(Vídeo) – Vítor Santos, 56 anos, a quem foi diagnosticada a doença bipolar, admite que tem uma vida normal
Associada a um temperamento emocionalmente intenso, a “doença dos altos e baixos de humor” parece manifestar-se com mais frequência no meio artístico, tendo sido atribuída a celebridades como Vincent van Gogh, Amadeus Mozart, Marylin Monroe, Florbela Espanca ou Antero de Quental. Quem tem este diagnóstico pode levar uma vida normal, graças aos avanços da medicina e ao acompanhamento psicoterapêutico.
I. Viver com a doença
Sinais de alerta:
- Ciclotimia – Breves períodos de cansaço e aumento das horas de sono, alternados com curtas fases de muita energia e desejo de atividade.
- Crises (episódios depressivos e/ou maníacos) – incapacidade de reação para as atividades mais básicas e/ou conduta exacerbada e sem limites.
- Maior vulnerabilidade ao ambiente (fatores externos) e às mudanças de estação.
II. O que posso fazer?
Pedro Afonso, Médico Psiquiatra
- No caso de existirem suspeitas da doença, deve ser feita uma consulta com um psiquiatra.
- Confirmado o diagnóstico, o doente é medicado com estabilizadores de humor, podendo tornar-se necessário prescrever antidepressivos, ansiolíticos ou antipsicóticos.
- Se o doente estiver numa fase aguda, nomeadamente com grande agitação ou com risco de suicídio, deve ser encaminhado para um serviço de urgência e aí ser avaliada a necessidade de internamento.
- Mesmo depois da fase aguda, as consultas devem manter-se com regularidade; numa fase estabilizada, a periodicidade recomendada é de dois a quatro meses.
- Trata-se de uma doença crónica, que pode ser grave e incapacitante, embora existam casos excecionais de remissão ao fim de alguns anos.
Renata Frazão, Psicóloga Clínica
- A doença tem uma causa multifatorial e tem diferenças de grau (ligeira, moderada, grave).
- Más e boas notícias: a vida familiar e interpessoal é afetada, mas é possível defender-se e aprender a manter o humor estabilizado (nos grupos de apoio da Associação de Doentes Depressivos e Bipolares), evitando entrar em descompensação
- Como prevenir as crises:
– Cumprir a medicação prescrita
– Boa higiene de sono (repouso regular)
– Disciplina nas rotinas diárias (laborais, sociais, familiares)
– Regime alimentar equilibrado
– Moderação no uso de substâncias que alteram o humor (álcool, tabaco, etc)
– Procurar amigos capazes de ouvir e dar suporte, sem desvalorizar
– Assegurar quem providencie apoio familiar (aos filhos, por exemplo) em fases mais críticas
III. A Associação
A Associação de Doentes Depressivos e Bipolares (ADEB) existe há duas décadas.
O desejo de criar uma estrutura de apoio para pessoas como ele, levou Delfim Oliveira, 63 anos, reformado da Marinha Mercante, a formar a ADEB, que tem protocolos com o Ministério da Saúde e a Segurança Social. Aqui é possível ter informação, acompanhamento individual (consultas) e frequentar grupos de ajuda: “Por ano recebemos, em média, 440 frequentadores novos, que têm apoio psicossocial por um período que varia entre seis meses e um ano”.
– Tem três delegações no país (Porto, Coimbra e Lisboa)
– O site (www.adeb.pt) recebe 120 mil visitas anuais
– Tem 3 500 sócios (mais de metade tem habilitações superiores ao 12º ano)
– Em 80% dos casos, o primeiro contacto surge após uma fase de descompensação
– Linha SOS 21 854 07 40 / 8
O rosto da ADEB
Delfim ainda se lembra de quando teve a sua primeira crise, aos 20 anos de idade. E mais tarde, aos 40, quando voltou a descompensar, com uma crise delirante: “A cada dia que passava, dormia menos que no anterior; era incapaz de parar, monopolizava conversas, gastava dinheiro e bebia até cair… perdi 15 quilos e acabei internado, numa cura de sono”. Apesar de ser uma doença crónica, que se manifesta por ciclos, é possível mantê-la estabilizada há 18 anos: “As oscilações de humor, mania ou melancolia, não duram mais do algumas horas e, graças à medicação, à base de lítio, consigo prevenir as crises”