A morte de Andrei Krukovski, no passado domingo, 1, é descrita de forma quase idílica pela agência de notícias russa TASS, como a de um homem que “adorava as montanhas”, tendo “encontrado a paz nelas”. O diretor-geral do resort de ski de Krasnaya Poliana (sob a gestão da Gazprom), de 37 anos, não resistiu aos ferimentos provocados pela queda de um penhasco, enquanto percorria um trilho na fortaleza de Achipsinkaya. O acidente está a ser investigado pelas autoridades russas.
Os casos sinistros, a envolver oligarcas russos e as suas famílias, multiplicam-se desde o início do ano. A 25 de fevereiro, logo após a invasão da Ucrânia pelas forças russas. Alexander Tyulyakov, 61 anos, diretor-geral do Centro Unificado da Gazprom para a Segurança Cooperativo, foi encontrado morto, na garagem de sua casa na cidade de Leninsky, nos arredores de São Petersburgo. Aparentemente, as circunstâncias da morte deste quadro de topo da petrolífera estatal russa apontam para suicídio, segundo o jornal russo Nova Gazeta, tendo sido encontrado no local um bilhete, cujo conteúdo não foi revelado.

As tragédias não têm ocorrido apenas no território russo. A 28 de fevereiro, Mikhail Watford, 66 anos, que vivia no Reino Unido desde o início do milénio (por essa altura, alterou o seu apelido original, Tolstosheya), foi encontrado pelo jardineiro, enforcado, na garagem de sua mansão no Surrey. O magnata do gás e do petróleo, nascido na Ucrânia durante a era soviética, não tinha sido, contudo, alvo de sanções pelo Governo britânico. As autoridades policiais que conduziram a investigação afirmaram não existir circunstâncias suspeitas, mas apenas “inexplicáveis”.
Igualmente do setor energético, o empresário Sergey Protosenya, 55 anos, a mulher Natalya e a filha Maria, de 53 e 18 anos, foram encontrados mortos, a 20 de abril, na sua casa de Lloret del Mar. Segundo a imprensa espanhola, acredita-se que o oligarca russo, com fortuna avaliada em 440 milhões de dólares, se terá enforcado, após esfaquear até à morte as duas mulheres.

Esta não foi a primeira vez que as famílias dos magnatas foram envolvidas nos acontecimentos dramáticos. Em meados de abril, o cadáver do antigo vice-presidente do Gazprombank, o terceiro maior banco da Rússia, Vladislav Avayev, 50 anos, foi encontrado, pela filha mais velha, com uma arma na mão. Na casa de Moscovo, estavam ainda os corpos da mulher e da filha mais nova, de 47 e 13 anos, cravados de balas. Ex-oficial do KGB, o multimilionário era considerado próximo de Putin. As autoridades russas acreditam que se terá tratado de um duplo homicídio, seguido de suicídio, já que as portas do apartamento estarem fechadas por dentro. A imprensa russa, pró-Kremlin, afirma que terá sido um ato tresloucado do banqueiro, ao descobrir a gravidez e a infidelidade da mulher. Segundo o Daily Mail, Vladislav Avayev, outro antigo membro do Gazprombank, que abandonou recentemente a direção – o banco foi escolhido por Putin para receber os pagamentos do gás russo em rublos –, rebateu esta versão e defendeu tratar-se tudo de uma encenação, para encobrir os assassinatos.
No final de março, terá sido Vasily Melkinov, pertencente à direção da empresa médica MedStom, a esfaquear até à morte a mulher, de 41 anos, e os dois filhos, de quatro e dez anos, e a suicidar-se de seguida. As avultadas perdas da empresa, após as sanções económicas contra a Rússia, são uma das hipóteses avançadas para o sucedido. Se remontarmos a janeiro, outro caso levantou suspeitas. Leonid Schulman, 60 anos, diretor da Gazprom, foi encontrado morto na casa de banho da sua residência, em São Petersburgo. A carta de despedida encontrada perto do corpo sustentou a tese do suicídio.
Afinal, estamos perante atos de desespero ou silenciamentos perpetados pelo regime de Putin? “Sempre que um russo rico morre em circunstâncias suspeitas, deve-se supor o pior”, afirmou Bill Browder, em entrevista à Newsweek. O fundador e CEO da Hermitage Capital Management, foi o maior investidor estrangeiro na Rússia até 2005, altura em que foi proibido de entrar no país. Desde 2009, tem conduzido uma campanha global para denunciar a corrupção e os abusos dos direitos humanos na Rússia. “Tem havido evidências empíricas suficientes de assassinatos organizados pelo Kremlin ou rivais de negócios na Rússia, para tornar provável que tenham sido assassinatos e não suicídios e outras explicações que foram cogitadas pelas autoridades russas”, acrescentou.
Já o banqueiro Oleg Tinkov, fundador de um dos maiores bancos russos, em entrevista concedida ao New York Times, denunciou as ameaças de que foi alvo, após as críticas que fez à invasão da Ucrânia, no Instagram. A nacionalização do Tinkoff foi posta em cima da mesa, caso não vendesse a sua participação. Na semana passada, após prescindir de 35% do banco, sem hipótese de negociação, refugiou-se em parte incerta. Quem afronta o presidente, acredita, deve temer as consequências.