O ex-ministro e ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos Armando Vara esteve esta quarta-feira de novo a ser interrogado nas instalações do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), no âmbito da Operação Marquês. Ao que a VISÃO averiguou, a equipa liderada pelo procurador Rosário Teixeira quis apresentar ao arguido todas as provas devidamente organizadas contra si e confrontá-lo com todos os movimentos bancários que estão sob suspeita.
Armando Vara, entretanto condenado no processo Face Oculta (em fase de recursos), aparece no meio do circuito do dinheiro que, segundo o Ministério Público, terá terminado em José Sócrates devido a dois milhões de euros que terão saído da conta de um cliente holandês do resort Vale do Lobo, Jeroen Van Dooren, e terão passado pela conta na Suíça de Joaquim Barroca (patrão do grupo Lena), até seguirem duas diferentes trajectórias: 1 milhão terá ido para Carlos Santos Silva, o empresário suspeito de ser o testa-de-ferro de Sócrates, e outro milhão terá ido parar à conta da Vama Holding, de Armando Vara.
Durante algum tempo, este foi um dos mistérios da Operação Marquês: porque iria um holandês endinheirado transferir 2 milhões de euros para Joaquim Barroca? Aos poucos, todos os caminhos levaram os investigadores para Vale do Lobo. O cliente holandês contou no processo ter sido Diogo Gaspar Ferreira, CEO do empreendimento de luxo do Algarve, a indicar-lhe o número de conta para onde deveria fazer uma transferência de 2 milhões de euros.
Esse dinheiro, segundo o holandês, serviria para pagar o direito a escolher a construtora da sua casa e o seu próprio projecto de arquitectura. Antes, Jeroen Van Dooren já tinha dado 4,3 milhões de euros pela compra do lote de terreno em Vale do Lobo.
O Ministério Público suspeita que o milhão que veio a cair na conta de Armando Vara seria uma contrapartida por a Caixa Geral de Depósitos ter aprovado financiamentos ao empreendimento de luxo algarvio – e que viriam a ser ruinosos para o banco público.
Os investigadores estão ainda a investigar uma série de transferências que terão sido ordenadas por Vara através da Vama Holding e de outras sociedades offshore que detinha, como a Orsatti Corporation. Logo em 2009, terá sido feita uma transferência de mais de 2 milhões de euros da Vama Holding para a Walker Holdings, também controlada por Vara. Mais tarde, terão sido feitas outras da Orsatti para terceiros. O puzzle completo ainda está a ser montado pelo Ministério Público, que já tem grande parte do despacho de acusação preparado. Nos últimos meses têm sido feitos vários interrogatórios complementares, para evitar que nenhum arguido venha a ser acusado de factos com que nunca foi confrontado. Essa lógica vai continuar nos próximos dias.