Há algum tempo que sabemos que algumas espécies aplicam medidas rigorosas para prevenir a propagação de doenças e que o distanciamento social não é um conceito novo na natureza. Por exemplo, é comum os chimpanzés atacarem e ostracizarem outros da mesma espécie que apresentem sintomas visíveis de doença. Também as abelhas são implacáveis, quando se trata de afastar os doentes. Mas não são os únicos.
Servindo-se dos seus sentidos mais apurados, não faltam na natureza exemplos de animais capazes de detetar doenças na sua comunidade – ainda antes de haver sintomas visíveis – e alterar o seu comportamento para evitar adoecer. Sabemos que sucede o mesmo com as lagostas e também com as rãs-touro americanas: os girinos não só conseguem detetar uma infeção mortal nos seus pares, como evitam propositadamente os que estão doentes.
Um estudo agora publicado na Behavioral Ecology, da Oxford University Press, mostra que os morcegos-vampiros, considerados criaturas muitos sociais, são mesmo exímios em manter a distância quando é preciso, o que os torna os derradeiros especialistas no assunto.
Tal como nós
A espécie em causa desenvolveu-se a partir dos morcegos da fruta há 26 mil anos e os cientistas monitoraram um grupo que vivia dentro de uma árvore oca, equipando-os com minúsculos sensores de proximidade para descobrir como eles interagiam socialmente. Isto depois de os injetarem com uma substância que imita uma infeção bacteriana. Os morcegos que aparentavam doença passaram automaticamente a passar menos tempo com o resto da comunidade, para ajudar a conter a infeção.
E o que tem isto a ver connosco? É mais ou menos consensual que este tipo de morcegos é muito parecido com o ser humano. Ou seja, como nós, possuem vínculos fortes com as suas famílias e não dispensam a proximidade dos amigos. Além disso, dão banho e comida uns aos outros – e quem recusar participar nesta espécie de deve-e-haver acaba por ser excluído.
O principal autor do estudo, Simon Ripperger, chamou-lhe “distanciamento social passivo”, acreditando que aquele comportamento pode ser mais comum no reino animal do que sabemos. “Os sensores deram-nos uma janela nova e surpreendente sobre o comportamento social daqueles morcegos”, disse Ripperger, citado pela BBC.
Nada disso invalidou que, quando doentes, não tivessem escolhido ficar sozinhos a um canto, longe da comunidade – quebrando o isolamento apenas para conseguir comida. Sobressaiu ainda o facto de as mães morcegos, mesmo doentes, não deixarem de cuidar dos filhos, nem estes das mães… E após 48 horas, quando os efeitos da injeção desapareceram completamente, os morcegos voltaram a ser tão sociais quanto antes.