestes telefonemas também vêm à baila temas atuais e sérios, como a crise na restauração, a dificuldades por que passa a cultura, os dispartes dos negacionistas, as experiências de quem é conhecido na rua.
No final deste programa, que conta sempre com cerca de uma centena de milhar de pessoas do outro lado do telefone, há o momento artístico que remata magistralmente a ronda de conversas informais. Filipe Melo é o mestre pianista que, a contraluz, prepara e oferece uma música para embalar os ouvintes, proporcionando-lhes uma noite de sossego – normalmente a canção acaba de ser tocada a desoras. Bruno fica de novo sozinho no ecrã: “É isto malta.”
Para gáudio dos seus seguidores, já prometeu voltar na próxima sexta-feira, dia 20, e no sábado, 21, para ajudar a suportar os dias metidos em casa. No domingo, logo se verá se haverá Bicho. “Não tenho uma visão estratégica deste projeto”, disse o autor, no último direto. “Faço isto por falta de assunto, porque precisava de falar com adultos, depois de deitar as minhas filhas, e também queria beber”, confessou, na primeira vez que falou deste movimento gerado no Instagram, no Jornal da Noite, da SIC, estação onde terá um programa seu, ainda sem grandes contornos definidos. Por enquanto, aguarde-se pelo seu regresso ao pequeno ecrã do telemóvel, já no próximo fim de semana.