Galeto
No mais popular snack-bar da capital, que encerra apenas um dia por ano – não é nem no Natal nem no Ano Novo, mas sim no dia 1 de maio, Dia do Trabalhador –, a última entrada acontece às três da manhã, confirma-nos Francisco Oliveira, filho de um dos fundadores, António Oliveira, e atual proprietário do Galeto, aberto há 59 anos. Obra dos arquitetos Victor Palla e Bento d’Almeida, símbolo do que de mais moderno se fazia no País em meados dos anos 1960, ganhou o título de Loja com História em 2016.

Desengane-se quem acha que poderá ser o único com apetite durante a madrugada. A recente fila de espera que se forma noite adentro para conseguir lugar naquele balcão de madeira envernizada comprova que o Galeto está (de novo) na moda. Ou talvez nunca tenha saído. Seja no fim de um concerto, no Campo Pequeno, por exemplo, depois de um jogo de futebol, ou de mais um turno no trabalho, sabe bem repor os níveis de bons sabores. Escolher o bife à Galeto (€18,80), servido no típico prato de alumínio com ovo estrelado, fatia de fiambre e pickles, mais a “meia meia” (€4,30), como lhe chamam os empregados, um prato com metade de batatas fritas e outra metade de esparregado, é seguramente um dos pedidos que mais trabalho dá à cozinha. Av. da República, 14 > T. 21 354 4444 > seg-dom 7h30-3h
Evolution Lisboa
Este pode ser um dos segredos mais bem guardados da capital, mas que a partir desta nossa edição será revelado a todos os que noite dentro, em bons convívios, têm um “ratito” que não os larga enquanto não comem qualquer coisa. Se a maioria dos lisboetas natos conhece de cor os lugares a funcionar até de madrugada, talvez ainda não tenham descoberto o The Kitchen e o The Living Room, restaurante e bar abertos 24 horas no amplo e convidativo lobby do hotel Evolution Lisboa, graças à iluminação a atirar para o futurista.

Neste quatro estrelas do grupo Sana, bem localizado na central Praça do Saldanha e bem visível graças à escultura de Gustavo Fernandes – uma mão esquerda com 8,5 metros de altura, que sustenta o hotel –, a cozinha não fecha e a qualquer hora se pode comer um entrecôte de novilho Black Angus (€28), um hambúrguer de picanha com queijo cheddar, alface, tomate, aioli de malagueta (€18) ou um pica-pau do lombo, com alho e pickles (€22, 150 gramas). A única restrição é servirem bebidas alcoólicas até às três da manhã, depois dessa hora venham as águas, os sumos e refrigerantes ou os mocktails. Tudo o que nos hidrate, pois a noite vai longa. Pç. Duque de Saldanha, 4 > T. 21 159 0200 > aberto 24h
Snob
Passou a abrir todos os dias, desde que reabriu em dezembro passado, depois de Miguel Garcia (sócio do Café de São Bento) ter comprado o Snob ao anterior proprietário, o senhor Albino Oliveira. Entrando, tudo é familiar neste bar que abriu em 1964, embora esteja visivelmente renovado. A madeira que cobre as paredes foi tratada, a alcatifa no chão é de um vermelho-vivo. Sobre as mesas já não há panos verdes de jogo, mas os candeeiros de latão são os mesmos, assim como os sofás, agora forrados de couro verde-garrafa.

Da pequena cozinha envidraçada, instalada na segunda sala, sai o prato supremo da casa: o bife à Snob (lombo €20, vazia €17), 160 gramas de carne frita num molho de natas, com batatas fritas cortadas aos palitos grossos, seguindo a receita do senhor Albino. Os valentes dificilmente hão de resistir aos croquetes (€4,50/duas unidades) com mostarda Savora. Basta descer uns 30 metros da Rua de O Século, pelo passeio do lado esquerdo, e tocar à porta encimada por um toldo verde, como sempre se fez. R. de O Século, 178 > T. 92 645 9164 > seg-dom 19h-2h (cozinha fecha à 1h)
Café de São Bento
É preciso tocar à campainha – “Please ring the bell”, lê-se na tabuleta dourada –, e ali estamos a tocar. Um dos empregados, fardado com camisa branca, papillon e colete em padrão escocês, recebe-nos com simpatia e deixa-nos passar, desviando a pesada cortina. Situado a dois passos da Assembleia da República, o Café de São Bento ganhou fama como sendo o poiso habitual de muitos políticos, mas, se isso é verdade, entre a clientela é possível muitas vezes encontrar três gerações de uma família à mesa. A esmagadora maioria vem pelo bife, inspirado no antigo bife à Marrare, numa receita apurada ao longo dos anos, que é a imagem deste clássico lisboeta inaugurado em 1982 (faz no próximo mês de julho 43 anos).

