Investigadores da Universidade da Califórnia, em San Diego, levaram a cabo uma série de experiências relacionadas com perceção visual e neurologia e concluiram que as nossas emoções alteram mesmo a forma como vemos um rosto neutro.
Em 2005, cientistas holandeses submeteram Mona Lisa a um software de reconhecimento emocional e o algoritmo concluiu que a retratada na famosa pintura tem uma expressão 83% feliz, 9% nauseada, 6% receosa e 2% zangada e feliz ao mesmo tempo.
Mas o “algoritmo” humano é outro, mais complexo e em constante mutação, concluiu este novo estudo, uma vez que depende de emoções, mesmo quando não nos apercebemos delas.
“Temos uma vida de experiências e usamos essas experiências para predizer o que vamos experienciar a seguir”, explica Erika Siegel, a princial autora da investigação. “A informação que chega é, na verdade, usada apenas para corrigir as previsões se estas se revelarem erradas.”
Na prática, concluiu a equipa liderada por Siegel, a forma como percebemos um rosto novo – como feliz, triste, amigável ou neutro – tem muito mais a ver com os nossos sentimentos nesse momento do que com a expressão da outra pessoa.
Uma partida da visão
Todos os seres humanos têm um olho dominante e outro não dominante e mais passivo. Se cada um receber uma informação diferente, ficamos com a informação passada pelo olho dominante, mas o que o outro captou não é deitado fora e passa para o domínio do subconsciente.
Com esta premissa, os investigadores mostraram a 43 pessoas dois conjuntos de “flashes” de imagens em simultâneo, de forma a que o olho dominante visse e registasse expressões neutras, enquanto o outro perceberia, subconscientemente, rostos sorridentes, com trejeitos ou neutros. Depois da exibição destas imagens, os participantes foram chamados a identificar as caras que tinham visto – quando o olho não dominante tinha visto um rosto feliz, maior era a probabilidade de acreditar que a face neutra que tinham realmente visto estava a sorrir.
Voltando a Mona Lisa, se vir a obra “depois de ter tido uma discussão aos gritos com o seu marido” vai ver de forma diferente”, explica Siegel. “Mas se está a passar o melhor tempo da sua vida no Louvre, vai ver o sorriso enigmático”, conclui.