1. Dedicado ao Desconhecido, de Susan Hiller

A britânica Susan Hiller (1940-2019) criou um património multimédia constituído por pesquisas experimentais coletivas, pintura, fotografia, escultura e instalações audiovisuais. Artista arrojada, dedicou-se à “investigação do fascínio ambivalente da nossa cultura por coisas que saem do âmbito da compreensão normal e quotidiana”, ou seja, conceitos alternativos, ideias esotéricas, crença em poderes místicos no poder dos sonhos, escrita automática, paranormal… Nos seus retratos atmosféricos e coloridos, que subvertem as expetativas identitárias desse género, agora contempláveis na exposição Dedicado ao desconhecido, é-se transportado para outra dimensão: a da perceção alterada. Culturgest > R. Arco do Cego, 50 > até 22 jun, ter-dom 11h-18h > €4, grátis dom
2. Arte Britânica – Ponto de Fuga

Antony Gormley, Francis Bacon, David Hockney, Rachel Whiteread, Bridget Riley, o incontornável Turner. Estes são alguns dos 74 artistas de Arte Britânica – Ponto de Fuga, exposição que apresenta mais de 100 obras reveladoras das relações, por vezes inesperadas, e das geografias diferentes trazidas nomeadamente pelos movimentos de migração, fuga ao nazismo, exílio ou diáspora – cujos resultados, hoje, estão reavaliados e revalorizados. Esta é uma exposição-mapa da arte do Reino Unido no século XX, para a qual artistas portugueses, como Paula Rego, também contribuíram. Reunindo um núcleo “significativo” de obras de arte britânica da coleção do Centro de Arte Moderna da Gulbenkian e da Coleção Berardo, a que se juntam outros empréstimos, ilustram-se, aqui, correntes pictóricas diversas, da figuração ao realismo, da paisagem à abstração e construtivismo. Fundação Calouste Gulbenkian – Galeria Principal > Av. de Berna, 45A, Lisboa > até 21 jul, qua-sex, dom-seg 10h-18h, sáb 10h-21h > €6 a €12, grátis dom a partir das 14h
3. Fundação Albuquerque, Sintra
Não é em vão que entramos pela biblioteca, com livros antigos, incluindo algumas relíquias do século XVII. A ideia é que se entenda “o ambiente familiar”, nas palavras de Mariana A. Teixeira de Carvalho, cofundadora, juntamente com o seu avô, Renato de Albuquerque, da Fundação Albuquerque, em Sintra.
A instituição abriu ao público na casa que já era da família brasileira e que agora foi remodelada para acolher todo o projeto. Servirá para dar a conhecer a coleção de porcelana chinesa, uma das mais prestigiadas do mundo, ao mesmo tempo que se promovem artistas emergentes dedicados à cerâmica contemporânea.
Além da casa, a quinta sintrense compreende ainda um pavilhão que vai acolher as exposições temporárias, um restaurante de comida local e sustentável (a abrir em breve), uma loja-conceito (concebida não só para cumprir um propósito comercial, mas também para funcionar como uma extensão do museu) e um jardim, que pode – e deve – ser aproveitado por todos.
O telhado inclinado reflete a inclinação original da propriedade e a estrutura principal é, em parte, subterrânea: em exibição está apenas uma pequena parte da coleção. A exposição principal rodará de 18 em 18 meses, para assim ir dando a conhecer um acervo que, no total, é composto por 2 600 peças. Esta primeira apresentação conta com a curadoria de Becky MacGuire e foi construída, segundo a antiga especialista em arte asiática de exportação da Christie’s, para mostrar “o respirar da coleção, toda a sua riqueza e diversidade”.
Atravessando o jardim, seguimos por fim para o pavilhão dedicado à contemporaneidade, no qual, por ora, e até 1 de junho, estará patente uma exposição individual de Theaster Gates. S.B.L. R. António dos Reis, 189, Sintra > ter-dom 10h-18h > €10, €8 (13-18 anos, estudantes e maiores de 65 anos), grátis (até 12 anos)
4. Rodney Smith – A Alquimia da Luz

