Mudam-se os tempos, mudam-se os desafios, e as alterações profundas já chegaram ao mundo do trabalho. Procuram-se novas qualidades que permitam uma adaptação rápida a uma realidade veloz e imprevisível, e o talento é uma arma cada vez mais importante para o sucesso. As empresas portuguesas estão conscientes destas mudanças e tentam adaptar-se aos novos tempos, segundo um estudo apresentado na entrega dos prémios das Melhores Empresas para Trabalhar, uma iniciativa da EXAME, com o apoio da consultora everis e da AESE Business School. A procura, coordenação e retenção de talentos está no topo das preocupações dos gestores que tentam adequar as empresas às mudanças sociais e tecnológicas. Mas, apesar da revolução digital, as qualidades humanas, como a inteligência emocional e a criatividade, são cada vez mais valorizadas.
“Segundo o estudo desenvolvido pela AESE Business School no âmbito da iniciativa Melhores Empresas para Trabalhar em 2019, a Gestão do Talento é atualmente o principal desafio na gestão de pessoas. Mais de 50% das empresas que responderam ao inquérito identificaram a capacidade de recrutar, desenvolver e reter o talento como as suas grandes preocupações nesta área”, realça Maria de Fátima Carioca. A dean da AESE contextualiza: “Esta constatação prende-se diretamente com a escassez de talento, ou seja, de jovens profissionais com o perfil de competências adequado para o novo contexto de trabalho” que é “mais volátil e ambíguo, caracterizado pela velocidade, a evolução tecnológica e a globalização. Além disso, requer um novo paradigma de organização do trabalho, envolvendo funções diferentes das tradicionais, assim como diferentes formas de trabalhar.”
Cultura atenta às pessoas e à aprendizagem
A resposta das empresas a este desafio passa por se centrarem mais na gestão de pessoas. “O estudo comprova como as empresas estão fortemente concentradas nos seus colaboradores, estando atentas ao seu equilíbrio, desenvolvimento e realização pessoal”, especifica ainda a responsável. Isso reflete-se no tipo de cultura que se tenta implementar no seio das organizações. “Regista-se uma predominância de três estilos de culturas organizacionais dominantes: uma Cultura Atenta às Pessoas (82% das empresas), uma Cultura de Aprendizagem (82%) e uma Cultura de Propósito (79%).”
A atenção às pessoas ajuda as empresas a construírem um ambiente de trabalho “inclusivo, com ênfase na lealdade, confiança mútua, trabalho de equipa e relações construtivas”. Já o incentivo à aprendizagem promove uma cultura de “novas ideias” e de exploração de alternativas. Os esforços para se construir este tipo de culturas organizacionais “são reveladores da forma séria como estas empresas se estão a preparar, verificando-se uma clara tendência em promover a inovação, o conhecimento e a agilidade”, esclarece Carioca.
Mas, apesar da nota positiva às organizações que entraram no estudo o Futuro do Trabalho, ainda há margem para melhorar, principalmente no caso de empresas com mais anos de atividade, em que “serão necessários esforços no sentido de adquirir novas competências, seja através da reconversão dos seus colaboradores atuais seja através da contratação de novos”, remata.
Qualidades humanas na era dos robôs
As mudanças sociais e a revolução digital têm como consequência o aparecimento contínuo de novidades. No trabalho, haverá empregos que desaparecerão e que serão substituídos por outros que hoje em dia ainda nem existem. “Todas estas transformações apresentam o risco de uma maior desigualdade social e de uma polarização mais ampla, mas, se geridas com sabedoria, podem, contudo, conduzir a uma era de bom trabalho e de melhoria da qualidade de vida para todos”, reitera Maria de Fátima Carioca, tentando lançar um olhar otimista perante um cenário que muitos acreditam ser crítico.
E na era dos robôs, mais do que as capacidades tecnológicas, são as qualidades humanas que têm a cotação em alta. “A proficiência em novas tecnologias é apenas uma parte da equação do talento. As competências humanas – como criatividade, originalidade e iniciativa, pensamento crítico, inteligência emocional, assim como atenção aos pormenores, resiliência, flexibilidade e resolução de problemas complexos – serão bastante procuradas num futuro de convivência com máquinas e robôs como o que se antevê”, detalha a dean da AESE Business School. Por outras palavras: certo é que, por mais mudanças tecnológicas que aconteçam, serão as qualidades humanas a construir o futuro do trabalho.