O conceito de low cost na aviação civil já deixou de ser apenas uma tendência. Estas novas transportadoras, que apostam nos preços baixos em detrimento do serviço, não só conquistam cada vez mais passageiros como engordam fortemente os lucros.
A Ryanair, uma das pioneiras neste mercado, prevê atingir lucros de cerca de 830 milhões de euros ao longo deste ano. Ou seja, esta companhia consegue para si só cerca de 4% de todos os lucros que o setor poderá gerar ao longo de 2015. Uma percentagem impressionante se pensarmos que existem cerca de 300 companhias aéreas em todo o mundo.
Os resultados da Ryanair fizeram com que as ações da empresa irlandesa disparassem 58% ao longo do último ano. Só em dezembro, a Ryanair transportou 6 milhões de passageiros, um novo recorde mensal desta companhia aérea low cost. E não querem ficar por aqui. Michael O’Leary, presidente da Ryanair já definiu os objetivos para este ano: “Quero atingir os 97 milhões de passageiros em 2015.”
Também a britânica Easyjet, outra das grandes operadoras europeias de baixo custo, conseguiu encerrar 2014 com lucros de 750 milhões de euros, o que correspondeu a um crescimento de 21,5% face a 2013. Transportou 64,8 milhões de passageiros, o que corresponde a um aumento de 7%, e conseguiu uma taxa de ocupação nos seus aviões de 91%, uma das melhores de toda esta indústria.
Embora mais pequena, a low cost escandinava Norwegian Air conseguiu também um crescimento de 15% no número de passageiros, atingindo um total de 24 milhões no ano passado.
Números impressionantes quando se sabe que a grande maioria das transportadoras tradicionais se debate com enormes problemas para conseguir sobreviver num mercado altamente competitivo como é o da aviação comercial.
Se não os podes vencer…
A feroz competição no setor aéreo está a fazer com que as companhias tradicionais apostem cada vez mais no segmento low cost. O International Airlines Group (IAG), casa-mãe da British Airways, que controla também as espanholas Iberia e Vueling, divulgou esta semana resultados anuais que surpreenderam os mercados. Conseguiu um aumento de 15% no número de passageiros transportados, passando de 67,2 milhões em 2013 para 77,3 milhões em 2014. Foi o maior crescimento de todas as companhias aéreas europeias. No entanto, este número apenas foi possível graças à sua companhia low cost Vueling, empresa que a IAG comprou em meados de 2013.
Mas não é só no número de passageiros que a transportadora espanhola low cost está a contribuir para aumentar a receita da IAG. Segundo os dados divulgados, a Vueling melhorou a receita de passageiro por quilómetro percorrido em 59%, um número impressionante, apesar do mercado estar em franca melhoria.
Quem não quer ficar de fora desta corrida são os gigantes europeus Lufthansa e o consórcio franco holandês Air France/KLM.
Mas não é fácil transformar um negócio tradicional num novo conceito. A empresa germânica já opera com uma marca low cost, a Germanwings, dentro da Europa, e prepara-se agora para lançar uma low cost para voos intercontinentais (ver entrevista ‘Estou muito preocupado com o excesso de oferta’). Ao longo do ano passado, a administração viu-se confrontada com oito greves dos pilotos da Germanwings devido aos planos de reforma.
A Air France/KLM, por sua vez, compete neste segmento com a Transavia.com. ?O grupo pretendia passar para esta companhia grande parte dos seus voos europeus, mas foi por causa dessa estratégia que enfrentou uma das maiores greves de sempre da aviação francesa, que mantiveram uma boa parte da frota em terra durante quase duas semanas em setembro último. Os sindicatos não aprovaram que o grupo deslocasse funcionários da Air France/KLM para a Transavia.com e travaram um enorme braço de ferro com a administração. A situação apenas ficou resolvida após quinze dias de negociações.
Lucros descolam
Em 2014, os lucros totais das companhias aéreas de todo o mundo deverão ascender aos 17 mil milhões de euros, um valor acima das últimas previsões da IATA (Associação Internacional do Transporte Aéreo), que apontava para um valor próximo dos 15 mil milhões de euros.
A melhoria dos lucros está diretamente associada “à quebra de 40% do preço do petróleo”, como reconheceu o economista chefe da IATA, Bryan Pearce. Mas não só. Para este especialista, “a melhoria da situação económica global” também contribuiu para o crescimento dos resultados líquidos do setor da aviação.
Perante estes dois fatores, esta associação divulgou recentemente as suas previsões para este ano, que mostram uma perspetiva muito otimista para a aviação comercial. Segundo a IATA, os lucros das companhias aéreas de todo o mundo irão situar-se nos 21,5 mil milhões de euros, ou seja, um crescimento de quase 30% face ao ano passado.
Em 2013, os lucros do transporte aéreo ficou-se nos 9 mil milhões de euros, enquanto em 2012, tinham obtido resultados de 5 mil milhões de euros.
Contas feitas, segundo as previsões da IATA para 2015, as transportadoras aéreas terão uma margem de lucro de 3,2%, o que representa um proveito líquido por passageiro de 7,08 euros.
O cenário é prometedor, mas existem muitas variáveis que poderão inverter esta tendência, tais como o preço do petróleo, a economia mundial e a estabilidade social nas ?empresas.
No que respeita às low cost, quanto maior for o seu êxito, maiores podem ser também os seus problemas. Até há pouco tempo, estes empresas desconheciam o que era instabilidade entre os seus trabalhadores. Enquanto isso, as companhias tradicionais debatiam-se constantemente com fortes convulsões internas.
Sempre que isso acontecia, as low cost enchiam os seus aviões de passageiros descontentes com as greves das outras companhias.
No ano passado tudo mudou. Após a Easyjet ter apresentado lucros milionários, os sindicatos franceses do pessoal de voo protestaram exigindo melhores condições para os trabalhadores, o que resultou que, num só dia, a empresa fosse obrigada a parar 38 voos oriundos daquele país. As low cost estão a ganhar mercado às companhias tradicionais, mas também começam a herdar alguns dos seus problemas.