Reconhecemos o preto-e-branco favorecido pelos grandes fotógrafos do século XX como Walker Evans (de quem ele foi aluno), percebemos o enquadramento minucioso requisitado pelo The New York Times ou pela Vanity Fair, descobrimos as narrativas visuais meticulosas e atentas à geometria (apontadas pela curadora Anne Morin). As mais de cem imagens de Rodney Smith – A Alquimia da Luz, primeira grande exposição portuguesa dedicada ao norte-americano Rodney Smith (1947-2016) revela ainda o artista “influenciado pela pintura de Magritte e pela precisão técnica de Ansel Adams”, o criador de “imagens que desafiam a fronteira entre a realidade e a fantasia”. Um exemplo? A fotografia enigmática de duas figuras masculinas sentadas no meio da floresta… de cabeças cobertas por caixotes com bigodes desenhados. Centro Cultural de Cascais > Av. Humberto II de Itália, Cascais > até 25 mai, ter-dom 10h-18h > €5
5. Transe, de Rui Moreira

Desenhos meticulosos como constelações ou padrões que evocam formas da arte islâmica, mandalas hindus ou rosáceas medievais. Ou criaturas misteriosas retiradas de películas apocalípticas, ou de tradições ancestrais como as dos Caretos de Podence ou das tribos amazónicas. Transe, a primeira antológica de Rui Moreira, no MAAT (edifício da Central Tejo), reúne 80 desenhos e pinturas sobre papel, de médio e grande formato, a que se junta uma escultura de grandes dimensões na Praça do Carvão. Comissariada por João Pinharanda, permite uma generosa panorâmica sobre um artista dotado e de percurso coerente, que se tem mantido demasiado discreto. Esta é a boa ocasião para mudar isso e celebrar um virtuoso do desenho. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém > até 25 abr, ter-dom 10h-17h30 > €8 a €11, grátis 1º dom do mês
6. MACAM

Percebe-se que é um projeto sonhado, adivinha-se que será um player. O Museu de Arte Contemporânea Armando Martins – MACAM assume-se como um projeto diferenciador, que une as mais de 600 obras reunidas pelo colecionador a um hotel de cinco estrelas, localizado no Palácio dos Condes da Ribeira Grande, edifício histórico datado do século XVIII, localizado na Rua da Junqueira, em Lisboa. O acervo é um who’s who da arte, desde finais do século XIX até aos nossos dias: Marina Abramovic, Olafur Eliasson, Vik Muniz, John Baldessari, Juan Muñoz, Ernesto Neto, Alberto Oehlen, Paula Rego, Vieira da Silva, Amadeo, Julião Sarmento… e a lista continua. Juntam-se-lhes José Pedro Croft, o espanhol Carlos Aires e a canadiana Angela Bulloch, convidados a realizar obras site-specific. Público e hóspedes terão acesso a cerca de 13 mil metros quadrados organizados e quatro galerias que abrigarão uma exposição permanente e duas temporárias. R. da Junqueira, 66, Lisboa > T. 21 872 7400 > ter-dom 10h-19h > €15, €12 (exposição permanente + uma temporária), €8 (apenas exposição permanente), €6 (cada exposição temporária), grátis até 12 anos, desconto de 50% 13-18 anos, estudantes até aos 25 anos e maiores de 65 anos > grátis 1º dom mês 10h-14h
7. Coro em memória de um voo, de Julianknxx

Coro em memória de um voo é a exposição individual de Julianknxx resultante das colaborações – ou expedições sociológicas? – desenvolvidas em nove cidades europeias, onde o artista nascido em Freetown, Serra Leoa, em 1987, recolheu “narrativas não contadas” da diáspora africana. Usando a entrevista e o material documental como ferramentas, depois transfiguradas pelo som e performance em videoarte multiecrãs, Julianknxx debruça-se sobre temas fortes como identidade, perda, memória e integração. Entre as obras patentes, incluem-se duas peças inéditas produzidas em Lisboa: o díptico Learning to wear black under the sun e ainda Title TBC. Centro de Arte Moderna Gulbenkian > R. Dr. Nicolau Bettencourt, R. Marquês de Fronteira e R. Marquês Sá da Bandeira, Lisboa > até 2 jun, qua-sex, dom-seg 10h-18h, sáb 10h-21h > €4, grátis dom a partir das 14h
8. e 9. Adriana Molder em dose dupla

