Segundo Tommy Melo, a desova das tartarugas – cujo pico acontece no verão – já arrancou, o que levou estes voluntários aos trabalhos no terreno, nomeadamente na limpeza das encostas, e em 15 de junho a Biosfera prevê montar acampamentos para monitorização dos ninhos na ilha de Santa Luzia, a única desabitada do arquipélago de Cabo Verde.
“Na verdade, os acampamentos já se encontram montados por causa dos voluntários que estão a limpar as praias em Santa Luzia e logo em seguida vamos dar início aos acampamentos para monitorizar as desovas”, explicou Tommy Melo, em entrevista à agência Lusa, acrescentando que a preparação avançará depois para as praias de São Vicente, juntamente com outros parceiros na ilha.
A sensibilização, de acordo com o ambientalista e líder da Biosfera Cabo Verde, tem surtido efeito nos últimos anos, fazendo baixar a captura das tartarugas para consumo, porém o processo ainda é lento e ultrapassa gerações.
“A informação da ilegalidade do ato penso que já chegou a toda a gente, porém, ainda há alguns prevaricadores, por vários motivos. Primeiro, porque o país tem passado por uma grande crise provocada pela pandemia, e depois, porque existem aqueles que teimam em continuar com aquilo que era tradição no país, de consumo da carne das tartarugas”, lamentou.
No entanto, sublinhou que com a legislação que proíbe a captura e consumo de tartarugas, o trabalho das autoridades e de Organizações Não-Governamentais, como a Biosfera Cabo Verde, e da própria população, esta prática poderá diminuir com o tempo.
No ano passado, segundo dados divulgados pelo Ministério do Ambiente, Cabo Verde somou um recorde de ninhos, de quase 200 mil registados, o que torna o país no segundo destino mais importante das tartarugas na época de desova.
Além da preservação das tartarugas e dos seus ninhos, esta ONG ambientalista está envolvida na formação de pescadores para uma pesca sustentável.
O trabalho iniciou-se com os homens do mar da vila de Salamansa, na ilha de São Vicente, e foi agora levado para a ilha do Sal, a ser implementado por uma outra ONG local, em parceria com a Biosfera Cabo Verde, e consiste em trabalhar diretamente com as embarcações e técnicas de pesca, assim como atualizar os pescadores sobre a legislação nacional do setor.
“As formações decorrem de forma a que as embarcações consigam operar dentro da sustentabilidade, ou seja, utilizando técnicas artesanais, toda a legislação dentro da pesca, tendo em conta os tamanhos mínimos das espécies e melhor forma de conserva do pescado para que possa chegar ao consumidor em boa qualidade”, explicou o responsável pela associação.
De acordo com Tommy Melo, aquela ONG já tem mesmo convites para que o projeto seja replicado nas outras ilhas do arquipélago, entre outros trabalhos em curso.
“Temos ainda em andamento o projeto de requalificação e capacitação da comunidade do Calhau, em que já criamos uma empresa do ecoturismo. Os membros da comunidade estão a receber vários tipos de capacitação para estarem aptos a gerirem esta empresa e gerar fontes de rendimento alternativas e sustentáveis”, explicou.
Segundo Tommy Melo, a Biosfera Cabo Verde está envolvida ainda em projetos de gestão de resíduos e sensibilização ambiental, não só na ilha de São Vicente, onde foi constituída em 2006, mas também noutras de Cabo Verde.
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