“Meu Deus, outra vez não!” A manchete do jornal Daily Mirror, a 6 de junho de 1968, reproduzia o grito que ecoava por toda a América. Robert Kennedy tinha sido alvejado na noite anterior com dois tiros na cabeça, no hotel Ambassador, em Los Angeles, e viria a morrer no dia seguinte, no hospital Good Samaritan.
O ex-Procurador-Geral dos EUA, irmão mais novo do malogrado JFK, acabara de vencer as primárias democratas, e anunciara a sua candidatura à Presidência dos EUA com um discurso que ficaria para a história:
“Martin Luther King foi assassinado, assim como meu irmão. E cabe a nós, os que ficámos, lutar pela causa pela qual eles sacrificaram suas vidas: a justiça e a igualdade entre os homens.”
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Quem matou Bob Kennedy? Um funcionário da cozinha do hotel, de origem palestiniana, foi prontamente agarrado por vários membros do staff do candidato democrata e depois detido pela polícia. Na altura, os jornais registaram que ele teria dito: “Fiz isto pelo meu país”. Cumpria-se, naquele 5 de junho, um ano sobre o início da Guerra dos Seis Dias.
Sirhan Sirhan, então com 24 anos, viria a alegar mais tarde que não se recordava do que acontecera naquela noite, pois estaria drogado. No entanto, durante o seu julgamento, em 1969, confessou o crime. Foi condenado à morte e, ao recorrer da sentença, voltou a negar ter sido o autor dos disparos. Uma das perguntas que nunca teve resposta poderia ter-lhe dado a liberdade: porque se ouvem 13 tiros nas gravações daquele momento se a pistola de Sirhan só tinha capacidade para oito balas? A dúvida não foi considerada suficientemente forte pelo tribunal. Contudo, como a Califórnia aboliu a pena capital em 1972, a sentença de Sirhan foi alterada para prisão perpétua.
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Sirhan Sirhan começou por confessar o crime e foi condenado à pena de morte. Mais tarde negaria ter sido o autor dos disparos que mataram Kennedy
DR
Ao longo dos anos, inúmeras teorias foram sendo investigadas. E mais dúvidas surgiram. A bala fatal para Kennedy, alojada na parte posterior do crânio, terá sido disparada por alguém posicionado nas suas costas. Mas Sirhan estava exatamente à sua frente. Paul Schrade, um dos cinco feridos dessa noite, e que estava mesmo ao lado de Bob Kennedy, disse sempre que o homem que matou o candidato democrata à presidência não era Sirhan. “Houve um segundo atirador. Vi a sua cara. E foi esse homem que matou Kennedy”, testemunharia em tribunal.
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A polícia de Los Angeles foi muito criticada pela imprensa por não ter investigado de forma exaustiva um segurança privado que estava armado nas costas de Kennedy, numa posição coincidente com o ângulo do disparo dos tiros fatais para Kennedy. Além disso, dois empregados do hotel Ambassador, Karl Uecker e Edward Minasian, disseram repetidas vezes que Uecker agarrou o pulso de Sirhan depois deste ter disparado dois tiros, que Uecker o empurrou contra uma mesa e que Sirhan continuou a disparar – mas que nunca se aproximou de Kennedy.
Nos últimos 50 anos, Sirhan já alterou a sua versão dos factos inúmeras vezes. Quase tantas como as que tentou obter liberdade condicional, vendo sempre os seus pedidos recusados. Terá sido um fantoche nas mãos de interesses poderosos, pago para distrair as atenções do verdadeiro assassino? Saberá ele o que realmente aconteceu? Certo é que, 50 anos depois daquela noite, permanece preso numa cadeia de alta segurança da Califórnia – e ali ficará, pelo menos até à próxima audição perante um juiz, marcada para 2021.