As tecnológicas “usam conteúdos e não pagam”, controlam 80% da publicidade digital, “pagam pouco impostos”, em Portugal, e dão “guarida a falsas notícias”. Francisco Pinto Balsemão, homenageado durante a sessão solene comemorativa dos 31 anos do Politécnico de Lisboa, criticou os gigantes da internet – como a Google, Facebook ou Amazon – e a “promiscuidade” que existe entre estes e o poder político. “Na democracia do nosso tempo, o poder político parece mais empenhado em dar prioridade à segurança do que em proteger a liberdade, incluindo nesta, claro, a liberdade de informação”, disse, num discurso sobre “O que é, hoje, lutar pela liberdade de expressão”.
Num mundo de pós-verdade, “factos alternativos”, o ‘chairman’ do grupo Impresa (editor da VISÃO) avisa que lutar pela liberdade de expressão significa também “não aceitar” que, em nome da segurança, “as liberdade em geral vão sendo cerceadas”. Com o exemplo das últimas eleições francesas, que deram a vitória a Emmanuel Macron, lembra que se chegou “ao extremo de recorrer aos gigantes da Internet, que são os principais responsáveis pela disseminação das mentiras e das meias verdades, para tentar travar os efeitos daquilo que eles próprios, alegando a neutralidade dos seus algoritmos, contribuíram para gerar”.
Francisco Pinto Balsemão foi um dos signatários de uma carta aberta de 33 grupos europeus de media, enviada na semana passada a Bruxelas, sobre os riscos das novas iniciativas legislativas na área digital. “As propostas atuais sobre ePrivacidade farão com que os dados dos cidadãos digitais europeus acabem concentrados nas mãos de um número reduzido de empresas globais”, lê-se no documento dirigido à Comissão e ao Conselho Europeu. O setor reclama a gestão direta dos seus conteúdos, o direito a saber quantas vezes são usados e onde, para que a relação entre os leitores e os media “não se debilite ainda mais”.
Só o Google e Facebook controlam 20% do gasto mundial em publicidade e cerca de 90% do acesso à web na Europa está nas mãos de quatro empresas – Google, Apple, Microsoft e Mozilla. “As empresas de media precisam recuperar as receitas perdidas em publicidade e em venda de conteúdos. O fenómeno não atinge a televisão e a rádio com a mesma gravidade, mas é visível na Imprensa, em papel ou digital”, disse hoje o ‘chairman’ da Impresa. Os media tradicionais têm alertado para o domínio claro das gigantes tecnológicas, que pode voltar a se for aprovada a nova proposta de Bruxelas, que altera o acesso à pegada digital dos internautas.
Perante a adesão às redes sociais – que cada vez mais pessoas assume ser uma fonte primária de informação –, Balsemão defende que “os jornalistas (e os produtores de conteúdo profissionais de qualidade, em geral) se reposicionem”. Como? “No caso do jornalismo, temos cada vez mais de nos dedicar ao como e ao porquê de cada notícia, visto que, mal ou bem, as redes sociais já se encarregam do quando, do onde e do quem”,
No mercado português, Balsemão disse que o jornalismo é uma actividade profissional “altamente fiscalizada e escrutinada” por uma longa lista de entidades e sujeita a uma pressão constante de grupos económicos e de grandes anunciantes. “Para que esse quadro fique completo, deverá assinalar-se a existência de empresas de media que não estão preocupadas em ganhar dinheiro e, assim, garantir a sua independência, mas apenas em influenciar o poder político para, por essa via, garantirem o êxito noutros negócios”, disse, depois de alertar para os riscos da liberdade de expressão ser “cerceada” no País.