Cinco anos depois da reabertura, a festa volta ao Cinema Trindade. Durante 12 dias, haverá 38 filmes para ver na sala portuense e sessões com a presença de realizadores, num programa que dará uma atenção especial ao trabalho dos cineastas Miranda July e Yuri Ancarami, e à cinematografia contemporânea do Rússia e do Brasil. “O aniversário é uma forma de assinalar a reabertura de uma sala importante na cidade, que tem um papel mobilizador e permite atrair novos públicos”, descreve Américo Santos, fundador da Nitrato Filmes e responsável pelo Cinema Trindade que reabriu em 2017 depois de encerrado durante 17 anos.
Neste sábado, 5, o público terá um Dia de Abertura com a projeção de três filmes do Porto, para percorrer a cidade. Em Distopia, de Tiago Afonso (às 15h), acompanha-se a mudança do tecido social ao longo de 13 anos, através de demolições, expulsões e realojamentos que mudaram a vida da comunidade cigana do Bacelo, dos moradores do Bairro do Aleixo e dos vendedores da Feira da Vandoma.

Seguem-se A Nossa Terra, o Nosso Altar, de André Guiomar (18h30), que testemunha as últimas rotinas do quotidiano e a tensão no Bairro do Aleixo, e Mar Infinito, de Carlos Amaral (22h), que acompanha a viagem de um homem para um novo planeta. “São três produções feitas no Porto e sobre o Porto, reunidas no programa para chamar a atenção e dar visibilidade ao cinema da cidade”, continua Américo Santos. Cada sessão contará com a presença do realizador e da respetiva equipa, que apresentarão o filme.
Já no programa Expectativa 22 procurou-se selecionar filmes de diversas geografias e dos melhores realizadores que, diz Américo Santos, certamente vão marcar a primavera e o verão nas salas. Apresentados nesta festa em antestreia encontram-se propostas como A Pior Pessoa do Mundo, de Joachim Trier (6 fev, dom 21h45), que conquistou o prémio Melhor Atriz no Festival de Cannes 2021; Swimming Out Till The Sea Turns Blue, de Jia Zhang-Ke (8 fev, ter 19h30), um documentário que integrou a Seleção Oficial do Festival de Berlim, em 2020; Um Herói (12 fev, sáb 21h45), do iraniano Asghar Farhadi, Grande Prémio do Júri, também em Cannes; Vortex, de Gaspar Noé (15 fev, ter 21h45), com Françoise Lebrun e Dario Argento nos papeis principais; e em estreia nacional, A Rapariga e a Aranha, de Ramon Zürcher e Silvan Zürcher (16 fev, qua 21h45).

No eixo dedicado às cinematografias em evidência, relativamente ao Brasil, através de uma seleção de sete filmes, procurou-se “um contraponto entre o arrojo do cinema emergente e o cinema de autores consagrados. Entre eles poderá ver-se, em estreia nacional, Marinheiro das Montanhas, de Karim Ainouz (9 fev, qua 19h30). Já no segmento “Da Rússia com Amor” propõe-se “um possível olhar sobre o cinema russo contemporâneo” através de três filmes que abordam temas como o isolamento social, a sexualidade e as condições de trabalho.
No programa de cinema português cruzam-se filmes novos e resgatam-se obras marcantes como A Criança, de Marguerite de Hillerin Félix Dutilloy-Liégeois (7 fev, seg 21h45) ou A Arte da Memória, de Rodrigo Areias (11 fev, sex 20h). Na primeira sessão estarão presentes o produtor Paulo Branco e a atriz Inês Pires Tavares, enquanto que na segunda o realizador Rodrigo Areias conversará com Miguel von Hafe Pérez. “Não pretendemos apenas exibir filmes, mas associar a projeção a outras atividades e valorizar as produções”, nota o responsável. Nelas inclui-se a conversa com produtores, realizadores e atores, que, além de valorizar uma sessão permite ao público ter uma participação mais ativa. O histórico cinema da baixa do Porto entrou definitivamente no circuito cultural. “O Trindade mudou o paradigma da exibição de cinema na cidade”, uma vez que “está aberto diariamente e com dez sessões em média”, reforça Américo Santos.

Neste aniversário, em foco vão estar também dois realizadores: Miranda July, considerada “uma revelação no panorama do cinema independente norte-americano”, da qual poderá ver-se Me and You and Everyone we Know (6 fev, dom 17h30), e Yuri Ancarani, artista visual e cineasta italiano, cujo último filme Atlantide (11 fev, sex 21h45) passará também, em estreia absoluta, no Trindade.
E, por último, uma maratona em oito sessões, dedicada ao filme A Flor, de Mariano Llinás, uma “narrativa surpreendente, única e irrepetível”, sublinha Américo Santos. Com 14 horas de duração, e filmada em todo o mundo, ao longo de uma década, esta odisseia do realizador argentino aborda todos os géneros cinematográficos. “É um filme desconcertante, em oito partes, autónomas, cada uma protagonizada pelas mesmas quatro atrizes.”

5º Aniversário Cinema Trindade > R. do Almada, 412, Porto > T. 22 316 2425 > 5-16 fev > €6