Pode estar à vista nova crise interna no Chega, depois de Ana Moisão, vereadora na Câmara Municipal de Serpa, eleita nas Autárquicas de setembro de 2021, ter pedido a demissão como presidente da distrital de Beja do partido.
Segundo confirma, esta terça-feira, o jornal regional A Planície, a única vereadora eleita na região do Alentejo pelo Chega terá comunicado a sua decisão, numa carta enviada, no passado dia 29 de dezembro, ao líder do partido, André Ventura. Em declaração à mesma publicação, Ana Moisão não avança explicações para esta decisão, apenas adiantando que “é muito grata por toda a confiança que o partido depositou em mim” e que mantém “uma boa relação com todos os elementos do partido”. “A situação é interna e já foi resolvida”, diz ainda, dando nota que apesar da demissão como líder da distrital de Beja mantém a intenção de permanecer no cargo de vereadora na Câmara Municipal de Serpa e no partido.
Esta é apenas mais um capítulo na relação atribulada entre vereadores do Chega e o partido radical populista – e que, feitas as contas, já atingiu oito dos 19 deputados eleitos pelo Chega nas Autárquicas de setembro de 2021.
Recorde-se que, no espaço de apenas um ano, o Chega já perdeu seis dos 19 vereadores eleitos: em Moura, Sesimbra, Seixal, Moita, Entroncamento e Sintra – este último, Nuno Afonso, militante “n.º 2” do Chega, tinha sido coordenador autárquico do partido nas eleições de 2021 e antigo chefe de gabinete no Parlamento de André Ventura na anterior legislatura (quando este era deputado único), assumindo-se como o principal rosto da oposição interna à atual direção do partido, situação que se tornou (ainda) mais visível desde o passado mês de maio, depois de Nuno Afonso ter sido exonerado do cargo que ocupava na Assembleia da República. Uma semana antes da formalização do “divórcio”, Nuno Afonso manifestara, ao Expresso, disponibilidade para avançar para a presidência do partido, caso André Ventura colocasse o seu lugar à disposição.
Além dos seis deputados que perderam a confiança política do Chega, durante este (curto) período, surgiu ainda mais uma crise, em maio do ano passado, envolvendo Fernando Feitor, eleito vereador na Câmara Municipal de Vila Verde, Braga. Feitor entrara em “choque” com as estruturas do partido, incompatibilizando-se com a distrital de Braga e com o líder do Chega em Vila Verde, José Luís Moreira, que alega não ser o líder legítimo daquela estrutura concelhia. Na sequência deste “braço-de-ferro”, o autarca seria suspenso (durante 30 dias) pela Comissão de Ética do partido.
Fernando Feitor terá ponderado afastar-se do Chega, mas, tal como fez agora Ana Moisão, optaria por manter-se no cargo de vereador ligado ao partido – apesar do incómodo.