A cantora, e irmã mais nova de Michael Jackson, levantou suspeitas em abril quando anunciou o fim da digressão Unbreakable, dizendo ao mundo que ela e o marido, o magnata Wissam al Mana, estavam a pensar constituir família. Depois, foi vista às compras numa loja de artigos para bebés, em Londres. Entretanto, em foto enviada à revista People, Janet surgia na praia, a usar um vestido justo, deixando evidente a sua barriga. “Agradecemos a Deus por esta bênção”, disse à revista, confirmando que estava a viver dos momentos mais felizes da sua vida. Eissa Al Mana nasceu terça-feira, 3. É o primeiro filho e Jackson já celebrou o meio século de vida – e é aqui que surgem as interrogações. Será tarde demais?
Luís Graça, presidente do colégio de especialidade de ginecologia e obstetrícia da Ordem dos Médicos, começa por lembrar que raramente falamos de uma situação espontânea – mas reconhece que ouvimos (e ouviremos cada vez mais) falar de situações assim.
“Geralmente, estas gravidezes ocorrem com óvulos de dadoras mais jovens, o que pode reduzir mas não anula o risco de hipertensão e diabetes para a mãe, trissomias no bebé e ainda partos pré-termo”, sublinha o médico, insistindo que não é por a esperança média de vida aumentar que as mulheres vão poder ter filhos à vontade até mais tarde.
“Nestas idades, geralmente já estão na menopausa. Além disso, há implicações sociais: um filho de uma mãe com esta idade arrisca-se mais a chegar órfão à idade adulta.” E quando perguntamos “E o pai?”, o médico considera que na questão social é igual – e que ter pais velhos também não é o ideal – mas no risco que constitui para a gravidez já não: “Os homens produzem espermatozoides saudáveis até muito mais tarde”.
A verdade é que Janet Jackson não é a única a tentar fintar o destino. Segundo contava o El Mundo em outubro, Lina Alvarez, 62 anos, médica, acabava de dar à luz o seu terceiro filho – o primeiro, o único concebido de forma espontânea, tem 28 anos e sofre de paralisia cerebral. O segundo, concebido também por fertilização in vitro, tem dez. A tão aguardada menina, com o mesmo nome que a mãe, nasceu no Hospital Universitário Lucus Augustus, na cidade galega de Lugo, depois uma cesariana programada, e pesava pouco menos de 3 quilos. “Sou a pessoa mais feliz do planeta”, disse a mulher, que se tornava assim também na mãe mais velha da Europa.
O boom das mães depois dos 50, pelo menos na Grã-Bretanha, fora já anunciado em 2010, quando se conheceram os dados do Office for National Statistics. Segundo noticiava a BBC, só no ano anterior, 107 mulheres com mais de 50 anos tinham tido bebés em Inglaterra e no País de Gales, o que representava um aumento de 55 por cento em relação ao ano anterior.
A mudança era atribuída a uma alteração nas regras adotadas pelas clínicas particulares que oferecem tratamentos de fertilização in vitro, quase sempre com óvulos doados por mulheres mais jovens. Até então, não aceitavam candidatas com mais de 50 anos por acreditar que as taxas de sucesso eram baixas. Agora, muitos médicos dizem que essa regra era arbitrária e que é mais importante levar em consideração a saúde da mulher, a idade do marido e a segurança financeira do casal.
E por cá, tudo bem
Em Portugal, mães com mais de 50 anos são raras, embora o número vá aumentando: desde 2000, e a contabilidade é de 2012, nasceram 80 crianças filhas de mães com 50 anos. O caso do género mais conhecido ainda é o de Maria Manuel Cyrne, que foi mãe em 2001, aos 49 anos. Ao 17º tratamento de fertilização in vitro, conseguiu engravidar e dessa gravidez nasceram dois rapazes, gémeos. “Era fundamental para a minha realização pessoal”, declarou Maria Manuel, empresária, que entretanto trocou Lisboa por uma quinta em Lamego.