<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 21 false false false PT X-NONE X-NONE MicrosoftInternetExplorer4 <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=” /* Font Definitions */ @font-face {font-family:”Cambria Math”; panose-1:2 4 5 3 5 4 6 3 2 4; mso-font-charset:1; mso-generic-font-family:roman; mso-font-format:other; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:0 0 0 0 0 0;} @font-face {font-family:Calibri; panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4; mso-font-charset:0; mso-generic-font-family:swiss; mso-font-pitch:variable; mso-font-signature:-520092929 1073786111 9 0 415 0;} /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-unhide:no; mso-style-qformat:yes; mso-style-parent:””; margin:0cm; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:”Times New Roman”,”serif”; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin;} .MsoChpDefault {mso-style-type:export-only; mso-default-props:yes; mso-ascii-font-family:Calibri; mso-ascii-theme-font:minor-latin; mso-fareast-font-family:Calibri; mso-fareast-theme-font:minor-latin; mso-hansi-font-family:Calibri; mso-hansi-theme-font:minor-latin; mso-bidi-font-family:”Times New Roman”; mso-bidi-theme-font:minor-bidi; mso-fareast-language:EN-US;} @page WordSection1 {size:612.0pt 792.0pt; margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm; mso-header-margin:36.0pt; mso-footer-margin:36.0pt; mso-paper-source:0;} div.WordSection1 {page:WordSection1;} “> <#comment comment=”[if gte mso 10]> <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=”[if gte mso 9]>
Foram cinco anos, oito viagens ao Cairo, meses seguidos a viver na cidade egípcia, lições de árabe, muitos obstáculos, muitos pedidos oficiais rejeitados, muita burocracia de repartição, muito “dou you have a permit?”, muitas boas intenções goradas, um passo à frente e logo dois atrás, perda de parte das rushes originais, algumas hesitações… e finalmente a decisão de filmar clandestinamente a maior necrópole do mundo, onde as moradas dos defuntos são também habitadas por vivos. Ao rodar o documentário A Cidade dos Mortos (estreia-se hoje, dia 14), que conquistou o grande prémio Documenta Madrid 2010, e passou por mais de uma dezena de festivais internacionais, Sérgio Trefaut pensou em desistir, parecia-lhe “um filme amaldiçoado”. Afinal uma superstição que não existe entre o milhão de habitantes daquele cemitério, que se encheu de famílias, e escolas, e mercados, e cafés, e disputas entre vizinhos, e teatros de fantoches, e namoros, e casamentos, e música, e crianças que jogam à bola usando jazigos como balizas… E vida, em suma.
FINAL CUT/ VISÃO: Estrear o seu filme nesta altura faz um estranho raccord com a revolução egípcia e a denúncia internacional da ditadura de Mubarak. Sentiu a opressão do regime?
Sérgio Tréfaut: Sim. O filme foi totalmente rodado clandestinamente, à margem das identidades oficiais, que recusaram todos os pedidos de autorização. O Estado não estava interessado em que se filmasse as condições sociais no Cairo, nem nada que não fosse turístico ou pirâmides. A cidade cemitério é um assunto tabu no Egipto. Espero que um novo regime democrático não tenha tantos preconceitos em relação àquele lugar.
Mas afinal o que filmou tem mais de alegria do que de miserável…
Pois, faz-se uma ideia falsa do cemitério como um lugar negativo e carregado de culpabilidade. Qualquer subúrbio do Cairo tem muito pior qualidade de vida do que aquela que eu encontrei ali. O próprio interior do Cairo é muito mais poluído. E pelo menos ali, há electricidade e água corrente. Na realidade, o cemitério é um local muito mais aprazível para se viver…
Mas não deixa de ser um sítio de dor e luto…
Sim, mas eu não sou um jornalista de crime nem um vendedor de sangue. Para mim é inconcebível pedir autorização para filmar um enterro ou fazê-lo às escondidas. A certa altura, levantaram umas pedras e mostraram-nos uns fetos. Mandei logo desligar a câmara. Esse tipo de coisas não me interessava nada.
O que lhe interessava então?
Precisamente o contrário. Devolver a dignidade e a vitalidade àquela gente. Apenas quis abordar a normalidade do quotidiano…
A normalidade dentro num contexto anormal?
A partir dos anos 60 registou-se um êxodo rural muito acentuado e as populações começaram a ocupar os túmulos. Alguns são alugados pelas próprias famílias dos mortos. Sobre estes habitantes recai um forte preconceito, muitos não ousam sequer lá entrar. Eu orgulho-me de conhecer melhor o cemitério do que muitos egípcios. E o grande mistério é tentar perceber o amor que essas pessoas têm por aquele lugar.
Desenvolveram uma relação especial com a morte?
Sim, essa relação também me interessava filmar. Dantes, morria-se em casa. Também nós tínhamos proximidade com a morte. Agora temos tendência em afastar os nossos medos. Fazemos de conta que a morte é um conceito, não lhe sentimos a presença física. E esvaziar a nossa vida desses medos não nos fortalece necessariamente. Há um versículo do Corão que toda a gente sabe de cor que diz “A verdade só a descobrirás dentro do cemitério”…
O filme começa e acaba com um avô a ensinar versículos do Corão à neta…
Foi uma das coisas que mais me fascinou. Nunca conheci nenhum povo com uma relação tão lúdica com as crianças. Não apenas as mulheres, mas os pais e os avós andam sempre com as crianças, são muito brincalhões e divertidos. Elas brincam no cemitério á solta, mas muito vigiadas. Parecem, realmente, felizes.