Lara Logan, comentadora da estação de televisão norte-americana Fox News, gerou controvérsia, esta semana, ao comparar Anthony Fauci, um dos mais reputados imunologistas dos EUA e diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas, a Josef Mengele, conhecido como o “Anjo da Morte”. O oficial das SS alemãs serviu no campo de concentração de Auschwitz, durante a II Guerra Mundial, onde realizava experiências, muitas vezes fatais, com prisioneiros do campo. Depois do fim da conflito, Mengele escapou para o Brasil, onde morreu, com 67 anos, sem nunca ter sido julgado pelos seus crimes.
Tudo aconteceu na passada segunda feira, enquanto Lara Logan estava a discutir a nova variante do SARS-CoV-2, a Ómicron, num programa durante o horário nobre da Fox News. Quando questionada sobre o que pensava a respeito da situação pandémica atual, começou por dizer que “todas as mentiras que nos foram ditas desde o início [a respeito da Covid-19] estão a desmoronar-se”.
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“Realmente agora não há justificação para pôr as pessoas fora dos seus empregos ou forçar mandados de vacinação para uma doença que, em última análise, é muito tratável e tem taxas de mortalidade que se comparam muito com a gripe sazonal”, continuou.
“E assim, neste momento, o que vemos no Dr. Fauci – isto é o que as pessoas me dizem – é que ele não representa a ciência. Ele representa Josef Mengele, o médico nazi que fez experiências com judeus durante a II Guerra Mundial, nos campos de concentração. E estou a falar de pessoas de todo o mundo que dizem isto”, finalizou. O momento pode ser visto no vídeo abaixo:
Os dois restantes participantes no programa não responderam ao comentário acerca de Josef Mengele.
Anthony Fauci, que não comentou o epidósio, admitiu no entanto que tem sido alvo de críticas pelo seu papel no combate à pandemia. “Eu não criei divisões políticas”, disse numa entrevista à CBS News, há duas semanas. “Estamos a lidar com o desconfortável mas real elemento de divisão política, numa altura em que estamos no meio de uma guerra contra um vírus”.
“Eu estou à frente de um instituto que desempenhou, de facto, o papel principal no desenvolvimento das vacinas que salvaram milhões de vidas da Covid-19. Sou o diretor do instituto que tem sido muito importante na investigação básica para a obtenção dos medicamentos que terão um impacto importante no tratamento da Covid-19”, continua o imunologista.
“Portanto, vou continuar a fazer isso até que este surto de Covid-19 fique para trás, independentemente do que alguém diga sobre mim, ou queira mentir e criar fábulas malucas por causa de motivações políticas”.
A página do Twitter do Memorial de Auschwitz, no entanto, partilhou um tweet que, apesar de não endereçar ninguém diretamente, parece ser direcionado a Logan.
“Explorar a tragédia de pessoas que se tornaram vítimas de experiências pseudo-médicas criminosas em Auschwitz num debate sobre vacinas, pandemia e pessoas que lutam para salvar vidas humanas é vergonhoso”, escreveram. “É um desrespeito às vítimas e um triste sintoma de declínio moral e intelectual”.
O Comité Judaico Americano, uma das organizações mais antigas dedicadas à defesa dos direitos do povo judeu, também reagiu no Twitter aos comentários de Logan, classificando-os como “completamente vergonhosos”.
“Josef Mengele ganhou a sua alcunha ao realizar experiências médicas mortais e desumanas em prisioneiros do Holocausto, incluindo crianças. Não há como comparar o inferno por que estas vítimas passaram com as medidas de saúde pública”, escreveram, adicionando que é necessário um pedido de desculpas da parte de Logan.