Era uma mulher parca em palavras e, durante muitos anos, manteve-se no pódio das figuras mais difíceis de entrevistar em Portugal, não aceitando qualquer convite. Mas nas últimas semanas tem-se multiplicado em declarações aos jornalistas e está especialmente ativa nas redes sociais, como o Twitter, Facebook e Instagram, usando hashtags como #perseguição e #manipulação.
A primeira entrevista de sempre a um jornal português foi publicada pelo Jornal de Negócios, em março de 2018, mas face às recentes notícias, ganhou especial mediatismo a sua entrevista ao Observador, a 20 de dezembro de 2019 (e depois, em janeiro deste ano, à RTP, Financial Times, Reuters e BBC), quando recusou o rótulo de “mulher mais rica de África” ou de ter sido favorecida pela presidência do seu pai. Garantiu que sempre foi “transparente” nos negócios, acusou o atual governo angolano de ter iniciado uma “caça às bruxas” e disse ter medo de entrar em Angola, onde garante não ter voltado desde 2018 (após a tomada de posse do novo presidente, João Lourenço).
Nos últimos 30 dias publicou 113 tweets, 99 posts no Facebook e 47 mensagens no Instagram – quase tantas publicações como nos 11 meses anteriores – , diferenciando os conteúdos de acordo com a plataforma utilizada.
No Instagram, onde começou o primeiro dia de 2020 a responder a perguntas dos seus seguidores, em direto, devido à notícia do congelamento das suas contas bancárias, tem publicado sobretudo fotografias com citações retiradas da entrevista ao Observador (ver fotogaleria), o que deverá ter sido realizado pela sua equipa de comunicação, mas no Twitter é a empresária que escreve e publica, muitas vezes respondendo às notícias ou acusações de outras figuras públicas (como Ana Gomes, que decidiu processar), sempre num tom mais indignado, seguindo a linha de Donald Trump, por exemplo.
No passado fim de semana, com as notícias reveladas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação, no âmbito do caso “Luanda Leaks”, a presença nas redes sociais intensificou-se.
Isabel dos Santos possui um site em nome próprio (com conteúdos em português, francês e inglês), no Facebook tem 326 mil seguidores, no Instagram 193 mil e no Twitter 84 mil. No YouTube conta apenas com 389 subscritores e o vídeo mais popular foi visto por pouco mais de 3 mil pessoas: uma intervenção no Forum Económico Internacional de São Petersburgo, em 2019.
A sua equipa abriu também uma página no Medium e há dois meses foi criado um perfil para a empresária no Linkedin, onde é apresentada como “uma líder africana, empresária e empreendedora”, que foi “recentemente nomeada uma das líderes femininas mais incríveis do mundo, tendo-se tornado um símbolo de empoderamento de género para as mulheres”.
Nas redes têm-se também multiplicado os comentários de contestação e de apoio à empresária, quase sempre dentro da mínima civilidade, embora os seus perfis sejam terreno fértil para mensagens de ódio. São também, claramente, locais de passagem para frequentadores de outros planetas (onde não existem notícias), e que veem Isabel dos Santos como uma qualquer influencer: “Gosto demais desse cabelo”.
Além dos processos judiciais que enfrenta, é preciso não esquecer que na Grande Entrevista, na RTP, além de negar as acusações da Procuradoria-Geral angolana, Isabel dos Santos admitiu a possibilidade de se candidatar à Presidência da República do seu país em 2022. “Não podemos utilizar a corrupção, ou a suposta luta contra a corrupção, de forma seletiva para neutralizar o que achamos que podem ser futuros candidatos políticos”, disse, considerando que “o que se está a fazer hoje em Angola são processos políticos, processos seletivos, e que têm a ver com a luta de poder dentro do próprio MPLA“.
Por isso, disse ser “possível” candidatar-se à Presidência, no futuro: “Farei tudo o que tiver de fazer para defender e prestar os serviços ao meu país.”
O caminho para o sucesso em eleições, como bem sabemos, pode fechar-se ou abrir-se consoante o que os jornalistas escrevem, o que se discute nas redes sociais e a imagem construída no espaço mediático. É essa guerra que Isabel dos Santos parece agora apostada em ganhar.