Desde 2004, com a estreia do espetáculo Para Além do Tejo, o Teatro Meridional tem feito uma espécie de viagem poética por Portugal. O chamado Projeto Províncias já o levou ao Alentejo, a Trás-os-Montes, ao Minho e aos Açores.
A declaração de intenções escrita para o espetáculo Por Detrás dos Montes, de 2006, continua completamente atual e certeira para contextualizar a nova peça, Al_Gharb, dedicada ao Algarve: “Não tivemos a veleidade de sustentar o trabalho numa recolha de informação antropológica, histórica, narrativa, mas antes deixarmo-nos contaminar por isso tudo e pela observação sensorial, pelas sonoridades, pela paisagem, pelos sotaques, pela musicalidade, pelos rostos e pelas estórias”, esclareciam. “Formulámos então, subjetivamente, a forma como fomos tocados pelo Espírito do Lugar; o que escolhemos tornar narrativa cénica, primeiro intuída, e depois encontrada nos corpos e no entendimento dos criadores.”
Mais uma vez, Natália Luiza dedicou-se intensivamente a estudar as várias dimensões duma região, indo da História às estatísticas mais recentes, das tradições às rotinas contemporâneas. Mas desse estudo não nasce um texto, uma narrativa minimamente descritiva ou etnográfica, uma clássica peça de teatro.
A partir desse material, o encenador e o grupo de atores criam com total liberdade um espetáculo que dilui fronteiras entre teatro, dança contemporânea e poesia. Muitas vezes, quase sempre, não é óbvio em palco o prévio trabalho de formiguinha de Natália Luiza, mas sem ele não haveria alicerce para o que se vê.
Neste caso, temos o Algarve como terra de muitas chegadas e partidas (não faltam laranjas e uma quilha de um barco, como discretos símbolos) e as coreografias de férias que todos (re)conhecemos, seja na colocação de toalhas na praia (a lembrar o humor de Tati), seja na animação noturna, entre seduções e figuras tristes. — Pedro Dias de Almeida
Al_Gharb > Teatro Meridional > R. do Açúcar, Beco da Mitra, 64, Lisboa > T. 91 999 1213 > 9 nov-17 dez, qui-sáb 21h, dom 16h > €12