‘Hello Helena! Parabéns, já vi que teve mais encomendas.” Do outro lado da linha de telemóvel está a “idiota” dos fumeiros de trazer por casa, um dos 19 negócios que o lusodescendente Tim Vieira apoiou no programa Shark Tank, transmitido aos sábados à noite na SIC. Até esta série acabar, a 13 de junho, ele terá investido um milhão e cem euros, conquistando por isso o título de tubarão que mais dinheiro apostou em negócios emergentes e que a mais empreendedores estendeu a mão.
Helena Costa, 44 anos, da Vitta, foi uma das felizardas. Desde que Tim Vieira lhe ofereceu 50 mil euros (pedindo 10% dos royalties até reaver o investimento, passando depois a 5% vitalícios) que a sua microempresa com sede num descampado em Formoselha, a poucos quilómetros de Montemor-o-Velho, viu a faturação subir 200 por cento. Quando chegou aos ecrãs, com os dois filhos, de 12 e 17 anos, e pastéis de Tentúgal fumados, Helena já comercializava online mas de forma residual os fumeiros portáteis. Desde 2014 que os vende a 100 euros, além das aparas de madeira com 10 aromas, a três euros cada saco. Depois do dedo de Tim, a Vitta exporta para a Alemanha, Finlândia e Irlanda, mais que duplicou os aromas das árvores de onde saem as aparas e comprou equipamento novo. Além disso, o logótipo modernizou-se, tal como o site, e foi criado o vitta always, um novo produto que permite fumar num churrasco ou grelhador a gás, vendido por 25 euros.
A ideia deste negócio inovador em Portugal, de defumação a quente de qualquer tipo de alimento, foi trazida da Finlândia.
E Tim Vieira foi o único tubarão a percebê-la e a arriscar. Boa aposta: em abril começou já a receber o retorno do seu investimento.
Curiosamente, mesmo antes de fazerem a apresentação em frente dos cinco empresários, já a família de Helena desejava que fosse Tim a agarrar na empresa.
“Tem um espírito muito aberto, horizontes alargados e é dinâmico”, nota esta antiga diretora de recursos humanos. E logo o marido, Pedro Batista, 47 anos, reforça a ideia: “Tim Vieira é igual ou melhor ao que se vê na televisão.” O público também se rendeu ao estilo emotivo, blasé e desengravatado de Tim. E até nas gravações de um update com o bem sucedido projeto Comida de Rua, em Entrecampos, há anónimos que o felicitam ou pedem para tirar uma fotografia a seu lado, ao jeito de uma estrela.
O mesmo na vida real
O dia tinha tudo para ser como os outros.
Uma sexta-feira de sol, com muito vento a prejudicar o trabalho de Vítor, 58 anos, um jardineiro da Câmara Municipal de Lisboa, às voltas com a relva do Campo Grande.
Só que, de repente, os seus olhos descobrem Tim Vieira. Perde a vergonha e mete conversa com o tubarão: “Também sou de Angola. Gosto muito de vê-lo no programa, porque me faz lembrar a minha terra, de onde saí com 21 anos. E o senhor ajuda sempre aqueles que ninguém quer apoiar.” Isso também o distancia do perfil típico do empresário português e até dos seus companheiros de aventura, Susana Sequeira, Miguel Ribeiro Ferreira, Mário Ferreira e João Rafael Koehler. “São mais cautelosos do que eu, não gostam de falhar.
Ficámos amigos para toda a vida. Mas prefiro usar os meus networks para ajudar pessoas que têm uma boa ideia. Para mim o programa é fácil, porque, o que faço lá, faço na vida real encontrar sinergias para expandir o negócio e haver win/win para todos”, conta. Realmente, quando este tubarão investe parte da sua fortuna pessoal, a ajuda vai sempre mais além. Faz uso dos seus conhecimentos e estabelece pontes para agilizar as empresas. Nesse sentido, criou agora a Bravegeneration, para dar cobertura a estes novos investimentos na Europa.
No caso da Vitta, por exemplo, Tim Vieira conseguiu que a empresa de publicidade da sua colega de programa Susana Sequeira, especialista em marketing, fizesse o rebranding a um preço de amigo (aliás, estes dois tubarões têm agora a empresa Fast Shark Investments juntos). E que o chef Chakal dedicasse todo um programa da SIC Mulher ao fumeiro e às aparas.
No caso da Roselyn Silva, designer de moda são-tomense, o seu objetivo é internacionalizar a marca para África. “Ele sabe pôr-nos para cima”, diz a empresária que acaba de abrir uma loja no edifício Castil, em Lisboa.
