A sala está ligeiramente escurecida e em silêncio. Um cheiro forte e adocicado abafa todos os odores. É pão de milho. Isto é certo. Em cubículos, separados uns dos outros, uma dezena de pessoas experimentam vários tipos de broa.
Num pequeno computador, cada provador fã de pão de milho deve pontuar o aspeto geral, o sabor, a textura, entre outras qualidades que fazem um bom produto alimentar. A opinião dos consumidores integra um projeto científico coordenado pela investigadora Carlota Vaz Patto, 40 anos, especialista em melhoramento de plantas, do Instituto de Tecnologia Química e Biológica, em Oeiras.
Carlota Patto tem um objetivo ambicioso: preservar as variedades tradicionais do milho nacional, tornando o seu cultivo atraente para as novas gerações de agricultores.
“Queremos mostrar aos produtores que as broas são apreciadas e valorizadas pelos consumidores, e que o seu cultivo também pode ser vantajoso do ponto de vista financeiro”, esclarece.
A primeira parte do trabalho foi feita de mãos na terra. Carlota Patto andou pela zona da serra da Estrela a falar com os produtores do melhor milho do País e a recolher sementes. Encontrou agricultores “interessados e habilidosos na seleção das melhores variedades”. As 50 sementes escolhidas foram cultivadas num ensaio de campo, na Escola Agrária de Coimbra. Daqui saiu uma seleção das 12 melhores, analisadas em Oeiras a caracterização inclui, por exemplo, o nível de antioxidantes, em que a farinha de milho é rica, ou o teor de proteínas.
A comparação entre os resultados de laboratório e as provas permitirá escolher as melhores farinhas para fazer broa. “Se não fosse o hábito português de consumir pão de milho, já teríamos perdido as variedades tradicionais “, diz a investigadora. E a diversidade é essencial para as espécies resistirem a uma praga ou a outras condições adversas, como a seca. As variedades tradicionais também se adaptam com mais facilidade aos diferentes tipos de solo e são menos exigentes quanto à rega do que o milho híbrido, usado para a alimentação animal.
Não há que enganar: da próxima vez que comprar pão, opte pelo de milho.
O DADO