Jovem professora universitária, advogada, deputada, mãe de quatro filhos. Uma cara renovada, que quer cortar com um passado “austeritário” e passar a marcar a agenda mediática com temas do quotidiano, que resolvam os problemas das pessoas. Uma voz rouca mas refrescada, capaz de sair das teias da macroeconomia e da ideologia. Uma atitude pragmática, sensata, movida por desígnios mais positivos do que aqueles (“de mera resposta aos condicionalismos externos e à crise”, segundo fonte do CDS) que têm caracterizado a direita.
É assim que, no CDS, veem chegar Assunção Cristas, uma militante com pouca tarimba política que teve a ousadia (cautelosa) de se colocar na corrida à sucessão do mais carismático (e duradouro) líder partidário. Há, claro, dúvidas. “É preciso saber se uma pessoa tão comprometida com o passado [recente] do partido tem capacidade de abrir uma página nova, de concretizar a sua abertura ou se é apenas uma mudança de pessoa”, questiona Filipe Anacoreta Correia, o líder do movimento Alternativa e Responsabilidade que no último congresso fez frente a Paulo Portas. Nesse janeiro de 2014, perdeu por muitos votos. Agora, quer perceber se volta a avançar ou se Cristas é capaz de “romper com o estilo unipessoal de definição de estratégias e trabalho em equipa” que a oposição interna tanto tem reclamado.
Cristas, como Anacoreta, está a elaborar uma moção para levar ao congresso de 12 e 13 de março. Querem mostrá-las aos militantes depois das presidenciais e, com os seus contributos, melhorá-las.
Conservadora de causas novas
Nuno Melo aproveitou o seu anúncio de não-candidatura à liderança para passar o testemunho a Cristas. Deu-lhe, ali, em direto, o seu apoio. Pouco depois, Paulo Portas gabou a determinação da sua ex-ministra. Outros apoios apareceram: Diogo Feio, Hélder Amaral, Nuno Magalhães. João Rebelo, Manuel Isaac (líder da distrital de Leiria, por onde Cristas é eleita desde 2009), Lino Ramos (ex-deputado) ou Pedro Morais Soares (presidente da junta de freguesia de Cascais-Estoril, que foi diretor da última campanha de Portas, em 2014), acompanham-na mais de perto, na coordenação da campanha.
Parece mesmo (regressando ao temor de Anacoreta) um “portismo” sem Portas, mas ao Expresso, Cristas afastava esse fantasma, garantindo serem os dois “tão diferentes” que nem tem “medo de comparação”. De facto, Assunção defendeu o casamento entre pessoas do mesmo sexo e bateu-se pela mudança do registo do sexo no assento de nascimento dos transexuais, temas pouco habituais no CDS. “A existência, no CDS, de pessoas que pensam assim é sinal de que há, no seu eleitorado, pessoas que pensam assim”, justifica um dirigente.
Não deixa de ser conservadora, mas “sabe ler muito bem os sinais do seu tempo”, diz a ex-deputada Teresa Anjinho. Daí estar aplicada a escolher três ou quatro bandeiras por cada área da governação, para depois delinear uma oposição que dê respostas aos problemas das pessoas.
A volta que porá Cristas a conhecer e dar-se a conhecer ao CDS profundo começará em Leiria, dia 26. O resto da volta terá de ser combinada com o marido (que ficará a cuidar dos filhos). Mas só em março, no congresso (provavelmente no distrito do Porto), se verá se Assunção conseguiu convencer os democratas cristãos e levar avante o seu projeto de, como diz Adolfo Mesquita Nunes, “fazer com que o CDS seja a primeira e descomplexada escolha de centro e de direita e que possa competir com o PSD pela primazia” desse espaço político.