Para encher uma parede branca, um quadro e um ou dois pregos não são a única solução possível. É isso que a webserie Os Muralistas, que estreia hoje, quer mostrar. Ao longo de cinco episódios, os artistas, e casal, Raquel e Gonçalo Jordão (que participou na produção dos cenários do filme de Wes Anderson, Hotel Budapeste, que viria a ganhar um Oscar) deixaram-se filmar desde a angústia da parede em branco até ao momento final, quando a magia está concluída.
No episódio de estreia, a viagem começa na mítica cave de Nuno Markl, para onde o humorista arrasta os amigos, reunidos em grandes festarolas, concertos intimistas e conversas noite dentro. Rapidamente os dois artistas perceberam que esta divisão é o coração da casa, e da vida, de Nuno Markl. Já o tema da pintura não foi tão simples. “Podia ser muita coisa”, conta Raquel Carvalho. Cinema, música, animação, rádio… São muitos os interesses de Markl. “A ideia da pintura decorativa é ser única e refletir a personalidade do dono da casa”, continua. Depois de uma conversa a três, ficou definido que a música dominaria o espaço – mais concretamente o teto – com uma brincadeira pelo meio, como não podia deixar de ser: camuflada entre dezenas de guitarras, a cara da personagem da Guerra das Estrelas, Darth Vader.
A seguir veio o “grande desafio”: montar o andaime, sem desmanchar as cidades de Lego e outras construções, espalhadas pela cave, a que Markl dedica boa parte do seu tempo livre. Além deste obstáculo técnico, digamos assim, Gonçalo Jordão confessa que se sentia receoso por estar a entrar no lar de pessoas conhecidas, levando uma câmara de filmar atrás. Mas a surpresa foi que todos eles – os seguintes serão César Mourão, Ana Galvão e Rui Veloso – receberam a dupla de artistas como se já fizessem parte do seu dia a dia. Aliás, este é outro dos objetivos da série: “Tornar claro que tudo pode ser feito em apenas uma semana, sem que seja preciso alterar o que quer que seja na rotina de quem lá vive”, diz Gonçalo Jordão, de Londres, onde está a trabalhar num palácio na zona de Kensington. “As pessoas gostam de ir vendo o progresso da pintura, de ser surpreendidas.”
César Mourão, que já era um fã do trabalho de Gonçalo Jordão, e da empresa que criou com a mulher, a After Wall, desde a altura do Oscar atribuído ao filme Hotel Budapeste, escolheu uma parede exterior na sua casa de férias, o que obrigou a interromper os trabalhos algumas vezes para esperar que a chuva passasse. No final, “toda a história da vida do César”, conta Raquel Carvalho, “uma pessoa muito contemplativa, bem diferente da sua imagem pública.
No Instituto Português de Oncologia, a quem a dupla também quis oferecer o talento, o trabalho teve de ser todo agendado para o fim de semana, para não perturbar as consultas. Mas há sempre uma solução para cada caso.