O grande nevão provocado pela tempestade Filomena de sexta-feira para sábado deixou praticamente todas as vias de comunicação de Madrid intransitáveis aos automóveis, os transportes públicos rodoviário e ferroviário sem funcionar e o aeroporto paralisado.
Pelo segundo dia consecutivo, as ruas e avenidas cobertas por um manto de neve, nalguns locais com mais de 50 cm de espessura, estão a ser invadidas por esquiadores, famílias com trenós e milhares de habitantes que saíram para caminhar, brincar e divertir-se, apesar das recomendações das autoridades para ficarem em casa, por segurança.
“As crianças obrigaram-nos a levantar cedo para virem brincar com a neve e nós aqui estamos. Temos de aproveitar o fim de semana e o que nos trouxe este nevão histórico”, disse à agência Lusa Juan Carlos Salvador, que pouco depois do nascer do sol já estava a passear no passeio de Madrid Rio com a mulher e os dois filhos menores.
As ruas e avenidas inclinadas de toda a cidade são agora pistas de esqui improvisadas, onde as crianças também usam sacos de plástico para deslizar através da neve com cuidado para não bater em automóveis semiencobertos pela neve ou árvores que caíram com o peso da neve.
Seguindo o conselho das autoridades, os habitantes da cidade estão desde sábado ocupados a limpar a neve acumulada em varandas e janelas, correndo o risco de esta cair na cabeça dos que passavam por baixo, que por vezes se zangavam com a situação.
As escolas vão estar fechadas na segunda e na terça-feira e a presidente da comunidade autónoma de Madrid, Isabel Diaz Ayuso, afirmou que vai ser avaliado no início da semana a possibilidade de vários serviços públicos se manterem encerrados mais alguns dias.
O metropolitano é, esta manhã, o único meio de transporte que funciona com uma certa normalidade e o aeroporto internacional Adolfo Suarez deverá continuar encerrado até hoje à tarde.
Os sem-abrigo de Madrid foram convidados a abrigar-se durante a última noite em locais previamente estabelecidos em várias estações de metropolitano.
A maior parte das lojas e supermercados continuam fechados, porque os funcionários têm dificuldade em chegar ao trabalho.
A tempestade de neve também dificultou inicialmente o acesso aos hospitais, muito concentrados desde há meses no combate à pandemia de covid-19.
“O silêncio e a ausência total de tráfico rodoviário é o que mais me tem impressionado nas últimas horas”, disse Ramon Segarra, assegurando à Lusa que nunca tinha vivido uma situação semelhante nos últimos 72 anos em que vive no bairro de Lavapiés, no centro de Madrid.
O maior nevão que atingiu Madrid desde 1971 deixou 33 litros de neve por metro quadrado em 24 horas.
Os limpa-neves continuam esta manhã o seu trabalho incansável para desobstruir as principais vias de comunicação, antes da chegada de temperaturas negativas, que podem ir até aos -10º Celcius, nos próximos dias, que irão provocar que a neve se converta em gelo, mais difícil de limpar.
Segundo as autoridades regionais, Madrid inicia este domingo uma segunda fase da “muito complexa” tempestade Filomena, na qual o gelo vai dificultar o regresso à normalidade e solicitando a colaboração dos habitantes, a fim de evitar deslocações e ajudar na remoção da neve.
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