São números nunca antes vistos num processo judicial em Portugal. E o processo ainda não chegou ao fim. Até 8 de março deste ano, os investigadores da Operação Marquês já tinham transcrito para o processo 3482 sessões telefónicas. Ao todo, são 75h33 minutos de conversa que o Ministério Público entende ser relevante para o inquérito que tem como principal arguido o ex-primeiro-ministro José Sócrates.
Além das escutas que foram ordenadas pelo juiz Carlos Alexandre assim que nasceu, no Verão de 2013, a Operação Marquês, o procurador Rosário Teixeira tem ido “repescar” escutas a outros processos judiciais que têm alguns arguidos em comum. Foram transcritas 318 sessões ouvidas originalmente no Monte Branco – que investiga uma enorme rede de fuga ao fisco e tem Ricardo Salgado entre os arguidos – e 49 que estavam guardadas no processo Face Oculta, que investigou uma rede de corrupção montada entre um sucateiro e altos quadros do Estado.
Segundo um relatório assinado pelo inspector tributário Paulo Silva, a 8 de Março a equipa que investiga a Operação Marquês queria ainda juntar ao processo 2 interrogatórios (de arguidos), 2 inquirições (de testemunhas), 22 apensos e 333 buscas originárias do Monte Branco. Só sobre a Portugal Telecom (PT), a Operação Marquês já reuniu mais de 2 milhões de ficheiros informáticos e 75 mil folhas de documentos.
O enorme volume de interrogatórios, e a necessidade da sua transcrição, também tem contribuído para a demora do processo. E também para o seu tamanho, que já vai em mais de cem volumes. Só até março – é preciso ainda somar tudo aquilo que os últimos arguidos e testemunhas disseram ao Ministério Público desde então – já se contabilizavam 98 horas de interrogatórios e 248 horas de inquirições. Ao todo, nada mais, nada menos, do que 346 horas.