O primeiro-ministro tinha desafiado todos os partidos a aprovarem por unanimidade uma resolução contra a aplicação de qualquer sanção a Portugal por parte da Comissão Europeia. Mas o máximo que se conseguiu foi aquilo a que o Presidente da Assembleia da República chamou de “consenso verificável” do Parlamento português, ou a certeza de que “todos” os deputados “votaram contra eventuais sanções a Portugal”, por serem “injustas, infundadas e incompreensíveis”.
Numa votação algo sui generis, o PS mostrou que neste questão o que lhe importa é vincar a intransigência portuguesa contra as sanções. Os socialistas votaram a favor tanto o projecto que assinaram ao lado de PCP, BE, PEV e PAN, como o texto que PSD e CDS decidiram colocar sozinhos a votação. Resultado: as duas foram aprovadas.
Coube depois a Ferro Rodrigues fazer a interpretação: o que fica “claro”, disse o Presidente da Assembleia, “é que todos os deputados desta Câmara votam contra eventuais sanções”, acrescentando que se trata de “um consenso bastante verificável”.
Durante a semana, esquerda e direita tentaram uma aproximação a um texto comum , que permitisse mostrar a Bruxelas um sinal claro do Parlamento português contra qualquer sanção por défice excessivo.
Mas apesar dos esforços, não foi possível convencer PCP, BE e PEV a aceitarem uma nota em que PSD e CDS insistiram até ao fim: a de que houve “esforços” de “consolidação nominal e estrutural” durante a crise que afetou Portugal, ou seja, fruto da ação do anterior governo. A esquerda não acedeu e o voto de condenação foi assinado unicamente por PS, PCP, BE, PEV e PAN. Nuno Magalhães, do CDS, diz que a culpa foi do PCP, que se recusou a votar a tal frase da consolidação. A denúncia serviu para acusar o PS de estar “refém” dos comunistas.
Carlos César recorreu à analogia com o futebol para descrever o momento,. “Uns podem ser do Benfica, Sporting ou Porto”, mas quando é a “seleção nacional aplaudem pelas mesmas razões e pelos mesmos motivos”: a “Assembleia da República devia dar 7-0” nestas questões das eventuais sanções a Portugal por défice excessivo, sustentou.