O pulsar criativo de Lisboa continua a passar pela zona do Poço dos Negros. A mais recente prova desse movimento dá pelo nome de Pink Dolphin e é uma loja, diz-nos a dona, Sofia Tillo, “de arte e objetos especiais”. Assim mesmo. Um projeto em construção, ressalva à PRIMA, um dia antes da inauguração oficial, a 24 de maio, e que é um espelho daquilo que tem sido a sua vida nos últimos quase 20 anos: descobrir artistas emergentes, comprar as suas peças, divulgá-los de alguma maneira.
A única forma de explicar o nascimento deste projeto de Lisboa é contar a história de Sofia, 37 anos. Nascida no Porto, filha de mãe portuguesa e pai egípcio – de quem tem três irmãs suecas -, explica que cresceu numa “família híbrida” e diferente da norma. Aos 18 anos foi estudar para Londres, onde se formou em Filosofia e Ciências Políticas, antes de estudar Antropologia. Viveu nos Estados Unidos, na Alemanha, em Moçambique e fez de Inglaterra a sua casa, onde montou um negócio de e-commerce com agenda cultural e conteúdos online. “Sempre trabalhei na área do empreendedorismo, cheguei a ter eventos com artistas e com museus, conta.” E, paralelamente, foi aumentando a sua coleção de arte. “Comecei nova a comprar. Ia a todos os graduation fests de arte, fui estabelecendo algumas relações com pessoas do meio.” Uma espécie de caça-talentos, diga-se. E entre os estudos, os projetos próprios e a pesquisa académica, a arte foi tomando conta da sua vida. Com algumas peças, entretanto valorizadas pelo mercado, já vendidas a particulares e não só. Quando decidiu regressar a Portugal, quis experimentar uma cidade nova e instalou-se em Lisboa, ainda sem grandes planos de ação. “Foi uma decisão mais pessoal.”
Mas eis que a vontade de ter uma loja de arte começou a afigurar-se uma ideia possível. “Sempre gostei do contacto com as pessoas, de ter um lado de consultora de arte. Porque não compro só a artistas que estão aqui [representados na loja], tento fazer um matchmaking com as necessidades de quem quer comprar peças”, explica, já entrando no funcionamento da Pink Dolphin. A loja é um mostruário de artistas em cujo trabalho acredita, se revê e quer divulgar. Da pintura à fotografia, da poesia à cerâmica, dos prints aos postais, do estacionário à joalharia, neste antigo cabeleireiro transformado em espaço de arte, Sofia junta um pouco de tudo. “E há uma vibração feminista, porque eu sou uma feminista ferrenha.”
É adepta do movimento comprar português, mas, os anos a viver no estrangeiro deram-lhe uma escola diferente. “Sou só metade portuguesa, vivi fora, estou um bocado em contracorrente. E é por isso que 70% dos artistas são estrangeiros.” A forma de expor é outra arte e Sofia não se coíbe de misturar as diferentes peças, nem de as mudar de posição com frequência. Desde que as portas abriram, a 1 de maio, já fez circular a arte exposta. Tem quadros de Rita Leitão, fotografias de Paula Matos Gil e da alemã Anushka – a artista que pinta palavras em colchões abandonados -, porcelanas pintadas à mão da RG Hand Painted, peças de cerâmica do Estúdio Torto, da Musa Cerâmica, brincos da Pepino e Jo Reid, livros e jogos da School of Life, postais de David Shrigley.
A diversidade de escolhas faz com que a Pink Dolphin seja o sítio ideal para comprar um presente, uma peça nova para a casa ou conhecer o trabalho de novos artistas. Em breve, haverá também uma loja online. Afinal, o trabalho está só a começar.
Rua Poiais de São Bento, 50 / seg-sáb 11h-19h