Não raras vezes, tomamos como garantidos direitos e liberdades que nem sempre estiveram assegurados. Por exemplo: o divórcio, o salário mínimo, o subsídio de férias e de Natal. Muitos jovens ficarão surpreendidos se ouvirem dizer que, em 1970, em Portugal, mais de metade das casas não tinham duche nem água canalizada e que quase metade não tinha instalações sanitárias (42%).
Os dados foram recolhidos pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) para a série de minidocumentários E depois da Revolução? dirigida aqueles que nasceram depois do 25 de Abril, e concretamente após a adesão à então CEE, “que não têm viva a memória dos acontecimentos que acabaram com 48 anos de regime autoritário, dando início a um processo de transição democrática”, diz Teresa Mourão-Ferreira, diretora-geral da FFMS.
A primeira temporada, composta por quatro episódios de cerca de 20 minutos, pode ser vista no canal de Youtube da Fundação Francisco Manuel dos Santos, e no site da FFMS (até à data, estão disponíveis dois episódios) e na RTP Play. Os minidocumentários serão exibidos também na RTP3, nos dias 8, 15 e 22 abril (o primeiro passou no dia 1), pelas 22h30.
Mas os avanços em Portugal deram-se em muitas outras áreas nestes últimos 50 anos. “Com estes minidocumentários, gostaríamos de contribuir para que os jovens portugueses aprofundem o conhecimento que têm da história recente do País e o papel que a democracia teve para a construção da nossa sociedade”, salienta Teresa Mourão-Ferreira.
Para tal, convidaram-se uma série de especialistas em várias àreas e nomes da sociedade civil que, de uma forma descontraída e com linguagem acessível, ajudam a “enquadrar o muito que se alcançou ao longo destas cinco décadas, do que falta ainda fazer e dos desafios para o futuro”. Toda a produção envolveu o acompanhamento de consultores científicos, desde investigadores, demógrafos, economistas e cientistas políticos.
O primeiro episódio, E depois da Revolução: que democracia construímos, é dedicado ao tema da política e tem a participação da rapper Capicua, do humorista Ricardo Araújo Pereira, de Pedro Magalhães, cientista político, António Costa Pinto, investigador do ICS-ULisboa, José Santana Pereira, investigador do ISCTE-IUL, Leonor Beleza, presidente da Fundação Champalimaud, do constitucionalista Rui Medeiros, e de Susana Coroado, investigadora da Universidade de Antuérpia.
O que conquistaram as mulheres desde o 25 de Abril, como evoluiu a demografia (Somos mais ou menos?) e a Economia em Portugal são os temas abordados nos restantes três episódios.
A série E depois da Revolução? faz parte de um trabalho que a Fundação Francisco Manuel dos Santos tem vindo a desenvolver e que começou com a conferência Cinco Décadas de Democracia no Quartel do Carmo, em Lisboa, ainda em 2023. Inclui ainda a produção de livros, de um documentário e de um conjunto de infografias da Pordata.
Uma segunda temporada da série, também com quatro episódios, está já em produção e debruçar-se-á sobre a família, a educação e o mercado de trabalho, hábitos culturais, saúde e qualidade de vida. Entre os convidados estão, entre outros, a cantora Manuela Azevedo dos Clã, o escritor João Tordo, o artista Bordalo II, o ilustrador André Carrilho, a economista Ana Balcão Reis ou Céu Mateus, economista da saúde e professora na Universidade de Lancaster.
Alguns dados descritos na série E depois da Revolução?
O que conquistaram as mulheres? Antes do 25 de Abril, a mulher não podia viajar sem a autorização do marido; o marido abria a correspondência pessoal da mulher. O divórcio só foi permitido em 1975. O direito universal ao voto, a licença de maternidade alargada para 90 dias, o acesso a novas carreiras profissionais, todas estas conquistas apenas foram feitas em democracia. No Estado Novo, por exemplo, uma mulher não podia ser diplomata ou juíza. Atualmente, mais de 60% dos juízes em Portugal são mulheres.
Como evoluímos na saúde? A esperança média de vida da população portuguesa era de 68 anos em 1974 e é hoje de 81. Não existia o Serviço Nacional de Saúde. Portugal era o país da União Europeia onde mais crianças morriam com menos de um ano. Em 2021, Portugal ocupava o top cinco dos países com menor taxa de mortalidade infantil (2,4‰, sendo a média europeia de 3,2‰).
E na educação? Uma das maiores conquistas do 25 de Abril foi a democratização do acesso ao ensino. Em 1970, um quarto da população era analfabeta (25,6%) e menos de 1% da população tinha o ensino superior (não chegavam a 50 mil pessoas). Atualmente, praticamente 20% da população é licenciada, são quase 2 milhões de pessoas (60% são mulheres).
E depois da Revolução? > 4 episódios > Canal de Youtube e no site da Fundação Francisco Manuel dos Santos > Os minidocumentários serão exibidos também na RTP3 nos dias 8, 15 e 22 abril (o primeiro passou no dia 1), sempre à segunda-feira, pelas 22h30, ficando depois disponíveis na RTP Play