J., de 37 anos, andava há mais de 24 horas com um corpo na bagageira de um carro. Tinha feito tudo meticulosamente depois de ter provocado uma morte imediata a M., motorista de táxi, com uma faca de cozinha e sucessivos golpes no pescoço, na zona de Barcarena. Agarrou no táxi da vítima, transportou o corpo até sua casa, na zona da Grande Lisboa, alterou as chapas de matrícula do veículo e fez-se à estrada, na expetativa de se vir a desfazer do corpo.
O que tramou J., em primeira análise, não foi o homicídio, mas um crime menor. Quem investiga homicídios costuma falar desse momento: aquele em que a esmagadora maioria dos assassinos comete um erro, um deslize ou uma asneira. J. viajou mais de 300 quilómetros com o corpo de M. na mala do carro, até ao momento em que o cheiro começou a incomodá-lo. Encontrou um Intermarché, estacionou o carro no parque, percorreu as filas do supermercado, agarrou numa vela aromática e saiu sem parar nas caixas de pagamento. O suficiente para a polícia ir ao seu encontro, por uma denúncia de furto.
Quando os agentes da PSP espreitaram o carro, por volta das 9h40m, para ver se encontravam outras mercadorias roubadas, também eles foram alertados pelo cheiro. Pediram para o condutor abrir o porta-bagagens do automóvel. Foi nesse momento que J. deixou de ser um mero suspeito de um furto num supermercado para se transformar num homicida privilegiado. Dentro da mala estava um homem de 60 anos, morto, com “sinais de esfaqueamento”.
Coube ao Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Oeiras e à Polícia Judiciária, que conduziram a investigação, desvendar os contornos do crime. J., traído pelo seu olfato, vai agora a julgamento num tribunal coletivo por quatro crimes: furto qualificado, falsificação de documentos, homicídio qualificado e ocultação de cadáver.