Entrou no Pavilhão Carlos Lopes uma hora depois do previsto. A convenção nacional da sua candidatura decorria há mais de três horas quando Santana Lopes entrou na sala repleta de militantes de bandeira em punho. Adepto confesso de congressos, o candidato parecia sentir-se em casa enquanto, de mão alçada, agradecia a receção. Subiu ao palco e em coro com a plateia gritou “PSD, PSD!”. Visivelmente bem disposto, confessou que, apesar de não ter estado presente no arranque da sua própria convenção, se tinha preocupado por acompanhar a iniciativa: “Tenho procurado seguir pelas redes sociais”, justificou-se.
À entrada triunfal, seguiu-se um momento em que Santana Lopes, sozinho em palco, respondeu a perguntas enviadas ao longo da última semana para a organização da convenção. Falou de saúde, das comunidades portuguesas no estrangeiro – “também eu já fui emigrante”, lembrou pelo meio – e do Estado Social – a que prefere chamar “Estado Solidário, porque o social já teve o seu tempo.” Defendeu a aposta num caminho que leve à “introdução do voto eletrónico”, relembrou a necessidade de avaliar a relação “da república com as regiões autónomas”, e manifestou a vontade de investir na descentralização. Mas foi na intervenção final, que aconteceu cerca de uma hora depois, que apostou todas as fichas.
O pedido de desculpas que não o foi
A sala manteve-se cheia até ao regresso do ex-autarca ao palco. Depois de mais um longo e entusiástico aplauso, e com uma hora e meia de atraso, Santana Lopes subiu os degraus até ao palco, colocou-se atrás do púlpito e entrou ao ataque. “Não começámos a organizar esta convenção no dia seguinte ao debate desta semana.” O candidato respondia assim aos críticos que ao longo da semana o acusaram “de usar apenas argumentos menores.”
O debate com Rui Rio da passada quinta-feira foi um dos tópicos a que mais recorreu no início da intervenção. Referindo-se por diversas vezes às reações difundidas nos último dias, Santana Lopes aproveitou para lançar farpas ao “outro candidato à liderança do partido.” Elogiando a organização da sua convenção, provocou o adversário: “compreendo que se incomodem, olhando para aqui, percebendo aquilo que temos vindo a fazer semana após semana.”
Num discurso galvanizador, interrompido algumas vezes por fortes aplausos, e embalado pelas críticas de quem o acusa de não ter aprendido com o passado, o ex-primeiro-ministro usou a ironia para pedir desculpa. Lembrando a careta de Paulo Portas ou a polémica declaração de 2004 quando comparou o seu governo a um bebé numa incubadora, reduzindo as “trapalhadas” do seu governo a casos menores, Santana Lopes voltou a lembrar que nunca lhe explicaram os verdadeiros motivos da sua destituição. “Querem que eu peça desculpa? Eu peço desculpa, confesso-vos, já não sei bom porquê, porque nunca ninguém teve a hombridade me dizer”, ironizou.
Seguindo a tónica de utilizar as críticas de que foi alvo na sequência do debate como fio condutor da sua intervenção, o ex-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ia justificando a sua estratégia enquanto lançava novos ataques à candidatura do adversário. “Não é igual escolher um líder do partido que esteve sempre lá quando o partido precisava do que escolher um líder que em nome de uma dignidade pessoal não tem remorso nenhum colocar-se ao lado dos adversários do partido.” Defendia-se, atacando. A estratégia estava identificada e a plateia parecia anuir.
Críticas à “frente de esquerda” e o desafio lançado a Costa
Depois de uma primeira parte onde tentou limar algumas arestas de um debate que ainda faz correr tinta, a intervenção se Santana Lopes apontou baterias ao Governo e à maioria que o suporta.
Para o candidato, o PS foi a razão pela qual o ainda líder do PSD não conseguiu “fazer mais”, já que “teve de salvar o país da quase bancarrota.” Um elogio a Passos Coelho que animou uma vez mais os militantes presente na sala onde decorreu o primeiro congresso da história do partido e que foi a ligação perfeita para atacar o novo alvo: “a frente de esquerda.”
Criticou a estratégia seguida pelo Governo, voltou a referir a necessidade de colocar o país a crescer acima dos 3% e de apostar na descentralização. Tudo para depois visar Bloco de Esquerda e PCP. “Só há uma razão para a extrema esquerda ter aprovado um OE 2018 dez minutos depois de ter acusado o Governo de ter faltado à palavra dada: querem continuar no poder”, disse.
No final da uma intervenção que durou cerca de meia hora, o candidato voltou aos debates. Afirmou não ter medo de enfrentar Rui Rio mas confessou que o debate por que mais espera “é aquele que vai acontecer depois do congresso de fevereiro.” E acrescentou: “desafio António Costa para ir escolhendo uma data.” Antes, tem de vencer as eleições agendadas para dia 13. Mas fica o desafio.