“Deixe-os comer terra” é o título do novo livro que junta pela primeira vez os autores Brett Finlay e Marie-Claire Arietta.
Ele é professor de microbiologia na Universidade British Columbia. Conhecido sobretudo pelo seu estudo da salmonella e da E. coli, foi há 20 anos, na faculdade, que decidiu que queria estudar micróbios e desde então não tem parado. Foi condecorado com a Ordem do Canadá, o reconhecimento mais relevante que um canadiano pode alcançar.
Ela é investigadora e professora assistente na Universidade de Calgary. Desde 2007 que cruza microbiologia e imunologia nos seus estudos – sobretudo centrados na flora intestinal e no que ela nos diz sobre várias patologias. É considerada uma investigadora incansável ao serviço da saúde infantil.
Os dois são canadianos e têm dois filhos: os grandes inspiradores desta obra. Um livro que, usando uma linguagem cientifica (o leitor dificilmente encontrará no mercado um livro com tanta repetição da palavra “flora”) procura enquadrar-se sempre na realidade que pais e filhos vivem todos os dias.
Segue um caminho que promove o fim do medo constante e da superproteção dos miúdos. Ele é um grito pelo leite materno, uma defesa da diversidade alimentar, uma luta pelos micróbios como fonte de reforço do sistema imunitário.
Ao ler este livro não pode esperar um manual com as fórmulas perfeitas para criar os seus filhos, mas muitas dicas de saúde e educação (nomeadamente alimentar) para fazer deles miúdos mais fortes e resistentes às doenças que os micróbios não perdoam.
A grande descoberta cientifica na base de alguns destes conselhos é: “Tem vindo a tornar-se óbvio que a nossa exposição aos micróbios é mais importante quando somos crianças.”. Ou seja, de pequenino se come o pepino, com casca e tudo e se come muito mais do que possa imaginar.
Vivemos os tempos mais limpos de sempre na história da infância da humanidade. Isso, sendo positivo, pode trazer problemas para a nossa flora microbiana.
De forma nem sempre simples mas sempre clara, o livro procura responder a perguntas de 1 milhão de dólares como: “Será que devo deixar o meu filho colocar na boca logo que tenha caído ao chão?”; “Quando é que as crianças devem lavar as mãos e com que sabonete?”; “Se o meu filho está doente com uma constipação, devo mantê-lo em casa para evitar espalhar a doença a outras crianças ou é vantajoso para elas partilharem as infeções?”; entre outras.
Está organizado como se fosse um guia com três partes distintas: definições importantes sobre micróbios, os miúdos e os micróbios e as doenças e os micróbios. No final de cada tópico explorado os autores oferecem uma lista de pontos sobre aquilo que os pais devem e não devem fazer.
Cuidado com os antibióticos
“Várias tomas prolongadas de antibióticos no primeiro ano de vida levam a um aumento significativo da asma.” Porque o principio básico dos antibióticos é matar micróbios, todos eles e há que ter em conta que “os bichinhos bons tornam muito mais difícil para os maus instalarem-se no bastante sobrelotado mundo intestinal”. O capitulo é rematado com a ideia: não é, de todo, mal pensado dar probióticos aos seus filhos enquanto eles fazem um tratamento antibiótico para equilibrar a flora.
Deixe os miúdos terem cães
Os autores garantem: “O risco de apanhar uma doença infecciosa de um cão que receba bons cuidados é muito baixo.” E a ciência prova: “As crianças expostas a cães no inicio da vida têm um risco menos de desenvolver asma e alergias.” Resumindo, a sujidade que os cães trazem para casa é uma “sujidade boa”. Os micróbios são benéficos, em particular para os miúdos e os cães parecem criar laços incríveis com as crianças, estando também provado que estimulam a processos de sociabilidade e confiança.
Os resultados imunológicos não parecem ser tão positivos quando falamos de gatos.
Os micróbios e o cérebro
A ousadia dos autores não se fica por “a Academia Americana de Pediatria já não recomenda a utilização de biberões esterilizados para bebés de qualquer idade” ou “(…) para as chuchas e anéis de dentição: lavá-los com água e sabão é suficiente”. Eles chegam mesmo a relacionar a flora microbiana intestinal dos miúdos e o cérebro, sugerindo a possibilidade de deficiências de micróbios estarem na origem de doenças do foro mental, como as perturbações do espetro do autismo. Chegam mesmo a apontar “um caminho para um cérebro melhor” – reduzindo o stress e fazendo uma escolha inteligente dos alimentos ingeridos.
Um grito em defesa da amamentação
Amamentar ajuda a prevenir otites “provavelmente porque os anti-corpos do leite ajudam a proteger contras as infecções”. E em todo o capítulo sobre o “Ouro liquido” encontramos todas as boas razões pelas quais não se deve dispensar o aleitamento materno, por muito penoso que ele seja. “os anti-corpos maternos ajudam a combater potenciais agentes patogénicos “uma mãe a amamentar (…) está dedicar cerca de 10 por cento do leite materno para alimentar os biliões de bactérias” que o intestino do bebé em muito beneficia por abrigar.
Sobre vacinas
“A flora microbiana pode influenciar a resposta às vacinas.” Pois é, as vacinas não têm todas o mesmo efeito em toda a gente e o estado do nosso sistema imunitário pesa muito nisso. Bom exemplo disso é a vacina da gripe que a partir deste mês passa a estar disponível pela Direção Geral de Saúde.