A resposta a um PS à deriva, picado pelas recentes sondagens, e a um PSD confiante é, segundo João Cotrim de Figueiredo, um voto na Iniciativa Liberal (IL) – a única forma de garantir que os dois maiores partidos não “alteram a sua estratégia conforme o que acontecer”. À medida que a noite dos resultados se aproxima, o líder liberal usa o argumento do bloco central para desmistificar o voto útil à direita em Rui Rio. “Um governo do PSD sem a IL é igual ao PS”, defendeu, esta terça-feira, na Marinha Grande, onde queria ter ido plantar pinheiros. Mas, vendo-se impossibilitado, optou por começar a preparar o terreno junto a um possível futuro governo social democrata.
A dúzia de pinheiros que a comitiva da IL de Leiria trazia na bagageira do carro foi dar uma volta pelas ruas da Marinha Grande, desertas a meio da manhã. A intenção do partido era ir plantá-los ao Pinhal de Leiria, mas como não receberam autorização (só concedida a partir de uma quantidade de pinheiros mais significativa), a chamada de atenção para a necessidade de recuperar a área ardida no incêndio de 2017 passou a ter outro simbolismo. O deputado único recebeu das mãos do cabeça de lista do distrito, Dário Florindo, as árvores por plantar como “símbolo de uma oportunidade” para repensar um Portugal excessivamente burocrático.
Cotrim de Figueiredo recebe-os para a fotografia, tendo como cenário um militante com um balde de terra e outra com uma enxada, e foi plantá-los no quarto e último degrau do edifício do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Gesto continuo explica: “em 2017, arderam mais de oito mil hectares [no Pinhal de Leiria] e só há plano para reflorestar metade. Nós queríamos contribuir, mas tudo precisa de uma autorização, de um carimbo e de um funcionário para dar essa autorização. Mas também não há funcionários”.
Se integrasse o governo, o deputado único defende que o ICNF deveria ter poderes reforçados e ser liberto do “envolvimento excessivo de regulamento e burocracias”. Uma reorganização, que não passaria necessariamente pelo aumento de profissionais. E deixa ainda a critica à gestão socialista, “que não tem suficiente rasgo para enfrentar estes problemas”. “Espero que quando estes pinheiros tiverem crescido já haja um país liberal”, desejou, ainda à porta do ICNF, onde ninguém se assomou para receber o presente. A descer nas últimas sondagens, o líder decidiu não comentar a possibilidade da ambição expressada, na última frase, estar mais distante, dizendo apenas, aos jornalistas, que “todas as variações [dos estudos de opinião] estão dentro da margem de erro” e que “isto só nos distrai”.
Com as sondagens e os animais domésticos (tema assíduo de campanha, desvalorizado pelo parlamentar) fora do caminho, os liberais seguiram para o centro de Leiria para atacar com outra metáfora o PS. Não sem antes recolherem os mencionados pinheiros das escadas do ICNF para levá-los de volta para a bagageira, com a promessa de plantação numa outra terra.
Já na capital de distrito, que, esta noite, recebe a Final Four da Taça da Liga, montaram uma baliza, onde Cotrim de Figueiredo pôde exibir os seus dotes de futebolista, que aprimorou na universidade em Inglaterra, contava à VISÃO. Mesmo assim, a sua equipa facilitou-lhe a vida e não havia ninguém à defesa, só um cartaz que até inspirou um pontapé furioso, a dizer “estagnação, estagnação, estagnação”. E foi golo.
No regresso ao autocarro, explicou ainda, à equipa de reportagem da VISÃO, que esta manhã recebeu um telefonema inesperado do futebolista português Bernardo Silva, a jogar no Manchester City, para dar à Iniciativa Liberal o seu apoio. Em menos de 24 horas, o partido recebeu a promessa dos votos de um futebolista e de um político que costumava estar numa equipa adversária – o ex-militante democrata-cristão Adolfo Mesquita Nunes. E perante a decisão do último, Cotrim de Figueiredo limitou-se a agradecer, recusando ter ido atrás dos votos seja de quem for.
À mesa com os empresários
Já que ia passar na região, a IL convidou para um almoço a Associação Comercial e Industrial da Bairrada e outros empresários da região. O ponto de encontro foi o restaurante, em Anadia, distrito de Aveiro, de um empresário que também tem dois hotéis; e no menu não faltou o tradicional leitão da Bairrada. “Este tipo de partido é-nos mais favorável”, dizia, no final da refeição, à VISÃO, Renato Almeida.
“Temos a consciência perfeita de que nem sempre somos bem aceites na sociedade; somos muito vistos como os bichos papão, para usar um termo que usávamos ainda agora à mesa, mas nós passamos muitas dificuldades no nosso dia à dia. O Estado dá-nos algumas oportunidades, mas tem um lado que nos atrapalha e a IL tem sugestões que nos agrada ouvir”, como a redução do IRC, continua Renato Almeida. Ou do IRS, ou da eletricidade, ou das promessas para inverter a falta de mão-de-obra, acrescentaria a seguir João Pedro Matos, já na fábrica de papel “A Bolseira”, na Zona Industrial de Mamodeiro, Aveiro, para onde a caravana liberal seguiu.
A visita à empresa familiar dos três irmãos Tribuna, que exporta 80% do que produz, inaugurou o programa da tarde da IL, que continuou a percorrer a A1 em direção ao Porto até ao fim, com paragens ainda numa escola, em Albergaria-a-Velha e um jantar em Santa Maria da Feira. Os próximos dias dos liberais serão dedicados ao norte, onde o partido tem como objetivo eleger dois dos cinco deputados que estabeleceu como meta para estas eleições.