Ele ‘speaks’ português
Na verdade, Timothy Alexander Vieira não é angolano. Nasceu em Joanesburgo há 40 anos, filho de um português “engenheiro de aviões”, e de uma moçambicana que cozinha favas e caril de caranguejo “como ninguém”. Viveu na África do Sul até aos 24 anos, com uma irmã mais nova, altura em que já tinha brincado aos negócios, ao lançar a primeira cerveja artesanal do país. Só que queria ver mais mundo, arriscar noutras latitudes, como normalmente fazem os sul-africanos depois da faculdade. Tim Vieira deixou a meio um curso de gestão, para se tornar num “hands-on” em Luanda, aprender com os seus erros e sucessos.
“Não há um livro igual para todos, mas a educação é muito importante”, defende.
“Angola foi uma grande bênção. Consegui atingir algo, arranjar bons sócios e bons clientes.” Houve uma altura em que arrastou a família toda consigo para esta antiga colónia portuguesa, quando a guerra acabou, o dólar estava em alta e precisavam de pessoas que falassem português. O lusodescendente sempre praticou a língua com os avós, durante as férias de verão que se repartiam entre Portimão e Vila Franca de Xira, onde o avô materno tinha uma quinta. Ainda hoje, depois de há mais de cinco anos repartir os seus dias entre Cascais onde mora com a mulher e os três filhos e Luanda, mantém um charmoso sotaque que o obriga, volta e meia, a recorrer a inglesices.
Em África dedica-se a negócios tão díspares como colchões, telemóveis e propriedades.
Mas o seu core são os media. É presidente da Special Edition, uma holding de empresas que atuam na área da comunicação, publicidade, assessoria de imprensa, eventos e marketing.
A firma é, por exemplo, acionista da TBWA Angola, que pertence à multinacional de publicidade TBWA. Detém também a empresa Muki, de marketing via e-mail.
Embora não seja uma figura muito mediática em Luanda, Tim Vieira ganhou fama de ser “bom tipo” sonhar muito alto por vezes alto demais. O próprio assume que, em média, 30% das suas apostas nos negócios não dão certo.
Este Portugal que ele ama
Por cá também tem deixado rasto, através de uma exploração de framboesas e mirtilos na Zambujeira do Mar, no Alentejo, para onde gosta de se evadir com a família e os quatro cães (apesar de ser uma dog person, derreteu-se com os dois gatos que Catarina Mendes, da Aqui Há Gato, levou para o programa).
“É uma paz, não vejo ninguém.” Depois de comprar dívida pública portuguesa (numa altura em que os juros eram muito vantajosos), e de ter equipado todas as estações do Metro de Lisboa com Wi-Fi, juntou-se ao tubarão Miguel Ribeiro Ferreira, chairman da Fonte Viva, para recuperar os terrenos do antigo hotel Nau, junto ao largo da estação de comboios de Cascais, um espaço que estava para ser reabilitado, mas que andava embrulhado em revogações de licenças, falências e processos judiciais desde 2007.
A sua ligação ao País é enorme e gosta de lembrar o quanto Portugal tem para dar.
“Quando cheguei aqui estava um bocadinho de crise, mas via os portugueses lá fora a atingirem o que queriam. Os meus empregados daqui têm uma educação es petacular, sabem falar línguas e trabalhar com computadores. O melhor active de Portugal são as pessoas.” José Silva Pedro, diretor-geral da produtora de televisão Coral Europa, e seu amigo há sete anos, sabe que ele não dorme mais do que quatro ou cinco horas. “Mas acorda como se deitou: com a mesma energia.” Foram apresentados por Nuno Traguedo, o sócio angolano de Tim Vieira, com quem ele forma uma dupla de pioneiros. José Silva Pedro revela que o lusodescendente é muito conhecido e reconhecido no meio empresarial. Só que está em Angola para trabalhar e é reservado à partida. Low profile, mas nem por isso deixou de alinhar num jantar da última vez que Nuno Santos, 47 anos, gestor de conteúdos na empresa Multichoice, a viver na África do Sul desde 2013, esteve em Luanda e se encontraram, por acaso, no hotel.
O ex-diretor de programas da RTP, que o conhece há pouco mais de um ano, vê-o como o exemplo do empreendedor. “Perante uma ideia, ele quer experimentá-la, com um entusiasmo contagiante.”
A maior excentricidade
Nem só de negócios se faz a vida de Timothy assim batizado em vez de Timóteo para lhe facilitar a vida na comunidade inglesa.
É um workaholic, sim, mas também é capaz de passar um jantar a contar as aventuras de uma viagem que fez com um amigo a Las Vegas. Nuno Santos nota que “ele gosta de viver a vida, apesar de ser muito simples”. Anda invariavelmente de calças de ganga e camisa. Um olhar mais atento pode detetar uma etiqueta Pepe Jeans, um relógio Rolex ou uma pulseira em ouro branco.
