As projeções à boca das urnas, segundo o estudo da Católica/RTP, dão a coligação PSD/CDS e Miguel Albuquerque como vencedores das eleições regionais da Madeira; mas,na folga das previsões, há um cenário sem maioria absoluta: a coligação elege 23 a 26 deputados, sendo que o total da Paramento Regional alberga 47. Ou seja, no caso de a margem mínima se verificar, faltará um deputado para completar a maioria absoluta. Ora, Miguel Albuquerque foi perentório e, reiteradamente, foi dizendo que, para além da coligação pré-eleitoral com o CDS, não fariamais nenhum acordo: é a maioria absoluta ou nada. Mas, se obtiver 23 deputados (a um deputado da maioria absoluta) não precisará do Chega: a IL deve eleger Nuno Morna.
Subsiste um problema: o candidato liberal tem um histórico de divergências com o PSD, na Madeira, e Alberto João Jardim até já disse que ele andou nas margens de vários partidos, incluindo o PS, e que só não entrou no PSD porque ele, Alberto João, não deixou. As lógicas da Ilha são completamente diferentes das do Continente. Ou seja, a matemática não é suficiente. Mesmo tendo em conta a predisposição do PSD nacional para se entender com a Iniciativa Liberal, na Ilha há que ter em conta as personalidades e as relações pessoais. É que, ali, toda a gente se conhece. Mais depressa o PSD Madeira se entenderia com Sérgio Gonçalves (se, politicamente, isso fosse possível…), que é o candidato do PS, do que com Nuno Morna. Voltando a Alberto João, o ex-presiente do Governo Regional chegou a dizer que “o Sérgio é um bom rapaz, é quase do PSD”.
Nas primeiras projeções, Miguel Albuquerque tem a maioria absoluta quase garantida. Mas falta o “quase”. E, se a falhar, um deputado da IL pode ser suficiente. Mas aceitará o líder regional voltar atrás e fazer entendimentos pós-eleitorais?…
Em termos frios, puros e duros, um deputado da IL, que parece garantido, serviria para que Miguel Albuquerque continuasse a governar. Mas, para isso, seria preciso que o presidente do Governo regional voltasse atrás, o que parece difícil. Geringonça à esquerda é impossível, dada a hecatombe do PS: mesmo mantendo a CDU o seu deputado, e recuperando o BE também um ( duas meias surpresas, ou, pelo menos,uma, a da CDU, face às sondagens pré-eleitorais conhecidas), o fraco resultado de Sérgio Gonçalves, que faz cair o PS dos 35% de 2019 para a casa dos 20% (na melhor das hipóteses), inviabiliza qualquer veleidade de entendimentos: mesmo tendo dito o candidato do Chega, Miguel Castro, que não recusaria, “não necessariamente”, entender-se com o PS, nenhum dos estados maiores partidários de Lisboa consentiria em tal hipótese – e Miguel Castro até foi desautorizado, na hora, em plena Câmara de Lobos, por André Ventura.
Uma nota para o crescimento do Chega, de 0,43%, 613 votos e zero deputados, em 2019, para 9% a 12% e 3 a 5 deputados, agora. Na verdade, isto significa o desaparecimento do CDS, que nada acrescentou ao resultado de Miguel Albuquerque, e a transferência direta dos seus eleitores para o partido de Ventura. E nota, ainda, para o partido regional JPP (Juntos Pelo Povo), que deve manter-se como terceira força – e do qual Miguel Albuquerque não pode esperar nenhum apoio.
Se Miguel Albuquerque não tiver a sua maioria, haverá novas eleições – e o candidato do PSD passará a ser o emergente político madeirense Pedro Calado, presidente da Câmara do Funchal e estrela em ascensão.
Mas estes são cenários apenas hipotéticos. A maioria absoluta é, à hora em que escrevemos este artigo, a hipótese mais provável. A esperar por ela, roem-se unhas na Quinta Vigia (residência oficial do presidente do Governo Regional). Até ao sabugo.