Não às pré-coligações ou acordos com o Chega. Não a Governos com o Chega. Talvez às conversas de viabilização governativa no período pós eleitoral. Para o deputado e presidente do grupo parlamentar do CDS, Telmo Correia, esta deveria ser a perspetiva dos centristas perante o partido à sua direita. À VISÃO, sublinha que isto não significa uma partilha de opiniões; é mero pragmatismo para que a direita possa governar.
“Se o Chega viabilizar uma maioria que afasta o Partido Socialista do poder – como aconteceu nos Açores -, acho que é legítimo haver conversações”, aponta.
Para Telmo Correia, a “geringonça açoriana” – que envolve um acordo de governação entre o PSD, CDS e PPM, com a legitimação do Chega e da Iniciativa Liberal – responde “à vontade dos açorianos de não haver um Governo de continuidade socialista”, que já administrava a região há 20 anos com maioria absoluta. “Os Açorianos quiseram mudança e os votos do Chega contam para essa mudança”, resume.
O líder da bancada parlamentar do CDS lembra também que “todos os membros que vão integrar o Governo são democratas e isso não está em causa”. O mesmo tinha sido repetido pelo presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, a 12 de novembro, a primeira vez que se pronunciou sobre a coligação nos Açores. “O CDS celebrou um acordo para a formação de Governo apenas com o PSD e com o PPM. Isto que fique muito claro”, dizia então, numa conferência de imprensa, na sede do CDS, em Lisboa.
Não celebrou um acordo de governação, mas assinou um acordo de incidência parlamentar com o Chega, em conjunto com o PSD e com o PPM. Só a IL ficou de fora, depois de Francisco Rodrigues dos Santos ter dito por diversas vezes que não havia possibilidades de entendimentos com o partido de André Ventura. Ainda em junho, em entrevista à VISÃO, o presidente dos democratas-cristãos afirmava que “a probabilidade de entendimentos do CDS com o Chega é nula”.
Telmo Correia diz que, nesta ocasião, não fala pelo partido. Até porque a bancada parlamentar não está em uníssono. A deputada Ana Rita Bessa foi uma das personalidades do centro-direita a subscrever a carta, publicada no jornal Público, onde diversas personalidades se mostram preocupadas com a aproximação das forças radicais e pedem o combate ao extremismo. Já no Expresso, desta semana, Telmo Correia assinava um artigo de opinião onde se dirigia aos subscritores deste documento como “individualidades da direita orleanista, sempre preocupada em não melindrar o politicamente correto” com “uma tese pouco clarividente”.
Apesar disto, o líder da bancada diz, agora à VISÃO, que “na essência estamos de acordo e nenhum de nós se confunde com o Chega”. Mas, ressalva, “há uma grande indignação, porque o Chega defende a castração química. A castração química é inaceitável? É. É inconstitucional? É. Mas, na minha opinião, a eutanásia também. E se os partidos que são convictos da eutanásia podem apoiar soluções de Governo, porque é que partidos que defendem outras coisas não?”.
O discurso do CDS já foi mais definitivo, em relação ao Chega. Em 2017, durante as autárquicas, CDS e PSD coligaram-se numa candidatura à Câmara de Loures. No entanto, o primeiro deixou a aliança política na sequência das declarações de André Ventura [na altura candidato pelo PSD] sobre a comunidade cigana. Questionado pela VISÃO sobre este episódio, Telmo Correia descarta a comparação “porque o presidente do partido não era o mesmo [na altura era Assunção Cristas] e o candidato fez uma declaração inaceitável. Era inaceitável na altura e é inaceitável agora”.
Do ponto de vista do líder parlamentar, o CDS continua sem dar a mão ao Chega. Quem o está a fazer é o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda “quando estão sempre a falar dele”. “Convém aos extremos valorizarem-se uns aos outros. Por cada comentário mais xenófobo da parte do Chega, mais nós temos comentários do Bloco”, continua Telmo Correia. No caso do PS, o deputado acusa o partido de usar o Chega como “seguro de vida” para continuar a governar. Uma vez que “o Chega nunca conta para uma solução à direita, a direita não vai poder governar e isso garante que o PS governa sempre. A partir do momento em que todos passam a contar acabou o seguro de vida”.