O bife à Café de São Bento (vazia €27/200 g, lombo €30/200 g, €35/250 g) chega mergulhado num molho saboroso, perfeito para molhar as batatas fritas aos palitos servidas numa taça à parte, e, para quem desejar, com ovo a cavalo (€2,50) ou esparregado de espinafres (€4,50). Há outras duas opções, o bife grelhado (com batatas fritas aos palitos ou às rodelas) e o “à portuguesa” (com alho, louro e presunto, acompanhado de batatas fritas às rodelas). Em 2022, o Café de São Bento teve umas obras de renovação, não para mudar alguma coisa, mas para substituir o que já estava marcado pelo tempo. A remodelação chegou ao primeiro andar do edifício, onde existe uma outra sala de refeição. R. de São Bento, 212 > T. 91 365 8343 > seg-sex 12h30-14h30, 19h-2h, sáb-dom 19h-2h (cozinha fecha à 1h)
Café do Paço
Entre a azáfama da campainha da porta a tocar, mais os telefonemas a tentar uma reserva tardia, os três empregados não têm mãos a medir. Às sete em ponto, abre-se uma das salas de refeições mais acolhedoras e cinematográficas da cidade, com os seus sofás altos de veludo carmim com capitoné, uma espécie de cabine com privacidade, para duas a quatro pessoas. Ao som de Frank Sinatra e Nat King Cole, os comensais vão chegando, desde pares de namorados jovens a estrangeiros que já falam português, habitués solitários, famílias com as três gerações, todos à procura do ambiente familiar e intimista, mas com alma transformada em burburinho.

O pedido faz-se sem hesitações: um croquete com mostarda (€1,90), quentinho acabado de fazer, e meio bife (€18,50, 120 g), a que chamam prego do lombo no prato, de uma carne muito tenra e saborosa, cujo molho à base de natas não se sobrepõe. As batatas fritas em palito e o esparregado de espinafres e nabiças são as guarnições certas (quem quiser, pode pedir ovo estrelado, €2). Os bifes do lombo (€25,50, 200 g) podem também ser fritos com alho ou com molho três pimentas. Guarde-se apetite para mais um clássico, o quente e frio da sobremesa (€5,50), guloso gelado de nata com chocolate quente derretido. Aberto há 16 anos, numa zona menos movimentada da cidade, perto do Campo dos Mártires da Pátria, o Café do Paço passou em 2024 a fazer parte do grupo Paradigma e, felizmente, a classe e a qualidade mantêm-se inalteradas. Paço da Rainha, 62 > T. 21 888 0185 > seg-sáb 19h-1h
OUTROS POISOS TARDIOS
Intenso

Serve comida tradicional portuguesa, bem pensada e melhor confecionada pelo chefe Mateus Freire. O clássico bitoque do lombo (€19) vem com batata frita (duas frituras), ovo a cavalo e um molho guloso, apurado durante 62 horas e refrescado com vinho branco, onde se ensopa o pão de trigo, feito na fornada da tarde para o jantar. São 180 gramas de carne macia, para comer num ambiente descontraído. R. da Boavista, 69A > T. 93 838 1922 > seg-qui e dom 12h-24h, sex-sáb 12h-1h
Rocco – Gastrobar
Por ficar próximo de teatros (São Carlos, Trindade e São Luiz), nada como uma sessão cultural seguida de um belo repasto. Sente-se num dos balcões mais vistosos da cidade e mande vir um bife à casa, lombo de novilho, batata frita caseira e ovo estrelado (€32). The Ivens Hotel, R. Ivens, 14 > T. 21 054 3168 > seg-dom 10h30-1h
JNcQUOI Avenida – DeliBar
Na cozinha, estão os chefes António Bóia e Filipe Carvalho, quatro abençoadas mãos na preparação das comidas. Na barra, desenhada pelo catalão Lázaro Rosa-Violán, há 48 lugares à espera, num ambiente elegante, moderno e descontraído. Para fomes mais tardias, quem sabe depois de um espetáculo ou concerto no vizinho Tivoli, no Parque Mayer ou no Coliseu dos Recreios, uma das opções: bife pimentas (€36) ou bitoque com ovo a cavalo, foie gras e chips de batata (€37). Av. da Liberdade, 182-184 > T. 21 936 9900 > qui-sáb, véspera feriado 12h-2h, dom-qua 12h-24h
Cockpit
Pequenino como o cockpit de um avião, este clássico de Alvalade estende-se para uma esplanada aquecida e bastante concorrida por uma clientela heterogénea. Pedro Maurício, o proprietário, é um anfitrião exemplar. Sempre atento, cumprimenta os clientes e tira os pedidos, dando sugestões sem hesitar. Quando lhe perguntamos por um bife (“nem é o que sai mais na casa”), dá-nos quatro opões: recheado com queijo de Serpa (€15), com molho três queijos, com molho de natas (ambos €14), ou um naco de 200 gramas de carne fatiada. Todos levam ovo e acompanham com batata assada e salada. Av. Sacadura Cabral, 18C > T. 21 796 7856 > seg-sáb 18h-2h
Marisqueira O Palácio
Em Alcântara Terra, no “largo das cervejarias” (intersecção entre as ruas Prior do Crato, Vieira da Silva e Maria Pia), fica este templo de bem comer marisco, pratos de cozinha portuguesa e petiscos vários. Na lista, constam bifes e bitoques do lombo com “molho glutão” da casa, acompanhados por uma travessa de batatas fritas aos palitos e uma imperial bem geladinha. R. Prior do Crato, 142 > T. 21 396 1647 > seg-qua, sex-dom 12h-2h
Portugália
Na casa que assinala um século este ano, no dia 10 de junho, mantém-se a máxima com que abriu em 1925: “Uma cervejaria democrática.” Os bitoques no prato de barro podem ser servidos com molho à Portugália, ou grelhados com manteiga de ervas. Os cortes da carne de vaca variam entre vazia (€17,50), alcatra (€14) e lombo (€23,50). À meia-noite, temos de estar saciados e na rua. Av. Almirante Reis, 117 > T. 21 314 0002 > seg-dom 12h-24h
Brilhante

