Tudo começou com uma queixa banal, há dois anos. Uma menina espanhola, com 7 anos, dizia à mãe que sentia dores e comichão a fazer xixi. Quando o médico lhe perguntou há quanto tempo tinha aqueles sintomas, ela respondeu: “Desde que o meu pai cravou aqui uma unha.”
Foi iniciado um processo por suspeitas de abuso sexual mas, como os pais estavam já separados e em luta pela guarda da menina, as suas queixas foram desvalorizadas pelos técnicos da Segurança Social e pelos juízes, pensando tratar-se de mais uma manipulação na guerra tantas vezes travada entre casais em processo de divórcio.
Durante dois anos, Maria queixou-se vezes sem fim. Mas ninguém parecia acreditar nela – excepto a mãe.
A menina insistia: o pai tocava-lhe em sítios inapropriados e ela não gostava. Recusava-se, por isso, a passar os fins de semana com ele. As entregas ao pai tornaram-se cada vez mais dramáticas, com a mãe a querer proteger a menina e o pai a chamar a polícia, que levava depois a criança à força, cumprindo as ordens do tribunal.
O pesadelo terminou esta semana, como noticia o jornal El Pais, porque Maria, hoje com 9 anos, lembrou-se de esconder um gravador antigo da mãe numa das suas meias. E gravou seis horas de conversas em casa do pai, onde este admite os abusos, tentando desvalorizar as queixas dela e falando-lhe de como tudo era “um jogo” e de como sempre que ela lhe pedia para parar, ele parava. Os avós também estão em casa e, a determinada altura, a avó paterna admite saber a que “toques” se refere o pai de Maria.
A gravação já foi entregue em tribunal e a obrigatoriedade das visitas ao pai foi suspensa, até que fique concluído um novo processo de abuso sexual.