Em Portugal, apesar da popularidade do sushi, ainda são pouco usuais os restaurantes de kaitenzushi, onde a comida circula em pratos colocados em tapetes rolantes e os clientes servem-se diretamente do que querem – as contas fazem-se, por exemplo, tendo em conta o número e a cor dos pratos, cada uma representativa de um preço. No Japão, falamos de uma indústria avaliada em 740 mil milhões de ienes (5,12 mil milhões de euros) em 2021 e que normalmente está associada a refeições de baixo custo. Desde há umas semanas, começaram a circular vídeos de clientes a colocar os dedos na comida, a pôr wasabi nas peças e a lamber os frascos dos molhos de soja ou os utensílios à disposição de outros clientes. Os vídeos tornaram-se virais, as cadeias de restaurantes sofreram prejuízos significativos e, agora, estão a ser obrigadas a repensar o seu modelo de negócio. Ou seja, os tapetes rolantes terão de fazer uma pausa por uns tempos.
Recuperar a imagem e os padrões de higiene tornou-se prioritário face a estes casos de “terrorismo do sushi”, como têm sido denominados estas partidas de mau gosto levadas a cabo, maioritariamente, por adolescentes. Sushiro, o líder dos kaitenzushi no mercado japonês, sofreu quebras acentuadas no negócio, com as suas ações a caírem 5% na bolsa, após terem sido divulgados vários vídeos de comportamentos inadequados nos seus espaços. E reagiu anunciando a criação de uma fila expresso, com os clientes a terem de fazer os pedidos através de um ecrã tátil. Foram ainda apresentadas queixas contra os clientes identificados, pelos prejuízos causados à empresa. Choshimaru, uma cadeia de 63 estabelecimentos, passou a aceitar apenas pedidos à carta, sendo a comida, os utensílios e os condimentos entregues diretamente aos clientes pelos funcionários. Na prática, medidas como estas significam que estes espaços se tornam iguais a qualquer outro restaurante de sushi.
Outra cadeia, a Kura Sushi, anunciou que introduziria, em breve, câmaras equipadas com inteligência artificial (IA) para monitorar as mesas dos seus restaurantes, capazes de detetar comportamentos inadequados dos clientes. “Esta é uma crise não apenas para as nossas lojas, mas para toda a indústria de sushi de tapetes rolantes”, disse Hiroyuki Okamoto, relações-públicas da empresa, acrescentando que o uso da IA tranquilizaria os consumidores, mesmo que isso significasse colocá-los permanentemente sob vigilância.
“Estes incidentes de terrorismo do sushi estão a acontecer porque há menos funcionários nas lojas para ficar de olho nos clientes”, disse à CNN Nobuo Yonekawa, crítico de restaurantes em Tóquio há mais de 20 anos. A recente redução de mão de obra foi feita, acrescenta, para compensar outros custos crescentes do negócio. Mas o Japão também sofre de problemas crónicos de falta de trabalhadores.
O forte impacto destes vídeos estará seguramente relacionado com o facto de terem ocorrido num período em que as pessoas ainda têm de lidar com a pandemia, com o número de casos a aumentar no Japão nos últimos meses. “Em tempos de Covid-19 e à luz destes incidentes, as cadeias de kaitenzushi precisam de reavaliar os seus padrões de higiene e segurança alimentar”, defendeu Yonekawa. “Essas redes precisam de apresentar soluções ao cliente para reconquistar a sua confiança.” E os consumidores japoneses são particularmente atentos às questões da segurança e da higiene alimentar. A verdade é que as mudanças introduzidas terão, por outro lado, a vantagem de evitar o desperdício de comida, já que todos os pratos não reclamados a circular nos tapetes rolantes costumavam ser deitados fora.
Outro tipo de restaurantes low cost, como a popular cadeia Gyoza no Osho (com mais de 700 espaços pelo Japão), também tomou medidas e tirou os condimentos das mesas. Seja como for, conforme salientou um artigo do jornal japonês Yomiuri Shimbun, “o problema provocado por um pequeno número de indivíduos irresponsáveis está a mudar a maneira como as pessoas comem pratos populares e a preços razoáveis em restaurantes de todo o país”.