Há fotografias de família, excertos de cartas, alguns postais enviados a amigos, e experiências de linogravura, intensas e cruas. À entrada, quase tudo é a preto e branco, alinhado em dois níveis, nesta exposição dedicada a Maria Antónia Leite Siza (1940-1973), inaugurada na Biblioteca de Serralves. É a celebração duma vida breve, a partir de 100 desenhos doados pelo seu marido, o arquiteto Siza Vieira, de uma figura “talentosa e enigmática”, com um extenso e inesperado trabalho ainda pouco conhecido.
Com esta doação “amplia-se a visão sobre a artista”, tornando-a “mais eclética, mais madura, mais abrangente, e com diferentes perspetivas”, resume o curador António Choupina, que passou meses a ver este legado de personagens inquietantes ou contorcidas, com o enfoque em figuras femininas, que cruzam o universo doméstico e onírico da artista. Maria Antónia desenhava “de forma espontânea, muito rápida, e a composição é sempre impecável; ocupa a página com uma segurança total, sem desequilíbrios”, diz Siza Vieira, durante uma visita à exposição, “e isso é uma qualidade de poucos, como Picasso, por exemplo”.
Na exposição 50 Anos Depois, que percorre uma década – os anos 60, do século passado –, adota-se a biografia como fio condutor, e organizam-se os desenhos em oito sequências. Ao seu lado, encontra-se ainda uma série de fragmentos de cartas, reproduzidos na parede. Entre eles, podemos ler: “Bem, isto já chega e sobra para fazer brotar toda uma selva literária, cheia das mais belas tradições.”
Choupina quis, assim, “dar voz à própria” artista e revelar intimidades de Tótó, como era carinhosamente tratada pela família. Há ainda uma série de linogravuras, bordados, uma placa de linóleo e dois retratos (de Laura Soutinho, amiga de longa data de Maria Antónia, e de uma modelo). António Choupina fala de “32 anos de vida, que parecem curtos, mas foram anos fabulosos”.
Museu de Serralves > R. D. João de Castro, 210, Porto > T. 22 615 6500 > 8 set- mar 2023 > seg-sex 10h-19h, sáb-dom 10h-20h > grátis