Jorge Fonseca conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, dando uma enorme alegria a todos os compatriotas amantes do desporto, e algum alívio aos que temiam, em silêncio, uma Missão Olímpica sem medalhas. Este atleta fora de série pertence a uma elite muito restrita de desportistas que conquistaram dois títulos mundiais consecutivos num evento do programa olímpico.
O exemplo do Jorge Fonseca pode, e deve, por isso ser motivo de reflexão para analisarmos as razões do seu sucesso. De origem humilde, o seu ingresso no desporto só foi possível num modelo com base num clube, que lhe possibilitou o início da carreira. O seu enquadramento decorreu numa instituição com infraestruturas e técnicos capazes, numa Federação que foi capaz de complementar essas condições e, em conjunto, permitiram que o atleta evoluísse e potenciasse todo o seu talento.
Começou tarde, apenas aos 14 anos, mas rapidamente o seu atual treinador lhe reconheceu talento inato: um atleta com condições físicas e psicológicas que o distinguiam dos demais, perseverante, combativo, focado, características que ao mais alto nível fazem a diferença na obtenção de resultados desportivos de excelência a nível global. E nem o tumor na perna o impeliu a desistir da prática de Judo.
O Jorge Fonseca é um exemplo da capacidade do desporto de integrar e contribuir para o desenvolvimento da pessoa. Permitiu que saísse de um enquadramento social e económico desfavorável e, ao contrário de outras situações no desporto, a meritocracia imperou, pois além da aptidão para o Judo, o seu empenho e resiliência constantes são recompensados com êxito.
Em Portugal temos uma ferramenta que permitiria, de uma forma ágil, detetar e apoiar os nossos talentos, o Projeto Esperanças Olímpicas. Este ‘PEO’ visa criar condições de apoio a competidores e equipas que sejam identificados, através do seu valor desportivo, como esperanças olímpicas em preparação para os JO Paris2024.
Dada a sua importância, urge uma avaliação urgente da execução e do desenho deste projeto, de modo a garantir um apoio efetivo aos nossos jovens talentos integrados num plano de carreira assente nos clubes, permitindo uma evolução sustentada de forma a garantir que os “Jorge Fonseca” do desporto nacional não integrem a enorme percentagem dos que abandonam precocemente a prática desportiva.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.