Os dados provisórios de ontem, o primeiro dia em que os socialistas foram a eleições, já confirmavam o favoritismo com que Pedro Nuno Santos arrancou para a corrida à sucessão de António Costa. Este sábado, no segundo dia de eleições, o resultado não deixou sombra de dúvidas, ao alcançar 62% dos resultados.
O atual deputado do PS, e ex-ministro das Infraestruturas, obteve vitórias importantes no Porto, a maior federação, com 58% ((4967 votos), em Braga, Algarve e Baixo Alentejo. Carneiro manteve o segundo lugar – 36% – e em terceiro lugar, a larga distância, ficou Daniel Adrião, com 1%.
As maiores federações socialistas, como as do Porto (que já teve Carneiro como líder há uns anos) e Braga, que poderiam ter virado o jogo, tiveram semelhante sentido de voto como a maioria das de ontem e deram um sinal de confiança no ex-ministro.
Neste processo eleitoral votaram cerca de 40 mil militantes do PS em Portugal Continental, nas Regiões Autónomas e nos círculos da emigração.
Pedro Nuno Santos, que teve ao seu lado a maior parte das estruturas do partido, grande parte da bancada parlamentar e até, de forma surpreendente, importantes elementos da ala mais à direita do PS, como Francisco Assis e Álvaro Beleza, chega assim a secretário-geral dos socialistas, aos 46 anos.
O enfant terrible – que fez parte do grupo de “jovens turcos” que deram uma ajuda a António Costa a chegar a líder nas primárias de 2014 – e que cultivou uma imagem de obstinado, apresentou-se à corrida a 13 de novembro, uma semana depois de o primeiro-ministro se ter demitido na sequência da Operação Influencer.
Há “problemas” com o atual governo. Pedro Nuno quer resolvê-los
Já depois de ter surpreendido (quer antes quer depois do anúncio da candidatura), ao assumir a discordância com a gestão socialista de alguns dossiês, como os da TAP e a recuperação dos anos de carreira congelada dos professores, Pedro Nuno Santos foi mais longe no encerramento da sua candidatura, na última quinta-feira, ao assumir que “não está tudo bem” com a atual governação de Costa.
“Nós somos os primeiros a reconhecer que não está tudo bem. A tarefa é imensa, a que temos pela frente. Mas há uma coisa que nós sabemos fazer melhor do que eles: como se resolvem os problemas. O primeiro passo para resolver os problemas é termos a capacidade para ouvir”, disse, um repleto Cineteatro Capitólio, em Lisboa.
Aquele que saiu do Governo, há quase ano, para travar – ou pelo menos tentar – a polémica da indemnização paga pela TAP a Alexandra Reis, ex-secretária de Estado, e que já criara a imagem de um ministro problemático para António Costa, aquando do controverso despacho do novo aeroporto de Lisboa (no verão de 2022), assegurou, assim, na última quinta-feira, ser não só alguém que “resolve”, como irá “ouvir” os portugueses nas próximas semanas, até à legislativas de março de 2024.
Tarefa é difícil. E Costa vai andar por aí
António Costa, que já não viajará na segunda-feira para Moçambique, onde iria encontrar-se com militares portugueses, anunciou que, este domingo, manteria um primeiro encontro, de passagem de testemunho, com o seu sucessor à frente do PS. Todavia, até à tomada de posse do novo Governo, que pode acontecer no início de abril de 2024, continuará a ser primeiro-ministro, sendo, agora, um dos nomes mais fortes que os socialistas têm para apresentar às eleições europeias, em junho de 2024, e mesmo ao Conselho Europeu.
Ou seja, na praça pública Pedro Nuno Santos irá dividir o protagonismo com Costa, que, depois do pedido de demissão a 7 de novembro, mostra não sofrer forte erosão na sua popularidade com o caso Influencer e, até, ser elogiado por Marcelo Rebelo de Sousa – que chegou a apontar baterias ao ex-ministro no passado.
Além disso, Pedro Nuno tem como tarefa distanciar-se da imagem de polémicas a que esteve associado, e que até o puseram debaixo de críticas de outros destacados socialistas, como a ministra Adjunta, Ana Catarina Mendes (aquando do caso com o CEO da Ryanair).
Artigo atualizado às 23h30