Algumas frases podem ser lidas ainda do lado de fora, na montra do edifício que durante tantos anos foi a sede do jornal Diário de Notícias. E é assim que se apanham os desprevenidos que passam pelo número 266 da Avenida da Liberdade, perto do Marquês de Pombal, quase como no tempo da outra senhora se apanhava quem punha em causa a relação com as autoridades.
São “frases relevantes”, nota José Pacheco Pereira, o homem que está à frente do Arquivo Ephemera e por detrás da exposição Proibido por Inconveniente. Frases que demonstram como a Censura, em Portugal, era para lá da política. “Entre a Oposição havia a tese de que a Censura eram uns coronéis pouco cultos, mas eles tinham campainhas na cabeça que tocavam sobretudo quando era algo inconveniente”, lembra o historiador, ele próprio censurado em várias ocasiões. “A Censura era de tudo o que punha em causa as relações com as autoridades, fosse o que fosse.”
Tudo o que representava desrespeito, na verdade. “Isso os censores faziam muito bem. Era fácil enganá-los no plano político – não se podia escrever Zeca Afonso, escrevia-se Osnofa Acez, e Karl Marx era Carlos Marques”, exemplifica, “mas o que pusesse em causa a hierarquia do País… Tudo o que perturbava a hierarquia e o respeito fazia tocar as tais campainhas.”
É por essa razão que os censores são particularmente violentos com autores como José Vilhena, acredita Pacheco Pereira. “O despacho que temos na exposição é um despacho furioso; percebemos que os censores passam-se. É o melhor exemplo desta Censura do respeitinho.”
Livros e os despachos sobre eles, cortes da Censura nos periódicos, a Censura na publicidade, nos filmes e nas músicas – há de tudo um pouco nesta exposição comissariada por Júlia Leitão de Barros e Carlos Simões Nuno e inserida no programa Abril em Lisboa. Material mais do que o suficiente para se perceber que se cortava sistematicamente tudo o que gerasse comoção. “Era uma espécie de campânula sobre o País”, compara Pacheco Pereira. “A ideia era de um país que não se emocionava.”
Proibido por Inconveniente > Edifício Diário de Notícias > Av. Liberdade, 266, Lisboa > até 27 abr, seg-dom 11h-18h > grátis