Quem entrar na Central Tejo vai encontrar um outro museu. É feito de cartazes em que posam homens. Alguns exibem-se em pose orgulhosa, outros de forma descontraída, outros ainda reportam a figura do trabalhador pobre, de pele curtida pelo sol. O título da instalação, Cartazes para o Museu do Homem do Nordeste, é elucidativo e remete para o museu etnográfico brasileiro, criado no Recife nos anos 70 pelo sociólogo Gilberto Freyre.
A peça, que foi uma encomenda para a Kunsthalle Lissabon, em 2013, integra agora a primeira exposição monográfica de Jonathas de Andrade em Portugal; não está ligada ao tal museu, mas pega na sua denominação para implodir estereótipos e explorar, de forma subversiva, a identidade masculina. “Sempre tive interesse em entender o que há de invisível no Brasil do dia a dia, em olhar para essa massa de pessoas que muitas vezes passam desapercebidas nas grandes cidades, que são feitas para todos mas, infelizmente, numa lógica de ‘para poucos’”, explica.

Partindo da sua condição de artista, e de homem homossexual, Jonathas de Andrade utiliza a fotografia, a instalação e o vídeo para explorar questões sociopolíticas, como a diferença de classes, o racismo, o sexismo e outras formas de exclusão que nos últimos anos, lembra, “foram acolhidas por um projeto destrutivo [o Brasil de Bolsonaro]”: “Depois de anos tenebrosos, é preciso voltar a olhar para o poder da coletividade em toda a sua diferença.”
Na Sala das Caldeiras da Central Tejo, até ao final de abril, entre dez trabalhos desenvolvidos em processos colaborativos nos últimos dez anos, está Olho-Faísca, a dar título à exposição. Uma obra inédita que é talvez a mais pessoal do artista nascido em 1982, em Maceió, e que representou o Brasil na última Bienal de Veneza: uma série de 68 peças de roupa interior embaladas a vácuo pertencentes aos amantes que teve ao longo dos anos. “Diante desses tempos, e eu que adoro a ambiguidade como estratégia, achei que era importante posicionar-me mais claramente e trazer a minha própria história”.

Olho-Faísca > MAAT – Museu de Arte, Tecnologia e Arquitetura > Av. Brasília, Lisboa > até 30 abr, qua-seg 10h-19h > €9 (Central Tejo + MAAT), grátis 1º dom do mês