A construção das mais famosas pirâmides do Egito, em Gizé, há cerca de 4500 anos, está envolta em mistério, mas um dos seus maiores enigmas pode estar em vias de ser desvendado, com recurso a imagens de satélite que permitem a observação de camadas terrestres antigas, há muito enterradas no subsolo.
Nos meses mais recentes, uma equipa multidisciplinar de investigadores de duas universidades norte-americanas e uma australiana, liderada pela geomorfologista Eman Ghoneim, diretora do Space and Drone Remote Sensing Lab da Universidade de Wilmington da Carolina do Norte, EUA, deu passos consistentes no sentido de comprovar uma teoria que tem vindo a ganhar força nos últimos anos: a existência, naquela época, de um braço do rio Nilo nas imediações dos imponentes túmulos dos faraós, que reforça a hipótese de ter sido através desse curso de água que foram transportados os enormes e pesados blocos de pedra e, também, a vasta mão de obra necessária para erguer, por exemplo, a Grande Pirâmide de Gizé, uma das sete maravilhas do mundo antigo.
Para este mês de dezembro, estão previstos novos avanços na investigação, nomeadamente a consolidação de um mapa mais detalhado sobre os locais por onde serpenteou o Nilo na Antiguidade, quando hoje dista cerca de oito quilómetros do complexo de pirâmides de Gizé.
“Sabíamos que tinha havido um curso de água, um caminho que o antigo Egito usava, mas ninguém sabe onde se localizava”, explicou Ghoneim ao site IFLScience, dedicado a descobertas científicas. “Qual a extensão desse braço do Nilo? Onde se situava? E quão próximo era das pirâmides?”, são interrogações que lhe mereceram atenção mais cuidada, precisou.
A resposta está agora mais próxima, com a descoberta, por via de tecnologia geoespacial, de vestígios deste antigo leito do Nilo, que terá tido uma extensão aproximada de 100 quilómetros e chegado a apresentar uma largura de meio quilómetro. Estas imagens espaciais, equiparáveis a uma espécie de raio-x, são capazes de penetrar o solo em grande profundidade e revelar um mundo escondido, esclarece a investigadora.

O próximo objetivo da equipa é analisar o solo, através de uma expedição ao local, agendada para este mês, de modo a poder confirmar com maior exatidão a presença dessa imensidão de água, que poderá ter-se estendido por entre 38 estruturas de pirâmides na época em que elas foram construídas. A informação oferecerá mais certezas sobre o processo por detrás destas fascinantes obras de engenharia, sendo que a localização de alguns templos adjacentes, como se assinalassem portos estratégicos desse período da História, parece apontar na mesma direção.
Apesar das muitas hipóteses avançadas ao longo das décadas mais recentes – umas mais inverosímeis do que outras, como a extravagante possibilidade de ter sido erguida por extraterrestres -, é mais ou menos consensual que mais de 30 mil trabalhadores estiveram envolvidos, de alguma forma, na edificação da Grande Pirâmide de Gizé, com pelo menos quatro a cinco mil a receberem algum tipo de compensação. Considerada a terceira maior pirâmide do mundo, com cerca de 146 metros de altura na sua dimensão original e 6 milhões de toneladas de blocos de pedra, terá demorado várias décadas a ser concluída (estimativas apontam entre duas a cinco) e constitui, hoje, uma das grandes atrações turísticas do planeta. Um projeto digital da Universidade de Harvard permite visitar, através de imagens 3D, algumas câmaras interiores destes túmulos faraónicos.