Os contos góticos de Karen Blixen e os contos italianos de Italo Calvino são bússolas reclamadas por Adriana Molder na exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado: Aldebaran Caída por Terra apresenta uma série de pinturas a pastel de óleo sobre tela moldada, com formas irregulares e orgânicas, penduradas com cordão de ouro e fendidas pelas Sombras – os característicos desenhos da artista a tinta-da-china sobre papel esquisso. Uma viagem visual algo onírica, que reclama igualmente o poder das imagens cinematográficas para esta “espécie de viagem”. A ver também, Antares, patente na Cordoaria Nacional, onde Adriana mostra as séries inéditas Antares, Aleph, Sombras, Desenhos s/Título e Serpentina – trabalhos entre desenhos e pinturas-objeto-escultura que flutuam no espaço. Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado > R. Serpa Pinto, 4, Lisboa > até 22 jun, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > €10 > Torreão Nascente da Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > até 4 mai, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
10. Gestos, de Ana Leon

Os protagonistas dos vídeos de Ana Leon, agora apresentados em Gestos, são Action Man, figurinhas de ação articuladas e inexpressivas, aqui forçadas a uma coreografia de gestos repetitivos e adereços repetidos, quase sempre filmados em “plano americano”. A artista usa tecnologia analógica, isto é, película e uma máquina de filmar Super 8, para realizar estes filmes de animação em stop motion em que recria o movimento humano – a partir de imagens captadas uma a uma. Uma obra que traz estranheza e aparenta evocar a muito tristemente referida “desumanização do outro”. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Lisboa > até 2 jun, qua-seg, 10h-19h > €11, grátis 1º dom do mês
11 e 12. Francisco Vidal X 2
Para perceber que há uma comunicação direta entre as duas exposições de Francisco Vidal, atualmente na Grande Lisboa, a 13 km uma da outra, basta olhar para os seus títulos: Escola Utópica de Tecnologia e Arte de Oeiras está no Palácio dos Anjos, em Algés; Escola Utópica de Lisboa está no Pavilhão Branco, entre pavões, nos jardins do Palácio Pimenta, em Lisboa.

E entrando nas duas galerias essa ligação torna-se ainda mais óbvia. Nos dois casos, o espectador fica com a sensação de que as exposições não estão ali fechadas entre quatro paredes. Há sinais de permeabilidade real em relação ao mundo lá fora. Umas botas que foram ou vão ser usadas, um amplificador e um microfone, restos, trabalhos incompletos…
Estas “escolas utópicas” têm uma dimensão performativa: o que o espectador na inauguração de cada uma das exposições vê não será exatamente igual ao que verá o visitante que se guardou para os últimos dias. O artista, Francisco Vidal, nascido em Lisboa, em 1978, português, angolano e cabo-verdiano, fará incursões, programadas ou não, nestas suas “utopias.” P.D.A. Museu de Lisboa, Palácio Pimenta, Pavilhão Branco > Campo Grande 245, Lisboa > até 8 jun, ter-dom 10h-18h > grátis > Palácio dos Anjos, Centro de Arte Contemporânea > Alameda Hermano Patrone, Algés > até 4 mai, ter-sáb 10h-16h > €2
13. Cinco relíquias, cinco fotógrafos

Em Cinco Relíquias, cinco fotógrafos, os artistas foram desafiados a produzir um olhar contemporâneo sobre a matéria da relíquia, com acesso ao acervo precioso do museu. Neste “inquérito” ao “reliquiarum”, houve quem efetuasse uma investigação do olhar e houve quem confrontasse o objeto à sua frente, quem fez zoom e quem preferiu a distância (des)contextualizadora. Beatriz Vilhena, Lucília Monteiro, Paulo Serafim, Pedro Ferreira e Sebastiano Raimondo mostram o que viram – sempre diferente. Museu de São Roque > Lg. Trindade Coelho, Lisboa > até 13 abr, ter-dom 10h-12h, 13h30-18 > grátis
14. Pomar e Bordalo. Assemblages

Uma cabeça de porco preto com uma abelha na testa? Um boi que cospe um peixe, uma vespa, uma galinha de pernas para o ar? Estes seres híbridos, criados com cerâmica e humor absurdo, integram Pomar e Bordalo. Assemblages, exposição ressuscitadora de experiências. Em 2005, a Galeria Ratton convidou Júlio Pomar a visitar a Fábrica Bordallo Pinheiro e a criar um conjunto de peças únicas, feitas com base nos moldes originais de Bordalo. Gatos, galinhas, porcos, touros, peixes, caranguejos e couves, este é o bestiário que o artista plástico subverteu, desordenando moldes e peças, reinventando o património bordaliano. Museu Bordalo Pinheiro > Campo Grande, 382, Lisboa > até 22 jun, ter-dom 10h-18h > grátis
15. O Brasil são muitos: um recorte da coleção do Instituto PIPA