Diz quem sabe que em Portugal se desloca de Maserati e vive numa boa casa em Cascais. De resto, não se lhe conhecem excentricidades.
Bom, se excluirmos o facto de que no ano passado tirou seis meses para viajar com a família, levando um professor atrás. “Fizemos 24 mil quilómetros nos EUA, 350 quilómetros no Norte de Inglaterra a pé, esqui em Espanha, visitámos a África do Sul. Pode parecer um bocado exótico, mas estive 12 anos sem dar muita atenção à minha família, sempre a pôr os negócios em primeiro. Graças a Deus, estou hoje numa posição em que posso compensá-los.” Bruno Sambado, 40 anos, dono da produtora Take&Sound, seu amigo e o responsável pela sua transformação em estrela de televisão, não estranha esta opção: “Ele é family oriented. Hoje em dia, apesar da agenda difícil, põe sempre a família em primeiro lugar. Acorda cedo, trata dos negócios cedo, para se dedicar à mulher e aos filhos [5, 8 e 10 anos] no resto do tempo.” José Silva Pedro também já notou que “quando está com eles abstrai-se de tudo o resto. Está ali a 200 por cento, apesar de o seu telemóvel tocar umas 300 vezes por dia”.
Não querendo parecer sócio-fundador do clube de fãs de Tim Vieira, Bruno não poupa no latim quando fala do amigo.”Considero-o um homem de palavra. Quando entra num negócio é para o bem de todos. Trata-se de um ser humano extraordinário, com um coração enorme.” Na sua página do Facebook, criada apenas em abril (“a minha maior excentricidade “, diz), e já com 8 642 gostos, os elogios são igualmente rasgados (mas também serve para pedidos de ajuda para negócios).
Se ele tivesse tempo…
Quem ler com atenção os seus posts nessa rede social ou no Twitter, acaba por descobrir que o tubarão cultiva uma enorme paixão por carros e tem medo de andar de avião, embora ande a tirar o brevet. José Nunes, que ele apoiou, através da Sleeklab (drones para fins publicitários), aprecia-lhe a boa disposição. Ele tem um travo de humor britânico e consegue fazer boas piadas sem mudar de expressão. Se tivesse tempo, gostaria de aproveitar para aprender a tocar piano, falar francês e entrar numa novela.
E, se calhar, de conseguir jogar ténis, críquete ou râguebi, como nos tempos da África do Sul, quando era um desportista nato. O que não pode falhar é a sua ida à igreja internacional, em Cascais, todos os domingos de manhã, onde dá descanso à mente. “Não sou católico, sou um christian, pois acredito em Christ, e que devo agir a pensar nos outros. O que damos recebemos dez vezes de volta.” Na metade do mês que está em Angola não consegue refugiar-se na igreja, mas nem por isso deixa de orar. Só não está “dentro de um prédio”.
Pedirá ele dicas sobre a omnipresença? De certeza que lhe daria jeito para estar junto de todos os casos que apoia. De qualquer forma, a sua ajuda é efetiva e a ausência física contornada por e-mails e telefonemas constantes. No entanto, Tim Vieira tem consciência das suas limitações: “Não posso ajudar toda a gente, há limites. Não sou um expert em tudo nem tenho portas abertas em todas as áreas. É-me difícil expandir-me mais, embora ache que o meu melhor ainda está para vir. Ainda tenho muito para dar às pessoas que acreditaram em mim.” Afinal, até Timothy Vieira tem as suas balizas nos negócios do Shark Tank, e já contando com o que decidiu investir depois do programa, fixou-se nos dois milhões de euros.
A vintena de empreendedores portugueses que o ganharam como sócio olham para o homem e também sonham um dia poder dizer, como ele, que venceram. Mas sobretudo, fazê-lo irradiando a mesma energia positiva de quem está de bem com a vida, sentindo-se the luckiest man in the world.
Os negócios no ‘Tank’
Nos primeiros dez episódios, o tubarão “mais bacano do programa” (Facebook dixit) quis sempre ficar com percentagens maiores das empresas em que investiu
ROSELYN SILVA – DESIGN DE MODA
Roupa feita à mão com tecidos africanos e cortes europeus. A são-tomense pediu 50 mil euros por 15% da empresa, mas Tim só aceitou por 50% e Mário Ferreira juntou-se ao negócio. Roselyn já montou ateliê e contratou pessoas, e Tim está a ajudar a internacionalizar a marca.
NOTEBOOK COMESTÍVEL
Ricardo Silva queria industrializar o seu caderno feito com papel de hóstia, em que se escreve com tinta de pasteleiro. Pediu 2 500 euros por 25% da empresa e, depois das contrapropostas de Mário e Tim, aceitou 20 mil euros por 70 por cento. Ricardo já está a fazer cadernos com uma máquina e a testar novos sabores. O preferido de Tim? Presunto.
