Enquanto objetos inanimados, surpreendem-nos pela capacidade de criar a ilusão de vida própria. “As marionetas são pródigas em romper o derradeiro reduto binário, do morto e do vivo, e em desafiar esta ordem natural”, aponta Igor Gandra, o diretor artístico do FIMP – Festival Internacional de Marionetas do Porto. Uma parte significativa dos espetáculos do programa desta 33ª edição reflete sobre a “ideia de objeto inanimado passível de ser animado e de se tornar vivo, pelo menos percecionado como tal”. Assim fica concluído o tríptico dedicado às ciências e à política, com a apresentação de 14 propostas, “muito diferentes, muito pertinentes, carregadas de poesia e de inquietação”.
É o caso de Still Life (dias 7 e 8, Teatro Rivoli), dirigido pelo jovem encenador Tin Grabnar, do Teatro de Marionetas de Ljubljana, que recorre a coelhos embalsamados e a cenários ultrarrealistas para levantar questões sobre a nossa relação com a Natureza e os animais. De regresso ao Porto está o espanhol Xavier Bobés, um artista singular, que apresenta Corpus (dias 8 e 9, Teatro Campo Alegre), com um dispositivo para ser apreciado por um público reduzido, em que constrói uma paisagem em tempo real.
O festival acolhe também Maiakovski – O Regresso do Futuro (dia 12, Teatro Carlos Alberto), cocriação do Teatro de Ferro e Teatro de Marionetas do Porto, à volta do universo futurista do poeta e dramaturgo soviético. Já em Cuckoo (dias 13 e 14, Teatro Rivoli), que Gandra diz “desejar programar há uma série de anos”, o sul-coreano Jaha Koo contracena com uma panela elétrica de fazer arroz e fala dos efeitos da grande crise económica na sua geração. Visualmente impactante será o espetáculo Hic Sunt Dracones (Constantino Nery, dia 14), do Theatre Continuo, da Chéquia, com quatro intérpretes/ bailarinas/ marionetistas a protagonizar “prodigiosas metamorfoses dos corpos e das matérias.
A fechar o programa, está Cómo Convertirse en Piedra (dias 15 e 16, Teatro Carlos Alberto), da dramaturga e encenadora chilena Manuela Infante, uma “peça mineral”, potente e intensa, que “examina a sintonia entre formações geológicas e corpos operários, as histórias partilhadas de extração e exaustão”. Como é habitual, o FIMP contará ainda com workshops (os wop), work in progress (os wip) e masterclasses, para artistas e público em geral.
Festival Internacional de Marionetas do Porto > Rivoli, Teatro Campo Alegre, Teatro Carlos Alberto, Teatro Constantino Nery, Coliseu Porto Ageas, Teatro de Belomonte, Teatro Helena Sá e Costa, ESMAE, Metro do Porto, Jardim da Cordoaria, sede do Teatro de Ferro, no Porto, e Teatro Constantino Nery, em Matosinhos > 7-16 out > T. 22 332 0491 > grátis a €10 > programa completo em 2022.fimp.pt/pt/programa#/