Primeira mostra internacional da The PIPA Foundation e do seu prémio associado, O Brasil são muitos: um recorte da coleção do Instituto PIPA é uma embaixada de obras, colhidas num acervo construído nos últimos 15 anos, atento aos conflitos culturais e às polarizações políticas vividas no Brasil. Entre os 19 artistas apresentados, estão nomes reconhecíveis pelo público português: Paulo Nazareth, Letícia Ramos, ou Guerreiro do Divino Amor. Mas há outros a descobrir, por entre obras dedicadas ao colonialismo, sátira política e experimentalismo: veja-se a instalação de Sofia Borges que revela os sorrisos desformes de membros do senado brasileiro após o impeachment a Dilma Rouseff; ou as fotografias da comunidade Guarani Mbyá captadas pelo artista indígena Xadalu Tupã Jekupé… Torreão Nascente da Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > até 15 jun, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
16. JR: Through My Window
A Galeria Underdogs acolhe, nesta primeira exposição do artista francês JR em Lisboa, 36 litografias (e dois trabalhos originais, um realizado em Paris, outro em Filadélfia). São os últimos exemplares que o artista minerou no arquivo de edições, limitadas a 180 ou 250 exemplares. Aqui, cada litografia tem um QR code para ouvir o comentário áudio do artista. Como o da obra Empreinte, Chauvet, France (2023): “Fiz da minha mão uma grande escultura, que instalámos na abertura da cave Chauvet nas montanhas. Esta ideia de handprint veio do desejo de deixar uma marca na sociedade.

JR: Through My Window é uma minirretrospetiva: observam-se as obras de megaprestidigitação que são JR au Louvre et le Secret de la Grande Pyramide (2019), com a pirâmide de vidro de I. M. Pei “escavada” no meio da praça; ou Retour à la Caverne – Acte I, 7 Septembre 2023, 06h52, Palais Garnier, France (2023), com a fachada “esventrada” da Ópera de Paris; ou ainda Giants, Rising Up, Hong Kong, China (2023), o salto acrobático do gigante sobre o skyline da metrópole… Mas também estão os olhos expressivos de Women Are Heroes (2008), projeto realizado nas favelas do Rio de Janeiro. Galeria Underdogs > R. Fernando Palha, Armazém 56, Lisboa > até 19 abr, ter-sáb 14h-19h > grátis
17. Paula Rego e Adriana Varejão. Entre os Vossos Dentes
Por entre a brancura nua da cenografia da exposição, pulsa um primeiro espaço forrado a papel de parede vermelhão, potenciador da domesticidade e da visceralidade emanantes da primeira exposição conjunta de Paula Rego (1935-2022) e Adriana Varejão (nascida em 1964) em Portugal, evocativa da mostra realizada em 2017 no Rio de Janeiro. Neste casulo-miasma – apelidado Fui Terra, Fui Ventre, Fui Vela Rasgada – estão algumas das obras paradigmáticas patentes em Paula Rego e Adriana Varejão. Entre os Vossos Dentes.

Esta sala é a salva com que se inaugura uma peregrinação por obras que esgravatam corpos cicatrizados pelo patriarcado, colonialismo, repressão, dores da condição feminina, políticas da História. Como Tríptico (1998), a série sobre o aborto de Paula Rego, aqui em diálogo com as instalações apresentadas por Adriana na Bienal de São Paulo de 1994, como Extirpação do Mal por Overdose com maca e bolsas de transfusão de sangue incluídas.
As diferenças entre as duas artistas são claras: a visceralidade de Varejão, as alegorias eivadas de folclores de Rego. Mas, aqui, acontece magia. “São dois percursos paralelos, coexistindo durante três décadas, que se entrelaçam e criam [aqui] espaços de luz entre trabalhos”, refere a curadora Helena de Freitas. Centro de Arte Moderna Gulbenkian > R. Dr. Nicolau Bettencourt, R. Marquês de Fronteira e R. Marquês Sá da Bandeira, Lisboa > até 22 set, qua-sex, dom-seg 10h-18h, sáb 10h-21h > €8 a €14, grátis dom a partir das 14h