SIGURATI SIMONE
A nadadora paralímpica Simone Fragoso pediu 10 mil euros por 10% de royalties na venda de toucas de natação, para viabilizar a sua ida aos Jogos do Rio. Todos os tubarões aceitaram mas o negócio está parado devido a uma suspensão da atleta.
FFAN CLUB – FAMILY, FITNESS AND NUTRITION
Mariana Gomes e Diana Costa propõem atividades com kangoo jumps, sapatos que triplicam o efeito do exercício físico. Pediram 10 mil euros por 10% da empresa, e Tim contrapropôs mil euros em capital, mais nove mil em serviços.
COMIDA DE RUA
Gourmet em formato street food, numa mota com roulote atrelada.
Isabel Tavares pediu 50 mil euros por 12,5% da sua empresa e Tim contrapropôs 50 mil euros por 45 por cento.
WAFFELARIA
Quiosques de waffles com receita secreta. Rui Guerra pediu 20 mil euros por 15% da empresa. A contraproposta de Tim foi 20 mil euros por 35 por cento.
XPERIMENTAL SHOES
As gémeas Ana e Célia Silva, criadoras dos sapatos, pediram 40 mil euros por 15% da empresa. Tim só aceitaria por 35%, mas João Rafael Koehler juntou-se e as manas acabaram por receber 80 mil euros pelos 35 por cento.
SLEEKLAB
O projeto de Miguel, José e Rafael põe drones a fazer publicidade aérea. Os três jovens de Coimbra pediram 20 mil euros por 20% da empresa, mas aceitaram a contraproposta de Tim: 30 mil euros por 50 por cento.
BIO POLI
Copos biodegradáveis de Ana Malta e Hugo Moreira. Propuseram 20 mil euros por 20% da empresa, mas aceitaram que Tim, João e Susana Sequeira dessem 40 mil euros por 40 por cento. Estão a fechar contrato.
ORIGAMA
Pedro Mendes e Francisca Falcão inventaram toalhas de praia com apoio de costas. Pediram 100 mil euros por 10% da empresa, e Tim, Mário e Susana contrapuseram 120 mil euros por 30 por cento.
VITTA
Helena Costa criou um fumeiro elétrico e portátil, que vende com aparas de madeira de diferentes aromas. Pediu 50 mil euros por 10% da empresa, mas Tim preferiu receber 10% em royalties. As vendas aumentaram 200% e o tubarão inventou um novo produto e avançou com mais aromas.
DRIVE GOURMET
Rafael Martinho pediu 50 mil euros por 25% do seu serviço de apoio a condutores. Depois de Tim ter proposto ficar com 50%, a empresa entrou num processo de rebranding (chama-se agora Drivu), passou de seis para doze motoristas e vai chegar ao Porto.
AQUI HÁ GATO
Catarina Mendes não quer um café apenas com um menu diferente quer um espaço para a cultura e onde será possível adotar os gatos que por ali andem a passear. Pediu 15 mil euros por 20% do negócio e Tim contrapropôs 25 mil euros por 35 por cento. Os dois andam à procura de um espaço entre o Chiado e a Baixa lisboeta, a reunir com fornecedores e a trabalhar eventos.
SKOG EYEWEAR
O negócio de Afonso Caldeira, Nuno Pinto e Hugo Janes são óculos com armaduras de madeira. Ao pedido de 40 mil euros por 10% da empresa, Tim e Susana contrapropuseram 45 mil cada por 40 por cento.
MITA
Sandra Duarte faz fraldas de algodão reutilizáveis. Pediu 20 mil euros por 15% da empresa, mas Tim quis entrar com 30 mil euros por 50 por cento. O negócio deixou de ser home made e passou para o patamar industrial. E já estão a ser feitos contactos internacionais.
MISS DAISY
Tim não resistiu à sobremesa de bolacha crocante, natas, ananás e doce de ovos que Lubélia Nascimento faz em S. Martinho do Porto. Ela pediu 20 mil euros por 25% da empresa e o tubarão aceitou por 40 por cento.
COCKTAIL TEAM
Lúcia Encarnação e Hugo Silva pediram 50 mil euros por 5% da sua escola de barmen e organização de eventos. Tim aceitou entrar por 35 por cento.
IDEE
Isabel e Henrique Ribeiro pediram 50 mil euros por 25% da produção e comercialização de pulseiras de identificação que visam salvar vidas. Tim preferiu receber 10% de royalties.
SIDERIDE TOURS
Sílvia Valadares lembrou-se de pôr mulheres a guiar turistas em sidecars, pelo Porto. Pediu 15 mil euros por 15% da empresa e Tim e Susana aceitaram fazer parte do negócio, propondo 15 mil cada por 35 por cento.
* com Rosa Ruela e Bárbara Vaz Martins