Quando Assunção Cristas entrar no Pavilhão Multiusos de Lamego, encontrará um partido confiante e maioritariamente unido em torno da sua liderança. Reforçada por um excelente resultado autárquico, sobretudo a nível pessoal – tornou o CDS o segundo partido mais votado em Lisboa, ultrapassando a barreira dos 20% e ajudando a retirar a maioria absoluta ao PS –, a presidente do partido irá renovar o seu mandato por mais dois anos sem grande contestação interna. A sucessora de Paulo Portas conseguiu convencer os mais céticos e a sua liderança parece agora estar blindada a novas ameaças, preparada para enfrentar as próximas etapas.
“O partido está muito satisfeito com os primeiros dois anos de mandato de Assunção Cristas”, afiança à VISÃO o líder parlamentar do CDS, Nuno Magalhães. Um diagnóstico que parece ser consensual não apenas no grupo parlamentar mas entre os militantes centristas. Os mais críticos da atual estratégia parecem entender que a líder atravessa um momento positivo, tornando praticamente impossível o surgimento de um candidato capaz de fazer abalar Assunção Cristas “sem que isso soasse a aproveitamento pessoal”, explica uma fonte centrista. Não por acaso, críticos como Filipe Lobo d’Ávila dispensaram a apresentação de uma moção que pusesse em causa a atual liderança, o que não impedirá os que estão em desacordo com a estratégia que tem vindo a ser seguida de falarem na reunião magna do partido, “expondo os seus pontos de vista divergentes, como é saudável que aconteça”, entende Nuno Magalhães.
Assim, mais do que para entronizar a líder, o 27º Congresso, que acontece nos dias 10 e 11, vai servir para iniciar uma nova fase da vida do partido, a começar pela mudança da mensagem. É esta a intenção de Assunção Cristas, que na sua moção de estratégia global defende um partido mais pragmático, a falar para todos os portugueses e capaz de quebrar os rótulos que muitas vezes lhe são atribuídos – como os de ser um partido de “quadros”, dos “ricos” e dos “patrões.” Para levar adiante esta estratégia, pretende trazer para a mesa do debate público novos temas, como o clima. Esta é, aliás, uma das bandeiras que o CDS de Cristas quer vir a agitar nos próximos tempos e pode revelar-se a forma ideal de começar a entrar num eleitorado mais jovem, por norma mais atento às questões ambientais. Uma ideia que faz parte de uma estratégia de urbanização da mensagem do partido, que irá começar a falar para o eleitorado das grandes cidades e do litoral, sem descurar a importância dos eleitores do interior, que são tradicionalmente importantes para os resultados que o CDS costuma obter.
Mudam-se as mensagens mas não os mensageiros. Assunção Cristas não vai substituir nenhum dos membros que ocupam cargos de liderança no partido. Satisfeita com o desempenho do seu núcleo duro, a presidente do CDS não encontra motivos para não manter a confiança. Nessa linha de continuidade, e segundo apurou a VISÃO, o conclave centrista servirá também para confirmar a escolha de Adolfo Mesquita Nunes para a coordenação do programa de Governo que o CDS vai levar a votos nas próximas eleições legislativas. Em suma, a mesma equipa mas como uma nova mensagem: é desta forma que o CDS vai enfrentar os próximos dois anos, que serão marcados por três atos eleitorais – regionais, europeias e legislativas – e que irão ser determinantes para concluir se a mudança de estratégia que Cristas quer implementar resultou.