É uma característica que desafia as leis da física: muitas construções romanas ficam mais sólidas com o passar dos anos. O próprio filósofo e naturalista romano Plínio, o Velho, do século I, já aludia às propriedades do betão utilizado na altura – “impregnável às ondas e a cada dia mais forte.” Finalmente, investigadores descobriram a receita milagrosa, ao estudarem pontões e portos romanos: uma mistura de cinza e rochas vulcânicas, cal e água do mar. E é a água marinha que depois fica em contacto com a construção que a faz mais resistente, impregnando o betão e reagindo com a cinza e a cal de forma a criar um mineral novo, muito raro na natureza, chamado tobermorita. Com o tempo, esse material vai crescendo, como se fosse um ser vivo, e substituindo os cristais vulcânicos, reforçando a estrutura.
“Contrariando os princípios do betão moderno, os romanos criaram um betão tipo rocha que floresce num troca química com a água salgada. É uma ocorrência raríssima na Terra”, explicou à BBC a investigadora Marie Jackson, da Universidade de Utah, EUA, principal responsável pelo estudo, publicado na revista American Mineralogist.
O betão romano, no entanto, não é tão simples como pode parecer. É uma mistura com quantidades muito precisas de calcário, ferro, arenito, giz, cinza, barro e água, mistura essa que é aquecida e triturada. “Eles passaram muito tempo a desenvolver isto. Eram pessoas muito, muito inteligentes”, diz Marie Jackson.
A descoberta pode ter aplicação prática. Cientistas estão agora a estudar a possibilidade de recriar a técnica romana para construir estruturas que se encontrem em contacto com o mar – precisamente as construções mais sujeitas à corrosão. Além disso, o fabrico deste betão será certamente mais amigo do ambiente do que o do atual, que é responsável por 5% das emissões globais de dióxido de carbono. “A técnica deles era aplicada em estruturas enormes, que são ambientalmente bastante sustentáveis e muito duradouras”, conclui a investigadora.
Mas há um problema: os romanos não deixaram a receita escrita, ou pelo menos não sobreviveu aos nossos dias. Poderão passar muitos anos até se descobrir as quantidades ideais de cada elemento.