Não foi eleita, sucedendo a David Cameron como líder dos Conservadores, mas isso é o menos original do seu perfil. É a 12ª vez que um britânico assume a chefia do Governo assim – sem ter ido a votos.
Tal como Angela Merkel, Theresa May, até aqui ministra do Interior, chega ao poder sem nunca ter sido mãe. Mas, ao contrário da chanceler alemã, promete um forte ataque à questão da imigração.
Poderá não ter um homem como principal adversário, como teve Margaret Thatcher, que liderou o país entre 1979 e 1990. Mas depois do Brexit, que deverá levar o Reino Unido a deixar a União Europeia, não foram só os Conservadores que puseram em causa a liderança do partido.
Jeremy Corbyn, dos Trabalhistas, era contra a saída da União, mas não conseguiu convencer o seu eleitorado, que votou mais pelo Brexit do que era esperado. Contestado e acossado dentro do seu partido, poderá também vir a ser substituído por uma mulher, Angela Eagle, ex-ministra sombra da Economia que desafia o atual líder.
Não é ainda certo, já que Owen Smith, antigo porta-voz dos Trabalhistas, também poderá avançar. Mas, se Eagle for a escolhida, o Reino Unido será, pela primeira vez, liderado por mulheres, tanto no Governo, como na oposição.
Enquanto os Trabalhistas não se decidem, Theresa May prepara-se para tomar posse como Primeira-ministra. Amanhã, depois de David Cameron apresentar a demissão à rainha Isabel II.
Quem é a nova ocupante de Downing Street?
May, Theresa
Descrição e compostura são duas facetas que derivam da educação conservadora que recebeu. Mas nem isso livra Theresa May, 59 anos, daquelas trivialidades que tornam os políticos humanos. Clássica no vestir, parece vingar-se nos sapatos para dar um toque mais pessoal à toillete. Além dos sapatos extravagantes, confessou à BBC o seu gosto pelos ABBA e por Mozart, bem como o livro que levaria para uma ilha deserta: o muito apropriado “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen. Se na mala ainda houvesse espaço, optaria por uma subscrição de um ano da revista de moda Vogue. Perante estas escolhas, ninguém diria, mas os amigos garantem que May não se preocupa que gostem dela. Habituada à arguta mira pública própria dos meus rurais, tornou-se profissional na compostura. Só os mais próximos lhe gabam o sentido de humor. Poucos saberão que doa quantias avultadas para caridade.
Família
Filha única do reverendo Hubert Brasier, aprendeu desde pequena que os seus atos não a comprometiam apenas a ela. Cresceu num ambiente confortável de classe média e viveria um forte embate emocional depois de terminar os estudos, quando o pai morre num acidente de automóvel. No ano seguinte perde a mãe, que sofria de esclerose múltipla.
Casada com o banqueiro Philip John May, descobre pouco tempo depois que não poderiam ter filhos.
Política
“Vamos dar às pessoas maior controlo sobre as suas vidas”, promete a mulher experiente em negociações comunitárias que parece ter jogado as cartas certas para se tornar a candidata do consenso dentro do próprio partido. Embora assumidamente eurocética, escolheu os problemas sociais para defender o Brexit, o que lhe deu espaço de manobra. Depois de estudar Geografia em Oxford, foi conselheira do bairro londrino de Merton, em 1986. Onze anos depois é eleita deputada conservadora por um círculo do sul de Inglaterra. Em 2002 torna-se a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária-geral do Partido Conservador.
Ideias
Quem a conhece garante que põe o pragmatismo à frente da ideologia, o que ajuda a cimentar a ideia de que é muito capaz de mudar de opinião se lhe forem apresentados argumentos convincentes. Mas também é verdade que se situa na ala mais à direita dos conservadores. Defensora de uma prática política mais conforme à moral pública, advoga planos para limitar os pagamentos dos executivos e defende a presença dos trabalhadores nos órgãos de topo das empresas. Dona de um sentido de dever à moda antiga, acredita que é preciso um capitalismo mais socialmente responsável.