“Parece que os bebés ainda por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA. A natureza está a curar-se!” Foi com esta mensagem que o empresário português Miguel Milhão, fundador da Prozis, se congratulou com a decisão do Supremo Tribunal dos EUA ter acabado com a garantia de direito ao aborto naquele país. Uma posição que gerou uma onda de polémica e levou mesmo a que vários “embaixadores” da marca, como as atrizes Jessica Athayde e Diana Monteiro, ou as “influenciadoras” Sara Vicário ou Tânia Argent, acabassem com a parceria que tinham com a empresa.
Perante o rol de críticas de que foi alvo, Miguel Milhão recorreu ao canal de podcast da sua própria empresa, o “Conversas do Karalho”, para defender a sua posição. Mas o resultado parece ter sido o oposto. Acabou por se referir aos seus críticos como “pulhecos de merda” e “canzoada”, realçando que tudo não passava de “uma hipocrisia”.
Em relação à Prozis e à forma que este caso a poderia afetar, Miguel Milhão foi ainda mais longe: “Não preciso de Portugal e não preciso da Prozis. Tenho recursos ilimitados”, realçou, acrescentando ainda que a Prozis é uma empresa internacional “talvez a marca portuguesa mais conhecida fora do País. E vive do comércio exterior, 85% é para exportação”.
Mas, afinal, quem é este empresário que criou uma das maiores empresas de produtos de nutrição desportiva da Europa? A ideia de se tornar empresário sempre lhe esteve na ideia. Ainda jovem adulto, Eduardo Miguel Airosa Milhão tentou por várias vezes criar produtos para iniciar a atividade, mas todas eles acabaram por fracassar. Vendeu CD’s, roupa e até abriu uma loja em Braga, a Sabores com Saúde, que acabou por falir.
Foi só após uma lesão que sofreu quando praticava natação, modalidade em que era federado, que se deparou com a escassez de oferta de produtos de nutrição desportiva em Portugal. Além de poucos, os que existiam eram caros. Esta constatação fez nascer uma nova luz dentro do espírito de empreendedor. Meteu mãos à obra e decidiu criar uma marca de nutrição desportiva. Tinha apenas 23 anos.
Sem capital para iniciar o negócio, vende o carro que o pai lhe tinha oferecido. Os 25 mil euros que resultaram da venda foram suficientes para montar a empresa, começar as primeiras investigações e a comprar matéria-prima.
É nesta altura que conhece Jorge Costa e Silva, proprietário de uma empresa de software, a McWin. Apesar de desenvolver soluções para o setor têxtil, Jorge Costa e Silva reconheceu o enorme potencial do negócio proposto por Miguel Milhão. A sua experiência na área informática, foi fundamental para que o negócio tivesse, desde o seu início, uma forte componente de comércio digital. Foi criada uma loja online e a pequena empresa constituída em Portugal em 2006 depressa começou a expandir os seus negócios para outras latitudes, nomeadamente o Brasil. A expansão para outros países obrigou a Prozis a criar um centro de logística próprio para conseguir gerir todas as encomendas. Ao longo dos anos, a empresa foi continuando a sua expansão geográfica e começou a franchizar o negócio, nomeadamente nos EUA.
Como forma de promover a marca, Miguel Milhão começou a fazer parcerias com algumas modalidades desportivas, como é o caso das corridas todo-o-terreno (trail running). E apostou em força na imagem de influencers e do modelo dos cupões de desconto personalizados, com ampla tração nas redes sociais. Em 2014, a Prozis já faturava 47 milhões de euros e tinha mais de 800 mil clientes em cem mercados.
Na sua página de LinkedIn apresenta-se hoje como detentor do superpoder de ser “incancelável”. “Cancel and woke mob master destroyer!”, lê-se no seu perfil, em desafio ao movimento de críticas de que foi alvo.
O seu estilo de liderança “hands on” sempre foi arrojado. Miguel Milhão gosta de estar envolvido em todas as áreas da empresa, incluindo na comunicação, e é conhecido pelos seus próximos como um gestor excêntrico. A comprová-lo está a decisão de comprar duas cabras como mascotes para a empresa que vê como uma GOAT, um acrónimo de “Greatest Of All Time”, ou “a maior de todos os tempos”. Os animais começaram por andar à solta nos escritórios, e depois passaram a estar confinados numa zona com uma vedação.
No “mission statement” da marca, que tem o seu fortíssimo cunho pessoal, reforça-se o compromisso ético, afirmando-se que a inspiração da empresa “está enraizada na ética cristã e ocidental”. “Não nos importamos com o que é politicamente correto. Não tente nos mudar, não terá sucesso”, assume-se. “Cometemos erros e às vezes fazemos coisas estúpidas. Mas aprendemos e evoluímos. Perseveramos e seguimos em frente. Por favor, perdoe-nos e entenda que estamos a fazer o nosso melhor”, lê-se no comunicado da empresa. E reforça-se a proximidade do CEO com os clientes. “Se acha que não está a ser tratado de forma justa, envie um e-mail para iwantjustice@prozis.com. Seu e-mail irá diretamente para a caixa de correio do nosso CEO”, é prometido.
Embora muito discreto, tem uma ambição conhecida. Amigo de Marco Galinha, dono do grupo Bel e da Global Media, e com quem chegou a passar férias, fez parte do grupo liderado pelo “tubarão” que apresentou uma proposta de aquisição à Media Capital, dona da TVI. O negócio não seguiu adiante.
Em 2016, o seu pai, Eduardo Milhão, foi eleito presidente do Futebol Clube Vilaverdense e, com ele, trouxe a Prozis para o clube, que não só patrocinava a equipa como decidiu criar uma academia de promoção de jovens talentos na modalidade. Em 2018, Eduardo Milhão decide abandonar a direção por razões pessoais e o clube ficou sem “um generoso” patrocínio como noticiou, na altura, o jornal O Minho.
Mas a ligação da Prozis ao futebol não se esgotou no Vilaverdense. A marca tem atualmente parcerias com grandes clubes de toda a Europa.
Desde que criou a Prozis em 2006, Miguel Milhão tem vindo a criar empresas ligadas ao negócio, desde o comércio à promoção e produção, como também tentou a sua sorte noutros setores, nomeadamente no imobiliário, na perfumaria e marroquinaria.
Atualmente, a sede do grupo está localizada em Esposende e a fábrica de suplementos desportivos, com uma área de 14 mil metros quadrados, fica na Póvoa do Lanhoso. O grupo emprega cerca de 300 pessoas em Portugal.
Ao longo da sua atividade, a Prozis ganhou vários prémios, nomeadamente a Escolha do Consumidor em Saúde e Bem-Estar, ou a Exportadora Revelação, em 2016.
José Costa e Silva é atualmente presidente do grupo e sócio gerente da grande maioria das empresas ligadas à Prozis. Miguel Milhão apresenta-se como chairman da empresa, ou seja, sem cargos executivos e vive em Miami Beach, nos EUA, onde mantém a sua grande paixão de colecionador de automóveis.