É num ambiente de brasserie, com balcão em pedra com 26 lugares, que o chefe Luís Gaspar serve o bife à Brilhante, inspirado no clássico bife à Marrare, especialidade dos antigos cafés do século XIX, trazida para Lisboa por António Marrare, cozinheiro napolitano. A receita ganhou aqui nova identidade, sobretudo graças ao molho, depois é só escolher carne do lombo (€31) e os acompanhamentos: ovo estrelado (€2,50), escalope de foie gras e esparregado de espinafres com Parmigiano Reggiano (€12) ou lavagante (€25). R. da Moeda, 1 l > T. 21 054 7981 > seg-qui 12h-16h, 19h-24h, sex, véspera feriado 12h-16h, 19h-1h, sáb 12h-1h, dom, feriados 12h-24h
Sala de Corte
Há dez anos, que esta steakhouse especializada em carne maturada marca o ritmo dos restaurantes centrados na proteína bovina. São vários os cortes à escolha (vazia, picanha, entrecôte, lombo, chateaubriand, t-bone, chuletón), com gramagens diferentes e preço cobrado por quilo. Vai para a mesa numa tábua de madeira e um dos sete molhos disponíveis (chimichurri, maionese de trufa-preta, béarnaise, manteiga Café de Paris, pimentas, cogumelos, Stilton). Pç. D. Luís I, 7 > T. 21 346 0030 > seg-qui 12h-16h, 19h-24h, sex, véspera feriado 12h-16h, 19h-1h, sáb 12h-1h, dom, feriados 12h-24h
Mini Bar Avillez
Passando a agitação habitual do Bairro do Avillez, escondida naquela que parece uma estante, fica a porta que dá acesso ao Mini Bar. O bar gastronómico do chefe José Avillez, onde o ambiente é festivo (há música ao vivo e DJ set), serve um lombo maturado na brasa com mostarda trufada (€26,25). Os acompanhamentos são à parte: batatas fritas simples (€6,50) e com trufa e parmesão (€12). Bairro do Avillez > R. Nova da Trindade, 18 > T. 21 130 5393 > seg-qua e dom 19h-2h, qui-sáb 19h-3h
Cervejaria Trindade
Abriu em 1836 aquela que é considerada a cervejaria mais antiga do País. Em 2022, na última remodelação, reabriu com novidades pensadas pelo chefe Alexandre Silva. No entanto, os clássicos mantêm-se e entre eles lá está o bife à Trindade, da vazia (€17,90) ou do lombo (€25,40), servido com molho, batata frita (€3,20) e ovo estrelado (€1,30) na típica frigideira de cobre. O que interessa é ter lugar na Petiscaria, no balcão, no restaurante ou na esplanada, pois a cozinha trabalha em contínuo até ao fecho. R. Nova da Trindade, 20C > T. 21 342 3506 > seg-qui, dom 12h-24h, sex-sáb e véspera feriado 12h-1h